Por Fagner Dalbem Mapa, CSsR
Para muitos, e principalmente para os mais pobres, a Igreja serve de casa, de abrigo e de acolhida. A fé apresenta-se como um recurso de nutrição e satisfação. O “ir à Igreja”, ou participar de uma romaria, são uma forma de obter ânimo para a própria vida, de ganhar força para continuar a labuta. A pessoa se sente bem ao entrar ou ir a um lugar que é sagrado, pois é uma maneira de se estruturar. Busca-se a Igreja para pedir por saúde, por prosperidade, por sentido de vida, seja para si mesmo ou para os seus. Assim se constata que um dos motivos que levam à busca pelo transcendente (Deus) é o desejo de “poder”, entendendo “poder” como a capacidade de ultrapassar os próprios limites. Projeta-se em Deus um meio de superar todas as angústias da vida, como a morte por exemplo.
A maioria dos fiéis baseia a fé na “vivência religiosa” e na “experiência do sagrado”. A “vivência religiosa” é caracterizada pela conotação psicológico-emocional. É puramente um encantamento, uma forma de estruturação afetiva. A “experiência do sagrado” é caracterizada por uma pequena mobilização. Ela é um pouco mais elaborada do que uma vivência. A experiência acontece quando se modifica a vida, não é pura emoção. A vivência é um encantamento, algo que parece sublime e faz com que a pessoa se sinta bem. Por exemplo: entrar em um lugar que é considerado sagrado e voltar ali todos os anos, isso pode dar forças para uma pessoa viver, ela sente que essa prática é uma necessidade, pois é estruturante para ela.
Porém cultivar a espiritualidade é deixar-se guiar pelos valores e pelos significados, não pelos sentimentos e moções que são ressonâncias internas (dimensão psicológica). “O espírito nos permite fazer a experiência da profundidade, da captação do simbólico, de mostrar que o que move a vida é um sentido, pois só o espírito é capaz de descobrir um sentido para a existência.”¹ A espiritualidade manifesta-se na busca por valores profundos que regem o ser humano, por isso ela é um modo de ser. “Só quem cultiva a dimensão do espírito, vivenciando a espiritualidade, é capaz de descobrir que a vida não é um fechamento em si mesmo, mas uma abertura ao outro.”² Se o ser humano não busca essa espiritualidade, cai em um mundo vazio e sem sentido.
A busca deve ser a de sair da superfície da fé e entrar na dinâmica da chamada “experiência religiosa”. Esta é caracterizada pela interiorização e reflexão da palavra, levando a mudança de vida, mudança de atitude e abertura ao outro. A experiência religiosa nos possibilita uma fundamentação da origem e do destino da vida a partir do encontro com o transcendente. Ela muda o “caminho”, muda a “trajetória” a partir do encontro.
A busca de milagres, sinais e prodigiosos, geralmente marcam uma fé egoísta e sem compromisso. Viver à espera de milagres é fugir das responsabilidades, fugir da própria história, o que não permite o crescimento humano, pois se vive uma fé imatura.
¹ GIOVANETTI, J. P. Psicologia Existêncial e Espiritualidade. In: AMATUZZI, M. M. Psicologia e Espiritualidade. Campinas: Paulus, 2005. p. 138
² Ibidem. p.139
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