O tráfico humano se aproveita de guerras, de epidemias de
fome e do desemprego que assola no mundo, como resultado do neoliberalismo e se
enriquece com a migração forçada de milhares e milhares de pessoas.
Entre as diversas datas que, anualmente, a ONU promove,
nessa semana, especificamente, no dia 23 de maio, celebraremos a solidariedade
com os povos de todos os territórios coloniais e, no dia 25, o dia da
libertação da África. Tanto a superação do colonialismo, como a libertação
plena dos povos não se completará enquanto a humanidade não passar da
competição para a cooperação, da idolatria do dinheiro para o reconhecimento da
sacralidade de toda a vida. Desde o século XIX, já se sabe que, por sua própria
natureza, o Capitalismo faz das pessoas humanas mercadoria e gera uma cultura
na qual a pessoa vale pelo que produz ou pelo que pode valer de dinheiro. Não é por acaso que, nesse tipo de sociedade,
depois da droga, o tráfico humano é o segundo império comercial maior do mundo.
Na Itália, acaba de ser publicado um livro no qual um
jornalista entrevista um criminologista, especializado na investigação do
tráfico internacional de pessoas. Em um trabalho que durou dois anos, pela
primeira vez no mundo, o jornalista e o criminologista conseguiram levantar ou
descobrir método, rotas e a organização interna de empresas que em inglês se
chamam “smuggling” e que consiste no tráfico de pessoas para serem vendidas
como escravas. Essas empresas têm escritórios, computadores, telefones, carros,
barcos e até em alguns casos aviões. Conforme o livro , os lucros dessa holding
giram em torno de dez bilhões de dólares ao ano.
Há concorrência internacional e os chefes são ocultos da
polícia e da imprensa, mas são conhecidos de todos. El Douly, 40 anos, um chefe
do tráfico humano no Egito, declarou que se trata de uma organização
internacional descentralizada e que atua como rede. Essa máfia tem empresas de
fachada que funcionam para ter conta em banco, transferir dinheiro, abrir um
escritório em capitais e administrar o tráfico de migrantes clandestinos que
trabalharão no tráfico de drogas ou na prostituição ou simplesmente na
segurança.
O tráfico humano se aproveita de guerras, de epidemias de
fome e do desemprego que assola no mundo, como resultado do neoliberalismo e se
enriquece com a migração forçada de milhares e milhares de pessoas. Não existem
cifras exatas, mas se calculam que no mundo, chegam a 800 mil, as pessoas que,
a cada ano, são vítimas do tráfico humano entre migrantes clandestinos
enganados por agenciadores, moças e rapazes que buscam emprego e caem vítimas
das redes de prostituição internacional, crianças que são roubadas e vendidas
para escravidão infantil ou tráfico de órgãos.
Atualmente, o mundo estarrecido toma consciência do sequestro de meninas
e adolescentes em regiões da Nigéria. Embora as motivações pareçam diferentes,
já que o pano de fundo é o fundamentalismo religioso, a cultura é a mesma.
O livro sobre o tráfico humano trata desse flagelo na região
do Mediterrâneo, portanto na Europa e na África. Ao fazerem essa pesquisa, os
dois autores descobriram redes que se estendem pela Ásia e pela América de
norte a sul. No Brasil, a Campanha da Fraternidade desse ano, coordenada pela
conferência dos bispos católicos (CNBB), tem como objetivo denunciar e lugar
contra o tráfico humano. É fundamental que, após a Quaresma e Páscoa, essa
campanha não acabe e se crie uma consciência coletiva que impossibilite no
mundo esse tipo de crime contra a humanidade.
É tarefa de cada pessoa e comunidade espiritual comprometer-se para que
toda pessoa humana seja respeitada em sua dignidade e sua liberdade
fundamental. Como escreveu o apóstolo Paulo, “foi para que sejamos livres que
Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).
Fonte: Amai-vos
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