Busca no Google pelo termo mulheres brasileiras em inglês
reflete o estereótipo sofrido pelas brasileiras
Jornalistas, e a mídia estrangeira de modo geral, costumam
mostrar a brasileira ao mundo com certa dose de malícia, excesso de preconceito
e demasiada generalização.
Escrito por Yohana de Andrade
Durante o programa televisivo “Justiça Cega?”, da RTP(Rádio e Televisão de Portugal), o
Bastonário da Ordem dos Advogados de Portugal, Marinho Pinto, alegou [1] que
“uma das coisas que o Brasil mais tem exportado para Portugal são prostitutas,
entre outras coisas”.
A afirmação foi feita durante o comentário sobre o caso de
Catarina Migliorini, brasileira que vendeu sua virgindade por cerca de 600 mil
euros a Natsu, empresário japonês. Marinho Pinto afirmou que o governo
brasileiro “acusa a jovem de prostituição”, quando, na verdade, a Procuradoria
Geral da República quer acusar o organizador do “Virgins Wanted” de tráfico e
prostituição de pessoas.
Diante da afirmação de Pinto, não faltaram reacções de
indignação no Facebook [2] e no Twitter [3] com a hashtag #justicacega [4]. No
mural de Facebook do Ministério de Relações Exteriores do Brasil foram deixadas
mensagens a solicitar uma tomada de posição [5] do Itamaraty e de Associações
de Imigrantes e Feministas.
A Casa do Brasil de Lisboa (CBL), conjuntamente com a
Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania (ALCC), a Associação ComuniDária e a
União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), lançaram [6] uma nota de
repúdio:
A infeliz perpetuação desta imagem redutora e
hipersexualizada da mulher brasileira, através de pessoas que ocupam cargos de
responsabilidade, como o Dr. Marinho Pinto, tem implicações graves para a vida
de cada uma das brasileiras vivendo em Portugal. São frequentes os casos de
assédio sexual, discriminação no emprego e na vida social, bem como
dificuldades no acesso ao alojamento e interrogatórios abusivos nos aeroportos
e nas esquadras de polícia.
A Secretaria de Políticas para as Mulheres, gabinete de
assessoria da Presidente da República na formulação e coordenação das políticas
públicas voltadas às mulheres brasileiras, reagiu informando [7] que o
Embaixador do Brasil em Lisboa já teria manifestado ao Bastonário da Ordem dos
Advogados a indignação do governo brasileiro com a declaração proferida.
Em nota [8], Marinho Pinto diz que a repercussão sobre sua
afirmação “só foi chocante porque é verdade” e alega que seu comentário foi dirigido
às prostitutas brasileiras vítimas do tráfico de mulheres em Portugal.
A declaração feita por Marinho Pinto remete à polêmica
discussão sobre a imagem da mulher brasileira mundo afora. Temas como carnaval
e praia, onde mostram mulheres seminuas, são comuns para representar as
brasileiras.
“Jornalistas, e a mídia estrangeira de modo geral, costumam
mostrar a brasileira ao mundo com certa dose de malícia, excesso de preconceito
e demasiada generalização”, indica um [9] artigo de Katia Belisário, Professora
da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e doutoranda em
Jornalismo e Sociedade, para o Observatório Mídia & Política:
Representações estereotipadas e preconceituosas por parte da
imprensa podem gerar consequências nefastas, tanto para a imagem da brasileira
no exterior, quanto para o Brasil como um todo.
Em seu blog, a brasileira Melissa Rossi escreveu [10] sobre
sua experiência na Itália e a maneira preconceituosa como a mídia local trata
suas conterrâneas:
I have never read one single article on the
Italian media that does not play down the image of Brazilian women, often
resorting to offensive stereotypes, which portray them as pretty but stupid.
Eu nunca li um só artigo na mídia italiana que não reproduza
a imagem da mulher brasileira, frequentemente usando estereótipos ofensivos,
que as retratam como sendo bonitas, mas estúpidas.
Performance "Carimbada" da designer gráfica
Janaína Teles: "utilizo o carimbo como objecto que taxa e marca outros
corpos como a si mesmo (...) testemunha de um auto reconhecimento desta mulher
marcada e estereotipada, abrindo possibilidades de processos de resignificação
de identidades."
Em fevereiro deste ano, Claudia M. Vieira [13], a advogada e
Professora no Mestrado em Direito Internacional e Relações Internacionais da
Universidade de Lisboa, escrevia [14] no site Sair do Brasil [15] sobre efeitos
do preconceito e discriminação que existe contra a mulher brasileira no
exterior:
É tão grave a situação que as próprias mulheres
brasileiras estão mudando o
comportamento. As que ja vivem mais
tempo fora do Brasil, já nem sorriem
naturalmente, não brincam, não usam as roupas que gostam, tudo isso, por medo
de sofrer preconceito. No curso de Mestrado da Universidade de Lisboa, constatei
algumas alunas, falando com o sotaque português para serem aceitas, com a
desculpa de que assim eles, os portugueses as entendiam melhor.
Já em setembro de 2011 Mariana Selister, desenvolvendo uma
tese de doutorado sobre a representação da mulher brasileira na mídia social
portuguesa, lançou o Manifesto Mulheres Brasileiras [16] (@MBrasileiras [17]),
em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal:
O estigma da hipersexualidade remonta aos imaginários
coloniais que construíam as mulheres das colônias como objetos sexuais,
escravas sexuais, e marcadas por uma sexualidade exótica e bizarra. Cita-se,
por exemplo, a triste experiência da sul-africana Saartjie Baartman, exposta na
Europa, no século XIX, como símbolo de uma sexualidade anormal. Em Portugal,
esses imaginários coloniais, infelizmente, ainda são reproduzidos pela
comunicação social.
Terminando com um apelo que continua urgente e atual:
Exigimos, das autoridades competentes, que se faça cumprir a
“CEDAW – Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra
as Mulheres”, da qual tanto Portugal, como o Brasil, são signatários.
Destacamos, também, o “Memorando de Entendimento entre Brasil e Portugal para a
Promoção da Igualdade de Gênero”, no qual consta que estes países estão
“Resolvidos a conjugar esforços para avançar na implementação das medidas
necessárias para a eliminação da discriminação contra a mulher em ambos os
países”.
[2] Facebook: http://www.facebook.com/Brasil.MRE/posts/345933822172056
[4] #justicacega: https://twitter.com/search?q=%23justicacega&src=hash
[5] solicitar uma tomada de posição: http://www.facebook.com/Brasil.MRE/posts/513283978704891
[6] lançaram: https://www.facebook.com/comunidaria/posts/490278540994606?comment_id=5569485¬if_t=comment_mention
[7] reagiu informando: https://www.facebook.com/comunidaria/posts/486261601418581
[10] escreveu: http://www.beyondsamba.org/2012/11/03/brazilian-women-once-again-stereoptyped-in-italian-media/
[12] blog Corpo des-mapeado: http://corposmapeados.blogspot.com.br/
[13] Claudia M. Vieira: http://sairdobrasil.com/author/claudiam/
[15] Sair do Brasil: http://sairdobrasil.com/
[16] Manifesto Mulheres Brasileiras: http://manifestomulheresbrasileiras.blogspot.com/2011/09/manifesto-mulheres-brasileiras.html
[17] @M
Fonte: http://blog.lusofonias.net/
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