A Mãe de Jesus nos mostra um Deus capaz de manifestar o seu
modo de ser feminino e masculino.
Por Irmã Lina Boff*
A grandeza feminina se expressa, sobretudo, na sua vocação
de ser mulher, a de ser mãe, promotora e defensora da Nova Criação. Esta
penetra a feminilidade, redime-a e exalta-a. Foi o modo de ser mulher de Maria.
Como mãe ela testemunha sua vocação de ser a alma dos fatos da história da
salvação de seu povo, pois ela encarna o espírito desses fatos, identifica Deus
e seu mistério na história de milhões de mulheres, sobretudo dos meios populares
de todos os Continentes, quando afirma um Deus histórico, porque intervém com
sua justiça, um Deus ético porque liberta. Daí nasce a identificação de tantas
mulheres pobres com Maria de Nazaré.
Maria nos dá a conhecer o modo de ser feminino e o modo de
ser masculino do Deus Comunidade relacionada com a pessoa humana. Ela nos
mostra um Deus que irrompe como um Deus pessoal, capaz de entrar em relação com
as pessoas, capaz de manifestar o seu modo de ser feminino e o seu modo de ser
masculino como caminho novo a ser feito pela mulher e pelo homem, juntos,
ombro-a-ombro, na promoção e na defesa da Nova Criação, para que o Projeto da
Comunidade divina, chegue à sua plenitude em Jesus Cristo.
O ser mulher e o ser homem tem, agora, um novo conteúdo: o
de viver o Novo céu e a Nova terra ainda encobertos, evocando o mistério de
Deus que transcende o masculino e o feminino, mistério que está além, e acima
das imagens, dos nomes que lhe atribuímos, e ultrapassar as experiências de fé
que fazemos a partir do nosso contexto. Deste modo, Maria garante a prática
solidária da mulher de hoje.
O Espírito que fecundou Maria de Nazaré protagoniza a
solidariedade concreta de todas as pessoas de boa vontade; resgata a presença
de Maria na promoção da vida; garante a palavra do Espírito na boca de profetas
e profetisas, sejam estas e estes, menores e maiores, mesmo que sejam
rechaçados antes que acolhidos. A Mulher de Nazaré dá testemunho destas
qualidades humanas e divinas doadas pelo Espírito. Dá provas deste testemunho
quando Lucas nos apresenta Maria que se dá pressa em ajudar Isabel que
necessita de seu serviço para acolher o filho prestes a nascer, João Batista.
Neste momento histórico Maria prorrompe, sem meias medidas, com o Cântico da
libertação salvadora, o Magníficat. O Evangelho, defronte às múltiplas
servidões do mundo moderno e pós-moderno, terá uma das suas fortes expressões
no testemunho fraterno e sororal de todas as comprometidas com a causa dos
povos excluídos, para garantir a presença da mulher promotora da vida. Defronte
a tal realidade, homem e mulher, precisam alimentar-se de uma mística,
intimamente, ligada à espiritualidade que nasce da fé-vida para se abrirem ao
Espírito que dá sentido a toda a ação evangelizadora.
Apresentar Maria como garantia da grandeza feminina nos dá
uma visão global conhecida como o Retorno do Feminino, que não é referente
somente à mulher, mas ao homem e à mulher juntos. É o retorno da outra metade
da humanidade que espera ser libertada da servidão da modernidade e da violência.
É o retorno da espiritualidade que irrompe do Espírito que vem em socorro da
nossa fraqueza e intercede por nós com gemidos inexprimíveis (cf. Rom 8).
Fonte: Dom Total
Irmã Lina Boff é teóloga e professora da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
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