Outro dia, enquanto assistia
televisão, vi uma propaganda de gás de cozinha. Prestei atenção porque nunca
tinha visto aquela, onde aparecem apenas inúmeras mulheres cozinhando e no fim
o slogan da marca. Fiquei revoltada! Por que mostrar só as mulheres cozinhando?
Óbvio! (pensei), porque os estereótipos sexistas nos colocam como as rainhas do
lar, aquelas que naturalmente sabem cozinhar e realizar todos os outros
afazeres domésticos. Indignada, xinguei a propaganda de machista e meu namorado
fez uma cara de: “que desnecessária essa tua indignação”.
Por Maiara Amante Do Blogueiras
Feministas
Fiquei impressionada com a
conduta dele, porque temos um relacionamento muito bom e, aos poucos, ele foi
aprendendo que viver em conjunto é saber compartilhar as tarefas. A primeira
vez que almocei na casa dele, após o fim da comida, as mulheres foram para a
cozinha e todos os homens permaneceram na mesa, ele também. Nesse momento, fui
muito contundente e falei que ajudaria a mãe dele, não porque sou mulher, mas
porque sou educada e disse que esperava o mesmo dele. Ele se levantou e secou a
louça.
Desde o início mostrei que, sim,
sou feminista, e que nosso relacionamento seria baseado na igualdade. Ele e eu
somos muito mais companheiros por causa disso. Acredito que revindicar mais a
participação masculina nas tarefas domésticas nos ajuda a desfazer essa imagem
de rainhas do lar. Mas, apenas isso não traz automaticamente a igualdade entre
homens e mulheres. É preciso que as tarefas domésticas sejam vistas como
deveres de todas as pessoas que moram ou trabalham num mesmo ambiente.
Esse episódio me lembrou uma
outra propaganda que vira no dia anterior. Nesta, um homem que não sabia como
cuidar do filho ligava para a mulher, perguntando o que ele deveria fazer para
a criança parar de chorar. A mulher, ao atender o telefone, pedia para ele
colocar a criança mais perto e, ao ouvir o choro, automaticamente ela sabia o
que o menino queria — minha conduta: bati a cabeça na parede (sem força,
claro), na frente do sogro e dos cunhados. É sério!
Fiquei mais uma vez estarrecida
com a falta de criatividade dessas propagandas e com o machismo. Vejo machismo
todos os dias mas as propagandas há muito tempo revoltam-me ainda mais. Porque
todo mundo vê e acha normal, acham que eu (e outras feministas) é que somos as
loucas que se revoltam com tudo.
É propaganda de cerveja, de
produto de limpeza, de mãe, mulher perfeita que sabe arrumar a casa e exerce os
papéis de trabalhadora e escrava do lar, sempre com perfeição e “lindamente”.
Porque mostrar mulheres diferentes não pode. Pode é objetificar, padronizar e
estereotipar. Aquilo tudo que estamos cansadas de ouvir, todos os dias, desde
que nascemos, da nossa família e da sociedade.
Porém, se tem uma coisa que
também me incomoda é o fato de que muitos homens aceitam esse ridículo papel
apresentado pelas propagandas. Qual papel? O papel de incompetentes, de que são
incapazes de cuidar de uma criança, de que não sabem lavar uma roupa ou limpar
uma casa. Sabemos que a grande maioria dos homens não participa ativamente dos
serviços domésticos, só contribuem com aquela “ajuda” esporádica. Mas me
espanta não acharem ruim essa imagem de quem não sabe fazer nada. Meu namorado
não deveria se indignar também e tentar mostrar aos outros o quanto são
preconceituosas essas propagandas?
Pergunto-me: será que os homens
não percebem que, além das propagandas ferirem as mulheres, com esses papéis de
objetos e de sabedoras naturais de tudo o que diz respeito à limpeza e ao
cuidado de crianças, ao mesmo tempo, essas propagandas concluem que todos os
homens são uns idiotas, loucos por corpos femininos, que não sabem cuidar de
uma casa ou de filhos? Como podem ficar satisfeitos em serem retratados dessa
maneira? Por esses motivos, fico mesmo revoltada!
Fonte: Geledes
Nenhum comentário:
Postar um comentário