Enquanto a festa rola dentro dos estádios, meninas de 16, 14
e até 10 anos são forçadas pelas famílias ou por cafetões a transarem com sei
lá quantos caras por dia para trazer comida para dentro de casa.
Por Nana Queiroz
1. Aumento da exploração sexual de crianças “
Atualmente, meio milhão de crianças* são exploradas sexualmente
e forçadas a trabalhar como “prostitutas infantis” (coloco entre aspas porque a
prostituição exige escolha e menores de 18 anos não podem fazer esse tipo de
escolha por N razões, incluindo a falta de maturidade emocional e sexual). Só
esse dado me dá uma vontade desesperada de chorar – em você não dá? Mas fica
pior: 600 mil visitantes estrangeiros estão chegando ao Brasil nesta semana
para acompanhar os jogos da Copa do Mundo e alguns deles são pessoas doentes
que buscam garotinhas para turismo sexual.
Enquanto a festa rola dentro dos estádios, meninas de 16, 14
e até 10 anos são forçadas pelas famílias ou por cafetões a transarem com sei
lá quantos caras por dia para trazer comida para dentro de casa. E, creio eu,
esta é uma causa que une a todos nós, sejamos a favor ou contra a Copa do Mundo
no Brasil.
Esse é realmente um problema de responsabilidade do poder
público, mas nós também podemos nos tornar fiscais. Se você vir alguma criança
ou adolescente sendo prostituída nas esquinas ao redor dos estádios, ligue 100,
o disque denúncia específico para crimes de exploração sexual de crianças.
2. Exploração da mão de obra feminina
Não precisa dizer que todas essas camisetinhas do Brasil nas
quais você pagou um preço pífio vieram de mão de obra, em sua maioria feminina,
super mal remunerada.
Além disso, as adoráveis baianas que fazem aquele acarajé
que todo mundo ama foram totalmente encurraladas pela Fifa. Se quiserem vender
suas comidinhas e ganhar seu salário, terão que se enquadrar em uma série de
regras ridículas. Além disso, a Fifa limitou o número de baianas que pode
trabalhar na região dos estádios, ou seja: muitas mulheres, neste mês, não
poderão levar o sustento de seus filhos para casa.
3. “Férias” das creches
Mães que dependem de creches públicas já são escravas do
diabo, essa é a verdade. Mas um caso em Brasília me deixou perplexa. Fernanda
Saboia, uma bacharel em direito aqui da capital, ouviu da creche de sua
filhinha de 1 ano e 9 meses que o pessoal vai tirar férias antecipadas durante
os jogos. Ou seja, enquanto a bola rolar, dezenas de mulheres terão que se
virar para arrumar lugar onde deixar seus pequeninos para poderem trabalhar.
Fernanda, que é funcionária do CFEMEA (Centro Feminista de
Estudos e Assessoria), acredita que muitas creches Brasil afora anteciparão as
férias de julho, atrapalhando a agenda de trabalho de milhares de mães.
4. Violação do direito à mobilidade
Quando os governos prometeram melhorar a mobilidade urbana
como um legado da Copa, eles mentiram para todos os brasileiros, mas
prejudicaram principalmente as mulheres. Isso porque as mulheres se locomovem
bem mais que os homens, segundo Renata Florentino, do Rodas da Paz. Elas usam
transporte público não só para ir e vir do trabalho, mas para buscar e levar os
filhos às escolas e ao hospital, por isso, “se lascam” muitas vezes mais.
“Além disso, as mulheres têm uma renda menor que a dos
homens no Brasil e muitas delas não conseguem nem pagar a tarifa dos ônibus, o
que as obriga a fazer longos trajetos a pé”, explica Renata. “Quando falamos do
direito à cidade, não falamos apenas em tarifas baratas. É preciso dar às
mulheres segurança para usar o transporte público, o que não ocorre com a atual
onda de encoxamentos em metrôs e ônibus lotados.”
5. O velho machismo da imprensa esportiva
“Só tem um ambiente mais machista que o futebol: a mídia
esportiva, que explora o corpo da mulher como se fosse um mero objeto sexual.”
Adoro essa frase da pesquisadora da FFLCH USP, Marina Gurgel.
Toda vez que a imprensa foca as bandeirinhas como se fossem
um par de peitos em vez de profissionais, ela está cometendo um tipo de
violência contra a mulher. Quando as câmeras exageram no close em decotes e
shorts curtos, também.
Claro, não há mal nenhum em admirar a beleza feminina, mas
tudo precisa ser feito dentro de certos limites. E tratar mulheres como um
pacote que não tem nada por dentro certamente extrapola esse limites.
* Dados do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil
Fonte: Agência Patrícia Galvão
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