Segundo a BHTrans, cerca de 500 pessoas acompanharam o ato.
Ação é contra a ideia de culpar as mulheres pela agressão
que sofrem.
Centenas de pessoas participaram, na tarde do passado sábado
(24), da “Marcha das Vadias” na região central de Belo Horizonte. Por volta das
14h30, mulheres e homens se concentravam na Praça da Rodoviária, onde produziam
cartazes e pintavam o próprio corpo. De acordo com a organização do evento, o
ato é pelo fim da violência contra as mulheres.
De acordo com Adriana Torres, uma das articulistas da Marcha
e voluntária do Movimento Nossa BH, a violência contra a mulher está tão
naturalizada que culpá-la pelo que sofre é a forma que a sociedade encontrou
para jogar o problema para debaixo do tapete. "Resolver o problema da
violência exige um comprometimento de todos, desde o cidadão até a gestão
pública com a desconstrução de um processo social e político que hierarquiza
pessoas por gênero, idade, raça, etnia, classe e orientação sexual, limitando
seus direitos e sua liberdade. É necessário revolucionar toda a nossa crença no
que nos estrutura hoje e as pessoas estão pouco dispostas para uma mudança tão
grande. Então jogam a culpa na vítima, quando não criam medidas absurdas como o
vagão exclusivo para mulheres, que segrega e pune a vítima pelo que ela
sofre", avalia Adriana.
Segundo Nathalia Duarte, cientista social, participante da
frente feminista do movimento Tarifa Zero e participante da Marcha das Vadias,
a violência diária sofrida pelas mulheres se traduz em um não direito à cidade
e à mobilidade, uma vez que as mulheres
não podem circular sozinhas em determinados horários e locais e sem correr
perigo. E mesmo nos trajetos diários, sofrem constantemente assédio. O espaço
público e o transporte coletivo não são pensados para as mulheres, e o assédio
se constitui, portanto, como mais uma catraca que precisam enfrentar durante o
deslocamento de cada dia.
Letícia Gonçalves, psicóloga e também articuladora do
coletivo da Marcha em BH, relata que uma das maiores preocupações do grupo no
último ano foi compreender como e o quanto essas violências afetam as
prostitutas. "Não temos a intenção de falar pelas mulheres, mas de
aproximar e escutar o que elas dizem. Percebemos nesse movimento que fizemos a
necessidade de pautarmos a complexidade do assunto, já que estamos falando de realidades
muito diversas. Consideramos fundamental reconhecermos o contexto de violência
colocado na vivência de grande parte dessas mulheres, e não podemos perder de
vista o capitalismo, o patriarcado, as questões de raça e classe, como intensificadores”, explica
Letícia.
Segundo Letícia, o objetivo é a livre expressão. “Essa
marcha é contra a violência, contra qualquer violência às mulheres”, afirmou.
Ela acrescentou que a mulher tem o direito de se vestir como quiser sem ser
violentada.
O relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) que investigou a violência contra a mulher no Brasil, lançado ano
passado, mostrou que foram registrados em Minas Gerais, de janeiro de 2011 a
abril de 2012, 186.202 casos de violências contra as mulheres, sendo 554
estupros e 494 também estupros, mas sendo esses tipificados como de
vulneráveis.
IBGE
A 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública
mostra que o Brasil registrou um aumento de 18,17% de casos de estupro em 2012
em comparação com o ano anterior: foram 50.617 casos em 2012, o que equivale a
26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes.
Mas estudo divulgado pelo IPEA estima que esse número seja
10 vezes maior, já que a maioria não denuncia. Das notificações feitas ao SINAN
(Sistema de Informação de Agravos de Notificação) 70% das vítimas tem até 17
anos, sendo 88,5% das vítimas do sexo feminino, 51% da cor parda ou negra e o
agressor é o próprio pai/padrasto (24,1%) ou amigos/conhecidos da vítima
(32,2%).
Mesmo com esses dados alarmantes, a sociedade insiste em
culpar a vítima pela violência que sofre. Roupas usadas, vida sexual, tudo pode
se tornar uma tentativa de justificar o crime, fator que contribui para o baixo
número de denúncias e a busca por soluções mais efetivas contra essa cultura
nefasta.
Fonte: Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário