quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Papa Francisco envia aos bispos do mundo perguntas sobre as novas famílias

Conheça as 38 perguntas que o Papa quer fazer às famílias.




O Vaticano enviou aos bispos um questionário adjunto ao breve documento para preparar o Sínodo extraordinário sobre a Família convocado pelo Papa Francisco para outubro de 2014. A modalidade de trabalho destinada a "buscar linhas operativas para a pastoral da pessoa humana na família” e descreve as "problemáticas inéditas” dos últimos anos, entre elas a difusão dos casais "de fato”, as uniões entre pessoas do mesmo sexo "para as quais não poucas vezes se consente a adoção de filhos”, os matrimônios mistos ou inter-religiosos, a família monoparental, a difusão do fenômeno do "aluguel de ventres” e "o enfraquecimento ou abandono da fé” no sacramento do matrimônio e no "poder terapêutico” da confissão.

O Papa quer consultar as conferências episcopais sobre quais são os desafios pastorais sobre a família que a Igreja deve afrontar. No documento adjunto se explica também a modalidade de trabalho, cuja primeira etapa será a assembleia extraordinária de outubro de 2014, que deverá compilar "os testemunhos e as propostas dos bispos”, e a segunda será o Sínodo ordinário de 2015 que tem como objetivo "buscar linhas operativas para a pastoral da pessoa humana na família”.

Descreve as "problemáticas inéditas” dos últimos anos, entre elas a difusão dos casais "de fato”, as uniões entre pessoas do mesmo sexo "para as quais não poucas vezes se consente a adoção de filhos”, os matrimônios mistos ou inter-religiosos, a família monoparental, a difusão do fenômeno do "aluguel de ventres” e "o enfraquecimento ou abandono da fé” no sacramento do matrimônio e no "poder terapêutico” da confissão. Também pede para as conferências episcopais do mundo uma atenção "urgente” a estes problemas.


"Se, por exemplo, se considera apenas o fato de que no atual contexto muitas crianças e jovens, nascidos em matrimônios irregulares, poderiam não ver nunca seus pais se aproximarem dos sacramentos, se compreende quão urgentes são os desafios para a evangelização da situação atual... Esta realidade tem uma singular conformidade na vasta acolhida que está destinada em nossos dias o ensino sobre a misericórdia divina e sua ternura para com as pessoas feridas: as expectativas consequentes sobre as decisões pastorais relacionadas com a família são muito amplas”, adverte.

A segunda parte do documento indica em três páginas os fundamentos bíblicos e o magistério da Igreja sobre o matrimônio e a família. Por último, formula 38 perguntas nas quais interroga sobre a difusão e a recepção dos ensinamentos da Igreja a respeito, sobre as dificuldades para colocá-las em prática e sobre sua relação com os programas pastorais em todos os níveis. Também se pede informação sobre quais são os pontos mais atacados e rechaçados fora dos ambientes eclesiais.

Questionário

Se há muita gente a viver junto antes do casamento ou qual é a atitude dos fiéis perante os casais do mesmo sexo são algumas das perguntas preparadas pela Santa Sé. O questionário de nove temas está a ser distribuído em todo o mundo.

Cada conferência episcopal deverá fazer chegar o resumo das respostas nacionais ao Vaticano até ao final de Janeiro do próximo ano

GRUPO 1

Sobre a difusão da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja a propósito da família

1. Qual é o conhecimento real dos ensinamentos da Bíblia, [da constituição pastoral] “Gaudium et spes”, [da exortação apostólica] “Familiaris consortio” e de outros documentos do Magistério pósconciliar sobre o valor da família segundo a Igreja católica? Como são os fiéis formados para a vida familiar em conformidade?

2. Onde é conhecido, o ensinamento da Igreja é aceite integralmente? Há dificuldades de o pôr em prática? Quais?

3. Como é difundido no contexto dos programas pastorais nos planos nacional, diocesano e paroquial o ensinamento da Igreja? Que tipo de catequese sobre a família é promovida?

4. Em que medida – e em particular sob que aspectos – este ensinamento é realmente conhecido, aceite, rejeitado e/ou criticado nos ambientes extraeclesiais? Quais são os factores culturais que impedem a plena aceitação do ensinamento da Igreja sobre a família?

GRUPO 2

Sobre o matrimónio segundo a lei natural

5. Que lugar ocupa o conceito de lei natural na cultura civil, quer nos planos institucional, educativo e académico, quer a nível popular? Que visões da antropologia estão subjacentes a este debate sobre o fundamento natural da família?

6. O conceito de lei natural em relação à união entre o homem e a mulher é geralmente aceite por parte dos baptizados?

7. Como é contestada, na prática e na teoria, a lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, em vista da formação de uma família? Como é proposta e aprofundada nos organismos civis e eclesiais?

8. Quando a celebração do matrimónio é pedida por baptizados não praticantes, ou que se declaram não-crentes, como enfrentar os desafios pastorais que daí derivam?
GRUPO 3

A pastoral da família no contexto da evangelização

9. Que experiências surgiram nas últimas décadas na preparação para o matrimónio? Como se procurou estimular a tarefa de evangelização dos esposos e da família? De que modo se pode promover a consciência da família como “Igreja doméstica”?

10. Conseguiu-se propor estilos de oração em família, capazes de resistir à complexidade da vida e cultura contemporânea?

11. Perante a actual crise geracional, como são as famílias cristãs capazes de cumprir a sua vocação de transmitir a fé?

12. De que modo as Igrejas locais e os movimentos de espiritualidade familiar souberam criar percursos exemplares?

13. Qual é a contribuição específica que casais e famílias conseguiram oferecer para difusão de uma visão integral do casal e da família cristã credível nos dias de hoje?

14. Que atenção pastoral a Igreja mostrou para sustentar o caminho dos casais em formação e dos casais em crise?

GRUPO 4

Sobre a pastoral para enfrentar algumas situações matrimoniais difíceis

15. A convivência ad experimentum [coabitação antes do matrimónio] é uma realidade pastoral na sua igreja particular? Em que percentagem a calcula?

16. Existem uniões livres de facto, sem o reconhecimento religioso nem civil? Há dados estatísticos confiáveis?

17. Os separados e os divorciados recasados constituem uma realidade pastoral relevante na sua Igreja particular? Em que percentagem se poderiam calcular? Como se enfrenta esta realidade, através de programas pastorais adequados?

18. Em todos estes casos: como vivem os baptizados a sua irregularidade? Estão conscientes da mesma? Simplesmente manifestam indiferença? Sentem-se marginalizados e vivem com sofrimento a impossibilidade de receber os sacramentos?

19. Quais são os pedidos que as pessoas separadas e divorciadas dirigem à Igreja, a propósito dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação? Entre as pessoas em tais situações, quantas pedem estes sacramentos?

20. A simplificação da práxis canónica em ordem ao reconhecimento da declaração de nulidade do vínculo matrimonial poderia oferecer uma contribuição positiva real para a solução das problemáticas das pessoas interessadas? Se sim, de que forma?

20. Existe uma pastoral para ir ao encontro destes casos? Como se realiza esta actividade pastoral?
GRUPO 5

Sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo

21. O vosso país tem uma lei civil de reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo, equiparada de alguma forma ao matrimónio?

22. Qual é a atitude das Igrejas locais, quer diante do Estado civil promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, quer perante as pessoas envolvidas neste tipo de união?

23. Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união?

24. No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adoptaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?

GRUPO 6

Sobre a educação dos filhos no contexto das situações de matrimónios irregulares

25. Qual é nestes casos a proporção aproximativa de crianças e adolescentes, em relação às crianças nascidas e educadas em famílias regularmente constituídas?

26. Com que atitude os pais se dirigem à Igreja? O que pedem? Somente os sacramentos, ou inclusive a catequese e o ensino da religião em geral?

27. Como as Igrejas particulares vão ao encontro da necessidade dos pais destas crianças, em oferecer uma educação cristã aos próprios filhos?

28. Como se realiza a prática sacramental em tais casos: a preparação, a administração do sacramento e o acompanhamento?

GRUPO 7

Sobre a abertura dos esposos à vida

29. Qual é o conhecimento real que os cristãos têm da doutrina da encíclica Humanae vitae a respeito da paternidade responsável? Que consciência têm da avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos? Que aprofundamentos poderiam ser sugeridos a respeito desta matéria, sob o ponto de vista pastoral?

30. Esta doutrina moral é aceite? Quais são os aspectos mais problemáticos que tornam difícil a sua aceitação para a grande maioria dos casais?

31. Que métodos naturais são promovidos por parte das Igrejas particulares, para ajudar os cônjuges a pôr em prática a doutrina da encíclica “Humanae vitae”?

32. Qual é a experiência relativa a este tema na prática do sacramento da penitência e na participação na Eucaristia?

33. Quais são, a este propósito, os contrastes que se salientam entre a doutrina da Igreja e a educação civil?

34. Como promover uma mentalidade mais aberta à natalidade? Como favorecer o aumento dos nascimentos?

GRUPO 8

Sobre a relação entre a família e a pessoa

35. Jesus Cristo revela o mistério e a vocação do homem: a família é um lugar privilegiado para que isto aconteça?

36. Que situações críticas da família no mundo contemporâneo podem tornar-se um obstáculo para o encontro da pessoa com Cristo?

37. Em que medida as crises de fé incidem sobre a vida familiar?

GRUPO 9

Outros desafios e propostas

38. Existem outros desafios e propostas a respeito dos temas abordados neste questionário, sentidos como urgentes ou úteis?

Da última vez que houve um encontro oficial de bispos dedicado à família, em 1980, nenhum país tinha aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A exortação apostólica que resultou desse sínodo sobre o papel da família cristã no mundo moderno, e que ainda hoje é um dos documentos orientadores das famílias e das igrejas locais, nada diz sobre casamentos homossexuais. Mas perante o número crescente de divórcios, João Paulo II, que convocou o encontro e escreveu a exortação, reconhecia o fenómeno. Mas dizia que, no caso de pessoas que se divorciaram e, mais cientes da "indissolubilidade do matrimónio", não tornaram a casar, não deveria haver obstáculos a receberem sacramentos.

Trinta anos depois, o tema da família volta a ser o mote para um sínodo. E há, desde já, a garantia que nenhum assunto será esquecido. Não só se vai discutir as dificuldades e desejos dos divorciados e recasados, mas também a situação dos casais em união de facto ou do mesmo sexo, assim como situações em que adoptaram, e o que procuram para os filhos junto da Igreja.

O Vaticano já tinha anunciado, no mês passado, que o Papa Francisco convocou para Outubro de 2014 um sínodo de bispos, que será o terceiro de carácter extraordinário desde que estes encontros foram reinstituídos nos anos 60.
De acordo com a lei canónica, estes concílios só podem ser convocados quando em causa estão "assuntos que exijam resolução rápida." Agora, e a um ano do encontro, os pontos da agenda tornaram-se públicos . E, numa decisão inédita, o Vaticano em vez de consultar apenas padres e movimentos da Igreja sobre os temas que vão ser debatidos, preparou um inquérito que deverá ser colocado à disposição de todos.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) confirmou a recepção do questionário em Outubro, que já enviou para as dioceses para ser distribuído. Em Inglaterra, os bispos optaram por preparar uma sondagem online, disponível desde 31 de Outubro. Ao i, Manuel Morujão, porta-voz da CEP, admitiu que essa poderá ser uma opção, informando que de 11 e 14 de Novembro terá lugar uma assembleia de bispos em Fátima, onde haverá mais orientações.

O questionário, igual para todo o mundo, já está traduzido para português. Num total de nove temas, há questões sobre a forma como as famílias são apoiadas para viver de acordo com a doutrina católica mas também sobre dificuldades práticas com que têm de lidar. Uma das intenções do sínodo, revelada em Outubro, é perceber o que fazem as diferentes paróquias, no sentido de harmonizar práticas.

Se o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo é inédito, com o Vaticano a querer saber qual a atitude nas paróquias em relação ao reconhecimento de uniões civis mas também aos casais nestas circunstâncias, há temas retomados onde parece haver uma abertura para a mudança. É o caso dos entraves colocados a divorciados e recasados, com o Vaticano a perguntar se simplificar a "declaração de nulidade do vínculo matrimonial" seria positivo.

Sem prever impactos, Morujão salienta que o que se pretende fazer com o apoio de todos é uma radiografia das diferentes realidades da Igreja em todo o mundo. "A maior surpresa foi pegar-se no tema da família hoje com tantas problemáticas associadas e, em vez de se fazer uma coisa genérica, abordar com coragem e frontalidade a realidade e todos os pontos", admite o porta-voz da CEP. Para o padre e teólogo Joaquim Carreira das Neves, a abordagem, além de inovadora, confirma Francisco como homem de acção.
"Mais do que uma acção isolada, quer uma acção sistemática, há um espírito de reforma."

Carreira das Neves e Morujão vêem nesta iniciativa do Papa uma tentativa de envolver as bases da Igreja. Carreira das Neves admite que os temas do questionário vão ao encontro da vida das pessoas e mesmo das periferias e considera haver margem para mudanças. "Tenho pessoas amigas divorciadas que querem comungar e participar na eucaristia e não se sentem bem fazendo-o na sua paróquia", diz, acrescentando que também sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo poderia haver formas de integrar estes casais.

Não são públicas quaisquer reacções negativas ao questionário, mas Carreira das Neves admite que quem defende uma Igreja mais fechada poderá não concordar com esta visão "ideológica" de Francisco, que contraria a tradição de que "fora da igreja não há salvação". Mas lembra que esses movimentos sempre existiram. "O arcebispo Lefebvre, e outros, nunca aceitaram o Concílio Vaticano II."



Fonte: adital e http://www.ionline.pt/

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