Por Fagner Dalbem Mapa, CSsR
Nosso corpo não pode ser apenas o
lugar da necessidade, ou dos impulsos. Ele é o lugar do desejo e do amor. Mas, para
que um indivíduo entre nessa dinâmica é preciso tempo. Tempo para passar pelas
etapas da experiência afetivo-sexual.
A adolescência, por exemplo, deveria ser
o tempo da “espera”, tempo do desejo que orienta para o futuro. Depois viria o
tempo da “gradação”, que são graus e níveis de intimidade que aos poucos vão se
aprofundando, desde o aperto de mão à cópula. Diversos tipos de beijos, de
carícias vão tendo o seu lugar ao longo do tempo. É uma arte saber saborear
cada etapa, e quem as queima não conhece a maravilha do encontro e não conhece
realmente o seu parceiro ou parceira. Uma simples mão que se dá ou um gesto, ou
um olhar, tem o seu lugar especial na relação. E finalmente “a duração”: Uma
união verdadeira só se constrói na duração. Os gestos sexuais só são de ternura
dentro de um contexto de duração, pois fora dele apenas são símbolos de emoção
passageira e satisfação afetiva.
É
claro que devemos considerar que a temporalidade não é linear, a maturação
afetiva pode exigir uma antecipação ou uma regressão desses momentos para se
estabilizar. Discernir o memento favorável é complicado e bastante delicado, não
podemos esquecer que estamos falando aqui da complexidade temporal humana[1]. Essa complexidade tem uma
grande expressão na adolescência. É nesse período que se toma consciência da
própria existência, e se vive o “tempo de separação” da infância e da família.
O desejo sexual pode tomar o significado de caminho para fugir da solidão: “Tentativa
e tentação de passar diretamente da afeição parental à afeição amorosa, de uma
forma de ternura para outra, buscando na segunda, o que se acaba de deixar na
primeira [...], [se isso acontece], o eleito desempenha o papel de ‘ursinho de
pelúcia’”[2]. Ser virgem é aceitar a
solidão, ser capaz de esperar. “Nesse sentido, virgindade é liberdade, aptidão
a se dar livre e gratuitamente, e não sob a dependência de uma necessidade
psíquica que impeliria a agarrar-se no outro como em uma boia de salvação”.
Uma
das dinâmicas mais favoráveis para a relação do desejo e do amor é a relação
conjugal. Nela pode nascer um laço mais forte do que o laço de sangue. Essa
ligação do homem com a mulher, chamamos de aliança. “A afirmação de um laço não
só entre sexualidade e amor, mas ainda entre sexualidade e aliança conjugal,
constitui o eixo mais importante do que se pode chamar ética sexual cristã”[3]. A própria relação sexual
encontra a sua plenitude no casamento, porque é nele que se encontra o sentido
ético do cuidado e do sentido teologal. Amar é dar-se e entregar-se. No
contexto conjugal, significa engajar-se em uma relação única com um único
parceiro. É escolher um indivíduo e engajar-se com ele em uma relação
privilegiada, ao amor carnal, o que exige exclusividade e intimidade, é assim
que se descobre a unicidade do outro, é engajando-se em uma relação sem
equivalente. “Dar ao outro [o corpo] é, de certo modo, dar-lhe direito a uma
relação única, a gestos que lhe sejam reservados a uma exclusividade sobre sua
intimidade. ‘A mulher não dispõe de seu corpo, mas o marido. Igualmente, o
marido não dispõe de seu corpo, mas a mulher’ (lCor 7,4)[4].
Geralmente
suspeita-se que o matrimônio subordina o desejo à instituição, o prazer à
ordem, o corpo pessoal ao corpo social. Isso porque a relação entre sexualidade
e instituição é tratada como algo extrínseco, ou seja, algo que não combina.
Além disso, é apresentado como fim único da sexualidade o prazer, e o casamento
a reprodução. A solução que encontramos para reconciliar sexualidade e
instituição é basearmos na constatação de que a sexualidade gravita em torno do
laço, assim sexualidade e casamento passam a ter algo muito em comum e não serem
vistos como puramente extrínsecos. Podemos falar então da aliança, que
significa um laço forte no qual cada um dos parceiros se engaja totalmente,
pois a aliança engaja a um destino comum, é mais forte que uma associação, ela
é vital[5].
A
aliança conjugal faz com que o casal se abra também para a comunidade para a
aliança fraterna, para um corpo mais amplo. A participação no corpo de Cristo é
a maneira mais intensa que o cristão é chamado a viver, em seu coração e em seu
corpo. O matrimônio vivido em sua profundidade e inteireza mostra que o orgasmo
não é o ponto mais alto das relações humanas, mas o dom, e a comunhão com
Cristo[6].
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