Em seus 90 minutos de duração, o filme mostra as
contradições de Patrícia e sua luta para ser vista com respeito, além de sua
busca pela individualidade e controle sobre as próprias ações em uma viagem de autoconhecimento pelo interior paulista.
Felicidades e tristezas, desejos e
traumas dividem o dia a dia dessa personagem real, que se autointitula
prostituta por profissão e por prazer, sempre em busca de sabedoria por diversos
meios.
O diretor Alexandre Carlomagno, experiente em
curta-metragens, queria se aventurar num longa. Mas decidiu não ir em busca de
um assunto, apenas permitiu o tema lhe atrair. Certa vez parou para comer
alguma coisa numa lanchonete na Avenida 9 de Julho, em Ribeirão Preto, interior
de São Paulo e sua cidade natal. De lá, avistou uma mulher dançando sozinha na
rua, via tradicional de ponto de prostitutas.
A felicidade à toa levou o diretor a se interessar pelo
perfil de Patrícia Lourdes, nascida e criada em Londrina e que está de malas
prontas para voltar à cidade. A londrinense é protagonista do documentário
rodado no interior paulista, intitulado Patrícia.
Profissionais
“Em Ribeirão Preto, a partir dos anos 2000, sumiram as
profissionais do sexo da Avenida 9 de Julho. Então avistei a Patrícia. Primeiro
porque não havia nenhuma outra mulher. E ela dançava na rua sozinha. Fiquei
absorvido pela cena”, conta. Junto com um amigo, saiu da lanchonete e foi
conversar com ela.
Carlomagno percebeu que a história de vida de Patrícia
poderia render um bom documentário. “Falei com a produtora Milena [Maganin],
que topou. Foram 15 dias de filmagens e teve dias que chegamos a filmar durante
15 horas, seguindo ela.”
Durante esse tempo de convivência, Carlomagno mergulhou em
fragmentos da vida de Partícia. “Não era mais um registro sobre a prostituição.
O filme não era sobre o que ela fazia. Fui descobrindo que ela é uma pessoa
como outra qualquer.”
O longa, que estreou no fim de janeiro em Ribeirão Preto,
tem 90 minutos. Ao todo, oito meses de pós-produção para deixar o filme
editado. “Está inscrito em alguns festivais. Nossa batalha é conseguir verba,
de uns R$ 4 mil, para converter de digital em formato DCP, uma mídia para ser
exibida nas salas de cinema”, afirma. Não há, portanto, uma data definida para
exibição do filme em Londrina.
Longa
Patrícia é também o primeiro longa da produtora de cinema
Milena Maganin. “É muito trabalho, mas é emocionante. Achamos um personagem que
segurava um longa, uma personagem excêntrica que passou por muitas coisas
difíceis e superou tudo. Ele é totalmente dramática: chora e é feliz”, comenta
Milena.
Embora ela seja prostituta em Ribeirão Preto, não é este o
foco do documentário. “É sobre o ser humano Patrícia. Ela disse que tinha
vontade de escrever um livro com a história dela, para servir de exemplo, do
tempo que ela foi ativista numa ONG que ajudava na prevenção da AIDS.”
Patrícia Lourdes, que viveu em Londrina até por volta dos 18
anos, conta que entrou para a prostituição num momento de muita dificuldade,
quando a mãe enfrentou uma grave doença. “Eu não tinha de onde tirar dinheiro.”
Antes, havia sofrido violência sexual, estupro e bullying.
“A maioria das coisas que aprendi na vida foi sozinha. E optei por ser feliz.”
Agora, Patrícia está prestes a voltar à cidade. “Minha mãe e irmã ainda moram
aí. Estou só esperando minha cachorrinha maltês, a Meg, desmamar.”
Fonte: (Fábio Luporini) Jornal de Londrina
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