sexta-feira, 13 de junho de 2014

Belo Monte leva índios à prostituição, diz pesquisa


As obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, empurraram os índios da região para dentro do circuito de exploração sexual, de acordo com estudo feito por pesquisadores da UFPA (Universidade Federal do Pará).


O relatório, financiado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e finalizado no mês passado, aponta casos de exploração sexual confirmados ou em investigação entre os povos parakanã, arara da Cachoeira Seca, arara da Volta Grande do Xingu e juruna do Paquiçamba.


Os 25 mil operários na região de Altamira (a 900 km de Belém), cidade mais impactada pelas obras, teriam inchado o município de 99 mil habitantes e aumentado a procura por serviços sexuais.

Nesse contexto, os índios acabaram entrando como vítimas e até como consumidores desses serviços, segundo o estudo “Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no município de Altamira”.

O Ministério Público Federal investiga o problema e quer estabelecer parâmetros para minimizar esse impacto em novas grandes obras.

Segundo relatos da pesquisa, trabalhadores que realizam obras previstas como compensação à construção da hidrelétrica têm ingressado nas terras indígenas e se relacionado com índias.

“A equipe de 15 trabalhadores que estava construindo as casas na aldeia [Laranjal, terra indígena arara] estaria fumando pedra [crack] na aldeia e se relacionando com as índias’”, diz o relatório.

Também há denúncias de pilotos de embarcações que param perto das aldeias e trocam produtos, como xampu, por sexo ou ouro.

A exploração sexual também teria sido estimulada por uma compensação mensal de R$ 30 mil por aldeia, de 2010 a 2012, pela Norte Energia, responsável por Belo Monte.

O pagamento foi efetivado em produtos como gasolina e embarcações, que acabaram sendo vendidos. Segundo o estudo, o dinheiro das vendas provocou um aumento da procura por bebidas alcoólicas e serviços sexuais.

De acordo com o relatório, em 2010, houve 43 casos registrados de abuso sexual de menores no Conselho Tutelar de Altamira. Em 2011, quando começaram as obras, o número subiu para 75.


OUTRO LADO

A Norte Energia, responsável pela hidrelétrica de Belo Monte, diz desconhecer a base de dados da pesquisa e nega aumento nos registros de casos de prostituição, estupro e abuso sexual de crianças e adolescentes.

Segundo a empresa, o Conselho Tutelar de Altamira registrou 180 casos de abuso de menores em 2012 e redução para 120 casos em 2013. A Funai diz não possuir dados oficiais sobre o assunto.

A Norte Energia diz que orienta os operários sobre as condutas que devem ter nas aldeias e que eles assinam um termo de conduta da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Procuradas pela reportagem, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Pará não comentaram o relatório.


Fonte: Folha de São Paulo

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