A partir desta terça-feira (5), as prostitutas de Belo
Horizonte irão levar na bolsa, além de preservativos e maquiagem, uma máquina
de cartão de crédito. É que elas foram reconhecidas pela Caixa Econômica
Federal como profissionais do mercado informal e poderão ser pagas com cartão
de crédito, débito e até mesmo de forma parcelada, graças a uma parceria
firmada entre a Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig) e a Caixa
Econômica Federal.
Com isso, as profissionais do sexo da capital terão
benefícios comuns a outras profissões como a cobertura de previdência social,
aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio doença,
salários-maternidade, pensão por morte, auxílio reclusão, entre outros. Elas
também contarão com talões de cheque, cheque especial, capital de giro, custo
zero para a formalização e nenhum imposto para o governo federal.
Para Cida Vieira, presidente da Associação de Prostitutas de
Minas Gerais (Aspromig), a parceria servirá também para quebrar o preconceito.
"A nossa profissão já é reconhecida, falta a regulamentação, e este é um
dos passos para que isto aconteça. O outro passo é a quebra do preconceito. A
parceria será positiva também para ajudar no rompimento deste tabu",
disse.
"Com os benefícios ficará mais fácil receber dos
clientes, além de ajudar, e muito, na questão da segurança. Sempre andamos com
dinheiro e isso facilita a ação dos assaltantes", diz.
Por um lado, o uso da máquina vai facilitar a vida de
clientes. Isso porque, segundo explicação da presidente da Aspromig, depois das
22h há restrição para o saque de altos valores nos caixas eletrônicos. O limite
é de R$ 200. Com isso, muitos clientes deixam de contratar as prostitutas ou
são obrigados a negociar em motéis para que o estabelecimento lhe dê uma certa
quantia em dinheiro, cobrando o montante no cartão somado a uma taxa de
serviço, que, em média, fica em 20%. Ou seja, sem a máquina, parte da clientela
paga um quinto a mais sobre o programa. “Não vai ter mais esse tipo de
problema. Ela vai passar o cartão primeiro e se tiver saldo vai fazer o
programa. Caso não tenha, é só não fazer”, afirma Cida.
Por outro lado, para usar as maquininhas as garotas de
programa serão obrigadas a pagar a taxa de serviço da operadora de cartões. Em
estabelecimentos comerciais é normal que as empresas incorporem esse percentual
ao valor do produto, o que, no caso das prostitutas, poderá significar um
incremento no custo para o cliente. A presidente da associação explica que será
feita uma campanha para conscientizar as prostitutas sobre a necessidade de
manter o sigilo de quem contrata o serviço. De qualquer forma, a negociação
será registrada em nome da empresa. Caso contrário, os clientes podem se
recusar a usar a máquina de cartão por receio da divulgação da contratação,
principalmente no caso dos casados.
"Podendo pagar com cartão, o cliente que quer estender
o programa mas está sem dinheiro, vai poder ficar com a menina por mais tempo
sem nenhum transtorno. Com isso, o número de programas e o lucro das
prostitutas devem aumentar", afirma Cida Vieira.
As prostitutas belo-horizontinas serão as pioneiras no uso
do cartão de crédito como forma de pagamento pelo serviço no Brasil, mas a
ideia pode chegar a outras regiões em breve. "As meninas aqui recebem a
máquina de cartão e podem utilizá-la em outros estados, onde moram, para onde
vão", disse Cida.
Ainda de acordo com a presidente da Aspromig, a parceria foi
firmada visando os grandes eventos que serão sediados pelo Brasil, como a Copa
do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. "Estamos pensando nos
turistas, muita gente não anda com dinheiro hoje em dia, então o cliente poderá
parcelar o valor do programa, caso ele se estenda mais que o previsto, ou pagar
no crédito ou débito. Com isso, estamos modernizando a vida da garota de
programa e também do cliente", informou. Ela acredita que as novas
possibilidades de pagamento irão potencializar o serviço, principalmente com a
chegada de turistas no país.
No primeiro dia implantação, 20 prostitutas já procuraram a
Associação para solicitar a máquina de cartão. As profissionais interessadas,
ou mesmo travestis, transexuais e garotos de programa filiados à Aspromig devem
procurar a entidade com a carteira de identidade, o CPF e um comprovante de
residência em mãos para ter acesso à mais essa possibilidade de negócios. Após
isso, elas são orientadas a abrir uma conta na Caixa e recebem o equipamento em
um prazo aproximado de 15 dias.
Mãe de um jovem de 18 anos, aos 43, a prostituta Patrícia
Borges não pretende ter um segundo filho, mas avalia que seria bem mais fácil
ter criado o garoto caso tivesse tido acesso ao salário-maternidade. Se desse
benefício ela não vai desfrutar, Patrícia já vê ganhos com o uso da máquina de
cartão. “A maioria dos clientes pergunta se a gente aceita cartão. Acaba que
perdemos muitos programas. Ele quer ficar mais tempo, mas não tem dinheiro para
pagar”, diz ela.
Fonte: (Juliana Baeta) O Tempo e ( Pedro Rocha Franco) Estado de Minas
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