As obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, empurraram
os índios da região para dentro do circuito de exploração sexual, de acordo com
estudo feito por pesquisadores da UFPA (Universidade Federal do Pará).
O relatório, financiado pela Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência e finalizado no mês passado, aponta casos de exploração sexual
confirmados ou em investigação entre os povos parakanã, arara da Cachoeira
Seca, arara da Volta Grande do Xingu e juruna do Paquiçamba.
Os 25 mil operários na região de Altamira (a 900 km de
Belém), cidade mais impactada pelas obras, teriam inchado o município de 99 mil
habitantes e aumentado a procura por serviços sexuais.
Nesse contexto, os índios acabaram entrando como vítimas e
até como consumidores desses serviços, segundo o estudo “Enfrentamento da
Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no município de Altamira”.
O Ministério Público Federal investiga o problema e quer
estabelecer parâmetros para minimizar esse impacto em novas grandes obras.
Segundo relatos da pesquisa, trabalhadores que realizam
obras previstas como compensação à construção da hidrelétrica têm ingressado
nas terras indígenas e se relacionado com índias.
“A equipe de 15 trabalhadores que estava construindo as
casas na aldeia [Laranjal, terra indígena arara] estaria fumando pedra [crack]
na aldeia e se relacionando com as índias’”, diz o relatório.
Também há denúncias de pilotos de embarcações que param
perto das aldeias e trocam produtos, como xampu, por sexo ou ouro.
A exploração sexual também teria sido estimulada por uma
compensação mensal de R$ 30 mil por aldeia, de 2010 a 2012, pela Norte Energia,
responsável por Belo Monte.
O pagamento foi efetivado em produtos como gasolina e
embarcações, que acabaram sendo vendidos. Segundo o estudo, o dinheiro das
vendas provocou um aumento da procura por bebidas alcoólicas e serviços
sexuais.
De acordo com o relatório, em 2010, houve 43 casos
registrados de abuso sexual de menores no Conselho Tutelar de Altamira. Em
2011, quando começaram as obras, o número subiu para 75.
OUTRO LADO
A Norte Energia, responsável pela hidrelétrica de Belo
Monte, diz desconhecer a base de dados da pesquisa e nega aumento nos registros
de casos de prostituição, estupro e abuso sexual de crianças e adolescentes.
Segundo a empresa, o Conselho Tutelar de Altamira registrou
180 casos de abuso de menores em 2012 e redução para 120 casos em 2013. A Funai
diz não possuir dados oficiais sobre o assunto.
A Norte Energia diz que orienta os operários sobre as
condutas que devem ter nas aldeias e que eles assinam um termo de conduta da
Funai (Fundação Nacional do Índio).
Procuradas pela reportagem, a Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Pará não
comentaram o relatório.
Fonte: Folha de São Paulo
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