Não basta cumprir a lei que ordena “Não matarás”. É
necessário, também, arrancar da nossa vida a agressividade, o desprezo pelo
outro, os insultos ou as vinganças. Por outro lado, as conversações estão
frequentemente tecidas de palavras injustas que distribuem condenações e
semeiam suspeitas. Palavras ditas sem amor e sem respeito, que envenenam a
convivência e fazem mal.
No próximo domingo, o texto a ser meditado em muitas igrejas
é extraído do capítulo 5 de Mateus (Mt 5, 17-37), na continuidade do Sermão da
Montanha. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Não a guerra entre nós
Os judeus falavam com orgulho da Lei de Moisés. Segundo a
tradição, foi mesmo Deus quem a ofereceu ao Seu povo. Era o melhor que tinham
recebido Dele. Nessa Lei apresenta-se a vontade do único Deus verdadeiro. Aí
podem encontrar tudo o que necessitam para ser fiéis a Deus.
Também para Jesus a Lei é importante, mas já não ocupa o
lugar central. Ele vive e comunica outra experiência: está a chegar o reino de
Deus; o Pai procura abrir o caminho entre nós para fazer um mundo mais humano.
Não basta ficarmos com cumprir a Lei de Moisés. É necessário abrir-nos ao Pai e
colaborar com Ele para fazer uma vida mais justa e fraterna.
Por isso, segundo Jesus, não basta cumprir a lei que ordena
“Não matarás”. É necessário, também, arrancar da nossa vida a agressividade, o
desprezo pelo outro, os insultos ou as vinganças. Aquele que não mata, cumpre a
lei, mas se não se liberta da violência, no seu coração não reina todavia esse
Deus que procura construir conosco uma vida mais humana.
Segundo alguns observadores, está-se a estender na sociedade
atual uma linguagem que reflete o crescimento da agressividade. Cada vez são
mais frequentes os insultos ofensivos proferidos só para humilhar, desprezar e
ferir. Palavras nascidas da rejeição, do ressentimento, do ódio ou da vingança.
Por outra lado, as conversações estão frequentemente tecidas
de palavras injustas que distribuem condenações e semeiam suspeitas. Palavras
ditas sem amor e sem respeito, que envenenam a convivência e fazem mal.
Palavras nascidas quase sempre da irritação, da mesquinhez ou da baixeza.
Não é este um facto que se dê só na convivência social. É
também um grave problema na Igreja atual. O Papa Francisco sofre ao ver
divisões, conflitos e confrontos de “cristãos em guerra contra outros
cristãos”. É um estado de coisas tão contrário ao Evangelho que sentiu a
necessidade de dirigir-nos uma chamada urgente: “Não à guerra entre nós”.
Assim fala o Papa: “Doí-me comprovar como em algumas
comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, consentimos diversas
formas de ódios, calunias, difamações, vinganças, ciúmes, desejos de impor as
próprias ideias à custa de qualquer coisa, e até de perseguições que parecem
uma implacável caça às bruxas. A quem vamos evangelizar com estes
comportamentos?”. O Papa quer trabalhar por uma Igreja em que “todos podem
admirar como vos cuidais uns aos outros, como vos dais alento mutuamente e como
vos acompanhais”.
Fonte: Ihu
Nenhum comentário:
Postar um comentário