quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Profissional do sexo? Nunca conheci uma!


By Trisha Baptie

Eu fui uma prostituta por 15 anos e eu nunca conheci uma profissional do sexo. O nome deriva do filme Pretty Woman - e das pessoas que apóiam e se beneficiam da mercantilização da mulher. Conheço mulheres prostituídas -e eu mesma fui uma- e estavam ali para fugir da pobreza, do racismo, do classismo, do sexismo e do abuso sexual.


Naquele tempo, eu lhes teria dito que era emponderador e libertador  -como eu poderia me olhar no espelho de outra forma? No entanto, meu coração se partia sempre que eu via cada nova garota entrando no “comércio”. E nenhum de nós quer que sua filha entre para essa indústria de sugadores de alma.

Eu sou contra o sexo como trabalho porque não afeta só as mulheres envolvidas mas todas as mulheres e nossa interação com o mundo. Aqui e em todo lugar,  mulheres -quase todas empobrecidas e vítimas do racismo- são obrigadas, coagidas, agredidas e levadas a esta indústria. É porque eu quero que TODAS sejam livres -que eu sou contra a nossa venda como brinquedos de masturbação.


As pessoas, ás vezes, dizem: “Ela tem que pagar as contas”. Que tal oferecer-lhes educação, oportunidade, dignidade e um salário garantido que lhes permita viver bem? E se déssemos apoio ás crianças e fizéssemos uma rede de segurança, assegurando cuidados governamentais quando esse cuidado lhes faltasse? Existem outras maneiras de ajudar as mulheres sem oprimi-las. 



Minhas amigas que ainda estão nas ruas, sabem o que faço e todas elas me apóiam. Por elas não quero que ninguém mais entre nessa vida. Assim, elas trabalham para colocar-se fora de perigo, e eu para ter certeza de que os homens serão presos antes de comprá-las.

Redução de danos? Você não pode fazer a prostituição “mais segura”, a prostituição é violência em si. É estupro, o dinheiro apenas propicia o alívio da culpa nos homens. Nós realmente acreditamos que eles não podem viver sem a necessidade de sair à procura de orgasmos frequentemente? E também, por que as mulheres são as únicas requisitadas a fazer exames de saúde para se certificarem de que estão “apropriadas” para o abuso deles? Por que não forçam os homens aos exames de saúde para a segurança das mulheres?

  
Por que institucionalizar o pior na humanidade? Nossa cultura impõe uma visão patriarcal da mulher, exigindo de nós a ter sexo sob demanda, arrancar nossos pelos, submeter-nos à cirurgia plástica… E se as mulheres fossem autorizadas a serem mulheres consideradas belas em suas diferenças? Fico triste de ver o quanto a sociedade influencia mulheres e garotas a agir como prostitutas.

Quanto à assim chamada “escolha” para ter relações sexuais muitas vezes por dia, com homens anônimos, minha experiência pessoal, pinta um quadro bastante diferente. Onde existe a prostituição, há tráfico humano, crime organizado, drogas e uma infinidade de outras atividades criminosas que nenhum país conseguiu se desvencilhar. Por que nós permitimos que uma parcela nos imponha seu individualismo, quando sabemos que a sociedade como um todo vai sofrer e serão as mulheres pobres e as mulheres negras, cujos direitos serão pisoteados para manter a oferta de sexo para os homens se perpetuando?

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Trisha Baptie é uma ex-prostituta que vive em Vancouver. Livrou-se do vício das drogas e da rua há oito anos. Uma jornalista abolicionista, mãe e independente, que recentemente cobriu o julgamento do assassino de Robert Pickton para várias mídias.

http://www.wifp.org/ViolenceAgainstWomen.html

Tradução:  Arttemia Arktos

Fonte: www.jornalggn.com.br

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