Elas são mães, casadas ou noivas e sustentam a família com o
dinheiro dos programas. Elas ganham bem, recebem de R$ 8 mil a R$ 12 mil
mensais. Estudam, fazem faculdade e todas têm planos para tentar melhorar de
vida.
Bruna*, de 29 anos, não tinha intenção em ser garota de
programa. Sua relação com a prostituição aconteceu por uma "fatalidade da
vida". Aos 14 anos, ela engravidou do ex-marido e teve uma surpresa.
— Quando fomos morar juntos eu descobri que ele era dono de
um prostíbulo. Ou seja, ao mesmo tempo que era mulher dele acabava trabalhando
como prostituta para ajudar na renda familiar. Muita gente nem sequer
desconfiava que eu era menor de idade, porque não tinha corpo de menina.
Com o dinheiro ganho nos programas, Bruna adquiriu
independência financeira e aprendeu a administrar a própria vida. Aos poucos,
ela conseguiu realizar um sonho.
— Sempre quis ser psicóloga. Decidi entrar na faculdade e
paguei todo o curso com o dinheiro dos programas. Foi uma batalha dura, mas
consegui me formar. Na sala, apenas as pessoas mais próximas sabiam da minha
situação.
Formada há oito anos, a jovem diz que tentou trabalhar na
área (psicologia) e até arriscou outras profissões, mas não conseguiu sair da
prostituição.
— Tenho um filho de dez anos e sou casada há quatro [anos].
Eles acham que eu sou gerente de uma casa noturna. Para não correr riscos,
tentei ser vendedora, mexi com telemarketing, mas nenhuma profissão paga o que
recebo hoje, algo em torno de R$ 12 mil.
Internet
A internet também tem facilitado o trabalho dessas garotas
de programa, que encontraram uma maneira mais discreta, segura e eficaz de
anunciar os serviços. Nos perfis de sites de relacionamento elas se definem
como "acompanhantes". Normalmente têm entre 18 e 35 anos e a maioria
tem ou está fazendo algum curso superior. O valor médio da hora é de R$ 280,
dependendo do dia, horário e situação.
Para essas mulheres, que não podem mostrar a vida
profissional aos familiares, a rede virtual trouxe segurança e privacidade.
Elas conseguem mostrar o corpo sem divulgar o rosto e usam emails e números
diferentes dos que a família e amigos próximos conhecem. Desta forma, fica mais
fácil conciliar a prostituição, estudos e a vida pessoal.
É o caso de Camila*, de 28 anos. A jovem mantém seu anúncio
virtual em sites especializados de Brasília e tem a própria página pessoal. Ela
formou-se em administração de empresas no meio do ano e acredita que a formação
trouxe clientes mais exigentes, refinados e requintados.
— Eles pagam mais pela hora e nem sempre é preciso fazer
sexo. Às vezes, quem me procura quer apenas uma companhia, um bom bate-papo.
Tenho uma excelente qualidade de vida, falo vários idiomas. Paguei toda minha
faculdade com o dinheiro da prostituição. Consegui comprar meu carro, alguns
objetos de valor e faço viagens com frequência, para diversos lugares do mundo.
Também faço aplicação mensal do meu dinheiro para que ele nunca falte. Tenho
uma vida digna.
Apesar de estar bem-sucedida neste momento na vida
profissional, Camila contou à reportagem do R7 que tem como meta passar em
algum concurso público até o fim do ano.
— Continuo atendendo aos meus clientes e faço cursinho.
Preciso ter um excelente emprego garantido para sair da prostituição, até
porque tenho uma filha de três anos e um marido que nem sonham que trabalho com
isso.
A estudante de educação física Eloísa*, de 23 anos, conta
que iniciou no mundo da prostituição para se "vingar" do ex-namorado.
— Tinha 18 anos e namorava há cinco, quando descobri que
estava sendo traída. Por vingança, decidi traí-lo também e acabei virando
garota de programa. Hoje vivo disso, é minha principal fonte de renda. Pago
minha faculdade e tenho uma qualidade de vida que é para poucos.
Mas Eloísa tem planos altos para o futuro. A moça diz que
pretende largar a prostituição quando se formar, porque vai abrir o próprio
negócio.
— Vou abrir minha academia e mudar de vida. Estou noiva e
ele não sabe disso. Ainda não temos previsão para o casório, mas moramos
juntos. Quando oficializarmos tudo, eu digo adeus de uma vez por todas para
essa vida.
A exemplo de Eloísa, a psicóloga Bruna também pretende
deixar a prostituição. Ela reconhece que o sucesso é temporário e que se não
tiver um plano B pode passar por apertos no futuro.
— Não dá para ficar para sempre, meu corpo não aguentaria.
Para ter um futuro garantido estou guardando dinheiro, fazendo bons
investimentos e aplicações. Uma hora eu paro, sim, espero que não demore tanto
tempo. Tenho medo que meu filho e marido descubram, então não posso vacilar.
Fonte: noticias.r7.com
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