Francisco promove "a maior revolução que aconteceu na Igreja".
Em novembro, o padre Niraldo Lopes de Carvalho, de 46 anos,
coordenador das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) do Rio, se surpreendeu com
o grande número de líderes comunitários presentes em um encontro em Sepetiba,
na zona oeste. Como muitos religiosos ligados a pastorais sociais e da família,
ele acredita que as iniciativas do papa Francisco em defesa de uma Igreja mais
acolhedora já começam a provocar avanços.
Neste mês, o papa enviou uma mensagem de estímulo ao
encontro internacional das CEBs, que reuniu 4 mil pessoas no Crato (CE), entre
os dias 7 e 11 deste mês. Foi a primeira vez que um pontífice saudou o
Intereclesial, na 13.ª edição. Francisco disse que as comunidades de base
"trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o
mundo que renovam a Igreja".
Incentivadas pela Teologia da Libertação, as CEBs seguiram o
mesmo caminho da corrente que teve expoentes como o peruano Gustavo Gutierrez e
o brasileiro Leonardo Boff: se fortaleceram nos anos 1970 e começaram a ser
esvaziadas em meados da década seguinte. A expectativa nos movimentos sociais é
de que as CEBs ganhem atenção com Francisco, que já recebeu Gutierrez e deverá
também se reunir com Boff.
A passagem do papa pelo Rio, em julho, deixou marcas na
cidade que as pastorais começam a sentir na prática. "O papa diz que a
Igreja tem de ir ao encontro dos que vivem a realidade da exclusão. Quem
trabalha nas comunidades se sente legitimado. O arcebispo, d. Orani Tempesta,
sempre foi muito acessível, mas é uma questão cultural. A porta estava
entreaberta. Agora, abriu um pouco mais", afirma padre Niraldo.
A mesma imagem é usada por frei Almir Ribeiro Guimarães, da
Ordem Franciscana Secular do Brasil, atuante nas pastorais da família. "Há
portas entreabertas, estamos respirando um ar melhor", resume o frade.
Na avaliação de religiosos e teóricos católicos, o primeiro
passo no caso das famílias será facilitar a nulidade dos matrimônios, o que
permite novo casamento. O assunto está em um questionário distribuído às
dioceses do mundo inteiro, preparatório para o encontro de bispos que discutirá
os desafios pastorais da família, em outubro. O padre e historiador José Oscar
Beozzo lembra que só a consulta às dioceses é uma inovação - anteriormente, o
Vaticano já oferecia um texto pronto.
Com a experiência de quem conheceu sete papas, o
correspondente do jornal espanhol El País no Brasil, Juan Arias, diz que
Francisco promove "a maior revolução que aconteceu na Igreja".
"A periferia vai estar feliz e os que têm carros de luxo vão sofrer. Com o
tempo, o papa vai nomear cardeais mais próximos de sua revolução."
Fonte: Estado de São Paulo
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