By Trisha Baptie
Eu fui uma prostituta por 15 anos e eu nunca conheci uma
profissional do sexo. O nome deriva do filme Pretty Woman - e das pessoas que
apóiam e se beneficiam da mercantilização da mulher. Conheço mulheres
prostituídas -e eu mesma fui uma- e estavam ali para fugir da pobreza, do
racismo, do classismo, do sexismo e do abuso sexual.
Naquele tempo, eu lhes teria dito que era emponderador e
libertador -como eu poderia me olhar no espelho de outra forma? No entanto,
meu coração se partia sempre que eu via cada nova garota entrando no
“comércio”. E nenhum de nós quer que sua filha entre para essa indústria de
sugadores de alma.
Eu sou contra o sexo como trabalho porque não afeta só as
mulheres envolvidas mas todas as mulheres e nossa interação com o mundo. Aqui e
em todo lugar, mulheres -quase todas
empobrecidas e vítimas do racismo- são obrigadas, coagidas, agredidas e levadas
a esta indústria. É porque eu quero que TODAS sejam livres -que eu sou contra
a nossa venda como brinquedos de masturbação.
As pessoas, ás vezes, dizem: “Ela tem que pagar as contas”.
Que tal oferecer-lhes educação, oportunidade, dignidade e um salário garantido
que lhes permita viver bem? E se déssemos apoio ás crianças e fizéssemos uma
rede de segurança, assegurando cuidados governamentais quando esse cuidado lhes
faltasse? Existem outras maneiras de ajudar as mulheres sem oprimi-las.
Minhas amigas que ainda estão nas ruas, sabem o que faço e
todas elas me apóiam. Por elas não quero que ninguém mais entre nessa vida.
Assim, elas trabalham para colocar-se fora de perigo, e eu para ter certeza de
que os homens serão presos antes de comprá-las.
Redução de danos? Você não pode fazer a prostituição “mais
segura”, a prostituição é violência em si. É estupro, o dinheiro apenas
propicia o alívio da culpa nos homens. Nós realmente acreditamos que eles não
podem viver sem a necessidade de sair à procura de orgasmos frequentemente? E
também, por que as mulheres são as únicas requisitadas a fazer exames de saúde
para se certificarem de que estão “apropriadas” para o abuso deles? Por que não
forçam os homens aos exames de saúde para a segurança das mulheres?
Por que institucionalizar o pior na humanidade? Nossa
cultura impõe uma visão patriarcal da mulher, exigindo de nós a ter sexo sob
demanda, arrancar nossos pelos, submeter-nos à cirurgia plástica… E se as
mulheres fossem autorizadas a serem mulheres consideradas belas em suas
diferenças? Fico triste de ver o quanto a sociedade influencia mulheres e
garotas a agir como prostitutas.
Quanto à assim chamada “escolha” para ter relações sexuais
muitas vezes por dia, com homens anônimos, minha experiência pessoal, pinta um
quadro bastante diferente. Onde existe a prostituição, há tráfico humano, crime
organizado, drogas e uma infinidade de outras atividades criminosas que nenhum
país conseguiu se desvencilhar. Por que nós permitimos que uma parcela nos
imponha seu individualismo, quando sabemos que a sociedade como um todo vai
sofrer e serão as mulheres pobres e as mulheres negras, cujos direitos serão
pisoteados para manter a oferta de sexo para os homens se perpetuando?
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Trisha Baptie é uma ex-prostituta que vive em Vancouver.
Livrou-se do vício das drogas e da rua há oito anos. Uma jornalista
abolicionista, mãe e independente, que recentemente cobriu o julgamento do
assassino de Robert Pickton para várias mídias.
http://www.wifp.org/ViolenceAgainstWomen.html
Tradução: Arttemia
Arktos
Fonte: www.jornalggn.com.br
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