Uma pesquisa feita para mensurar a opinião da sociedade
sobre a violência doméstica e assassinatos de mulheres revelou que 98% da
população conhecem a Lei Maria da Penha e que para 86% as mulheres passaram a
denunciar mais os maus-tratos depois da existência da lei. Os dados mostram
ainda que sete em cada dez entrevistados acreditam que a mulher sofre mais
violência dentro de casa do que em espaços públicos e que 50% analisam que a
mulher se sente mais insegura em casa do que fora.
A pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos
de Mulheres, divulgada hoje (5) na capital paulista, foi feita pelo Data
Popular e pelo Instituto Patrícia Galvão com 1.500 homens e mulheres, maiores
de 18 anos, em 100 municípios do país, entre os dias 10 e 18 de maio deste ano.
De acordo com a pesquisa, 54% dos entrevistados conhecem uma
mulher que foi agredida pelo companheiro e 56% conhecem um homem que agrediu a
parceira, mas 57% acreditam que, apesar de atualmente haver mais punição para
os agressores e assassinos, a forma como a Justiça pune não reduz a violência
contra a mulher. O medo se reflete na pesquisa quando 85% das pessoas disseram
que mulheres que denunciam seus maridos correm mais risco de serem
assassinadas.
Quando avaliado o nível social, a pesquisa indicou que 69%
acreditam que violência contra a mulher não acontece só em famílias pobres.
Entre os riscos e motivos para maior risco à vida da mulher foram apontados o
fim do relacionamento (43%) e a denúncia sobre o agressor, seja namorado ou
marido (85%). Para 92%, as agressões frequentes podem terminar em assassinato.
Para a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República, Eleonora Menicucci, a pesquisa mostra que a
violência contra as mulheres ultrapassa todas as classes sociais, mas a dor das
mulheres com poder aquisitivo mais alto não aparece enquanto as mulheres mais
pobres têm seus rostos estampados nos jornais, porque essas denunciam os
maus-tratos. “Isso porque elas [as mais pobres] vão às delegacias e as mulheres
que mais denunciam são aquelas que dependem das políticas públicas e dos
serviços públicos”.
Eleonora destacou que este ano houve punições exemplares
para agressores e assassinos de mulheres em casos que se tornaram emblemáticos
devido à sua larga divulgação pela imprensa. “Há leis que pegam e leis que não
pegam. A Lei Maria da Penha pegou em dois aspectos. O primeiro é que dá cadeia,
acabou com aquela baboseira de distribuir cesta básica. E o segundo é que,
hoje, mexe na conta bancária do agressor, que tem ressarcir a União sobre todo
valor que é pago aos dependentes da mulher em caso de morte”.
A ministra se mostrou indignada com o resultado da pesquisa
e disse que o governo, por meio de sua secretaria, tem que assumir a
responsabilidade por essa realidade para começar a fazer alguma coisa que possa
gerar mudanças de fato. “Temos que ter tolerância zero e eu acredito que deve
haver uma parceria entre todos os órgãos da sociedade. Inauguraremos 11 casas
da Mulher e isso é questão de honra. Não podemos mais ter pesquisas com
resultados nesse nível e temos que assumir compromisso de mudar isso”.
A diretora do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Jordão,
ressaltou que as medidas para mudar a realidade da mulher que se sente insegura
dentro de casa porque mora com o agressor já estão sendo tomadas. A questão é
aperfeiçoá-las ou aumentar a disponibilidade dos instrumentos para a população
feminina, entretanto ela colocou que a imprensa deve colaborar para mudar o
rosto e a personalidade dessa violência, mostrando que esse é um problema tão
grave quanto outros da sociedade.
“Quando vemos notícias sobre agressão, vemos o agressor
personalizado, o monstro que emparedou a mulher. Passa-se a ideia de que
existem doentes na sociedade, mas temos que passar a compreensão de que a
sociedade é atrasada com essa questão e não entendeu que esse problema atinge
graus de perversidade enorme competindo à mídia lidar com isso como um problema
de uma sociedade machista”.
O representante do Conselho Nacional de Defensores Públicos
Gerais, David Eduardo Dpiné Filho, observou que, enquanto a percepção da
violência contra a mulher foi ampliada, a confiança no serviço público não
aumentou na mesma medida e há ainda um déficit na qualidade do serviço prestado
para essa mulher vitimizada. “Ela acaba sendo revitimizada quando procura uma
Delegacia da Mulher e a burocratização do sistema ainda impede que essa mulher
tenha no serviço público uma referência que lhe dê segurança para denunciar e
não encontrar o agressor em casa para novamente a agredir”, analisou.
Fonte: Agência Brasil
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