Em se tratando de políticas sobre assédio moral e violência
contra mulheres, e da forma como lidam com denúncias do tipo, Facebook, Twitter
e YouTube estão reprovados.
É o que indica um levantamento do Programa para o
Direito das Mulheres da Associação para a Comunicação Progressiva (APC, na
sigla em inglês) que examinou o modo como cada plataforma trata o tema em suas
políticas e canais de comunicação. Durante cerca de quatro meses, os
pesquisadores revisaram as diretrizes das redes, bem como o desenvolvimento de
legislações sobre o tema em quatro países específicos: EUA, Canadá, África do
Sul e Nova Zelândia.
— Acreditamos que seria importante descobrir até que ponto
eles reconhecem e oferecem respostas adequadas sobre a violência on-line contra
as mulheres — afirma Sara Baker, integrante da APC e coordenadora da campanha
“Take Back the Tech”, criada para encorajar usuários, especialmente mulheres, a
compartilhar suas experiências de assédio na internet e denunciar abusos nas
redes sociais.
Apesar dos detalhes das conclusões prévias do levantamento
variarem de acordo com a rede social, em geral elas apontam que os sites
relutam em ter uma abordagem mais direta nos casos de assédio ou ameaça de
violência contra as mulheres em seus ambientes digitais, exceto quando esses
episódios começam a prejudicar a reputação das empresas. Também foi observado
que as companhias falham em oferecer informações sobre como as vítimas desses
abusos nas redes devem proceder, e em adotar uma postura transparente sobre
como lidam com tais casos.
INSATISFAÇÃO COM
CANAIS DE DENÚNCIA
Outros pontos percebidos foram a falta de engajamento em
oferecer apoio a usuárias fora da América do Norte e da Europa, além da falta
de um comprometimento público com normas de direitos humanos.
— Temos ouvido queixas de mulheres em todo o mundo sobre a
violência que elas enfrentam on-line, sua insatisfação com os canais de
denúncia e a responsabilidade dos sites — afirma Baker, que diz não ter sido
surpreendida pelas conclusões do levantamento.
Um exemplo de como o assédio em redes sociais pode tomar
contornos perigosos é o da blogueira canadense Anita Sarkeesian. Conhecida por
criticar o machismo e a misoginia nos videogames, ela virou personagem de um
jogo em que o objetivo era marcar uma imagem de seu rosto com pancadas. No fim
do mês passado, após publicar mais um vídeo sobre o assunto, a situação se
tornou insustentável e ela foi obrigada a sair de casa após receber ameaças que
sugeriam que o autor sabia o endereço dela e de seus familiares. Pelo Twitter,
Anita divulgou o teor da violência e desabafou:
“Eu não vou desistir, mas o assédio às mulheres no meio da
tecnologia tem que acabar”, escreveu a blogueira.
A jornalista e criadora do movimento Think Olga, Juliana de
Faria, foi vítima de violência parecida após lançar a campanha “Chega de Fiu
Fiu”. Em setembro do ano passado, o grupo divulgou os resultados de uma
pesquisa com cerca de 8 mil mulheres sobre a percepção feminina sobre as
“cantadas”.
— Em uma semana tivemos uns 3 mil comentários no site, mas
metade era com ameaças — relata Juliana. — De forma anônima, essas pessoas
diziam que nós merecíamos ser estupradas e nos xingavam de todos os nomes.
Na época, lembra Juliana, as ameaças não chegaram a causar
medo, pois ela estava em viagem fora do país, mas o incômodo foi tanto que a
jornalista chegou a perder três quilos:
— É isso que a internet faz. A gente pensa que ela é
inofensiva, mas é um monstro. Ela tem o poder de aproximar as pessoas, para o
bem ou para o mal.
O Think Olga produziu um mapa colaborativo que incentiva
vítimas a denunciarem violências sofridas e mantém um mural de perguntas e
respostas com informações sobre como proceder em casos de assédio on-line.
SITES DIZEM ESTAR
ATENTOS
Em comunicado, Monika Bickert, diretora global de Políticas
Públicas do Facebook, afirma que a empresa “se empenha para garantir que a
comunidade de mais de 1 bilhão de pessoas tenha a melhor experiência possível”.
A rede social incentiva que os usuários denunciem casos de assédio, que são
analisados por uma equipe que “atua 24 horas por dia, 7 dias por semana, em
mais de 20 idiomas”. Já o Twitter informa que quando recebe “uma denúncia de
conteúdo que viola as nossas regras, que incluem proibição de abuso e ameaças
violentas diretas e específicas, nós suspendemos essas contas”. E o Google,
dono do YouTube, diz que as diretrizes do site “proíbem ameaças, assédio,
discurso de ódio e conteúdo que incite à violência”.
Fonte: (Thiago Jansen e Sérgio Matsuura) O Globo
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