Como explicar para uma menina de
12 anos que ela pode ser assediada sexualmente? Que ela pode ser estuprada se
andar sozinha à noite na rua? Que ela é socialmente inferior a um homem só por
ser mulher?
Tenho uma irmã de 12 anos e, numa
noite dessas, estávamos eu, ela e meus pais trocando umas ideias e chegamos ao
assunto: assédio sexual no espaço público.
Comecei a alertá-la: Você vai
ouvir coisas nada agradáveis de homens que se sentem no direito de acabar com a
paz de uma mulher pra "elogiá-la". Dei algumas dicas: ande sempre de
fone de ouvido pra tentar não ouvir coisas nojentas e ofensivas, responda quando
achar que deve - mas pense que, em algumas situações, responder pode ser
perigoso.
E daí, no meio do meu discurso,
me liguei: cara, eu não deveria precisar fazer isso! Nenhuma mulher deveria
ouvir avisos ou instruções de segurança caso seja assediada! Nenhuma mulher
deveria ser assediada.
Lembro que eu tinha uns 6 anos
quando um menino, que deveria ter a mesma idade que eu, passou a mão na minha
bunda. O sujeito desde cedo foi educado a ser babaca e eu, a ter medo. Não fiz
nada: fiquei assustada e envergonhada.
Aquilo não foi uma brincadeira de
criança, foi a reprodução de atitudes adultas, de um comportamento machista e
opressor. Os homens não nascem machistas, aprendem a ser.
Ao trabalhar numa pesquisa
realizada pela Énois, sobre como o machismo e a violência contra a mulher
atingem as meninas das periferias do Brasil, tive a oportunidade de ouvir
histórias de 7 meninas, que contaram, em um vídeo (veja o resultado abaixo),
situações machistas que viveram. Ali, tive a dimensão do problema: o machismo
atrapalha a vida de uma mulher com muito mais força do que eu poderia pensar.
O machismo faz uma mulher ser
assediada na rua, tira dela oportunidades de emprego, de descobertas, acaba com
a nossa autoestima, nossa segurança. Ele nos tira o direito de ir e vir. Tira
nossa paz.
Quando mostrei o vídeo pro meu
pai, ele disse: Aprendi muito com isso. Quando mostrei para a minha irmã,
infelizmente, ela se identificou com algumas partes. E não foi só ela. Exibimos
esse vídeo durante o Seminário Internacional Cultura da Violência contra as
Mulheres e ouvimos risos envergonhados da plateia sobre situações descritas
pelas jovens entrevistadas.
Enquanto as mulheres se
identificarem e viverem situações machistas e os homens ainda tiverem que
aprender com as histórias, precisaremos do feminismo, da militância,
precisaremos, mais do que nunca, umas das outras.
Por isso, lançamos pela Énois a
campanha #meninapodetudo, porque acreditamos que, sim, podemos tudo e podemos
chegar onde quisermos. Convido você a acessar nossa pesquisa na íntegra, a
assistir ao vídeo e a contar sua história nas redes sociais. Não esqueça, use a
hashtag #meninapodetudo pra gente poder te encontrar .
Fonte: Brasil Post
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