De acordo com moradores da região e entidades
de apoio a crianças e adolescentes, o entorno da Arena Corinthians se
transformou em um ponto de exploração sexual.
Segundo as denúncias - que já chegaram à CPI da Exploração
Sexual Infantil, na Câmara Municipal -, garotas com idades entre 11 e 17 anos
estariam sendo oferecidas aos trabalhadores da obra, por meio de aliciadores.
As relações sexuais aconteceriam em pensões próximas ou até
mesmo em caminhões no entorno do estádio.
Os alertas chegam tanto de moradores do entorno da
construção, em Itaquera, zona leste, como de entidades
A exploração de crianças e adolescentes foi confirmada por
57% dos entrevistados, enquanto 25% deles admitiram ter feito programa uma ou
mais vezes com menores de idade. “São trabalhadores jovens, com idade entre 25
e 30 anos e de baixa escolaridade. Eles viajam para longe da família, ficam por
um curto período vivendo em uma comunidade sem lazer e sem vínculos, onde
acabam fazendo programas com menores de idade”, afirma Itamar Gonçalves,
responsável pela pesquisa.
O estudioso explica que o agenciador de menores cria uma
relação de dependência com as garotas. “Ele pode abrigar uma adolescente e
fazer programas em troca de aluguel. Mas eles superfaturam o espaço, intimidam
e dificulta a quitação da dívida.”
Pesquisadora do assunto na Universidade de Brasília (UnB), a
professora Maria Lúcia Leal diz que os trabalhadores não são o alvo, mas sim os
agenciadores e o poder público. “Não podemos desenvolver uma visão repressiva
sobre os trabalhadores, que migram de todos os lugares do País buscando
condições de trabalho. Dizer que eles são responsáveis não é correto, sob o
risco de criminalizar o trabalhador e a criança.”
Laércio Benko (PHS), presidente da CPI, confirmou as
acusações e revelou que os alertas não param de chegar em seu gabinete. Segundo
ele, serão feitas blitzes no local no final deste mês e início de outubro.
"A Comissão recebeu denúncias de cidadãos e ONGs que
apontam agentes que vão até o Itaquerão oferecer mulheres para programa,
incluindo crianças e adolescentes", afirma Laércio Benko . “No início, eu
acreditava que se tratava de um problema restrito, mas agora percebo que toda
grande obra pode ser foco dessa exploração."
A organização Childhood Brasil, fundada há 14 anos pela
Rainha Silvia, da Suécia, em combate à exploração sexual, confirmou a denúncia
de que este tipo de crime é comum, não apenas no entorno do Itaquerão, mas em
dezenas de grandes obras espalhadas pelo Brasil.
Em um estudo que entrevistou cerca de 300 trabalhadores de
grandes empreendimentos em São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Rondônia e Santa
Catarina, a Childhood Brasil constatou que 97% deles já presenciaram episódios
de exploração sexual infantil no ambiente das obras.
A conclusão da CPI relacionada ao tema está prevista para
dezembro, mesma época em que as obras no estádio serão finalizadas.
Ceagesp e Terminal de
Carga
Integrante da CPI, o vereador Álvaro Camilo (PSD) afirma que
a exploração sexual infantil na capital paulista também é frequente nos
arredores da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo
(Ceagesp), na zona oeste, e no Terminal de Cargas Fernão Dias, na zona norte.
“A dificuldade do flagrante é que os programas não acontecem nas ruas, mas
dentro dos caminhões ou em hotéis e pensões. O que nos chega são denúncias.”
O presidente da Comissão diz que a exploração sexual
infantil não ocorre apenas na periferia de São Paulo. “Ela acontece em todas as
regiões da cidade e atinge as classes A, B, C, D e E.” Dados do Disque Denúncia
revelam que, entre 2003 e 2011, 49 mil pessoas informaram a ocorrência de
alguma corrupção sexual envolvendo crianças e adolescentes.
Laércio Benko planeja diligências e blitz na região do
Itaquerão no final de setembro ou início de outubro, dois meses antes da
inauguração do estádio e da conclusão da CPI.
“O que vamos sugerir é que a Prefeitura de São Paulo tome a
dianteira. Pessoalmente, acredito que a Secretaria de Direitos Humanos pode
cuidar do trabalho, oferecendo assistentes sociais, psicólogos e providenciando
blitze permanentes”, diz ele. “Há muitas ONGs querendo ajudar, mas todo mundo
sabe que cachorro com dois donos morre de fome.”
Outro lado
Responsável pela obra, a construtora Odebrecht afirmou "que
não foi notificada sobre as denúncias e desconhece qualquer informação sobre as
mesmas. A empresa mantém diálogo permanente com a população e jamais houve relatos
de que acontecimentos como esses tenham ocorrido. A construtora reitera que não
possui alojamentos ou dormitórios no local, que é mantido sob constante
vigilância."
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