quarta-feira, 5 de junho de 2013

Estudo ressalta necessidade de prevenção em relação à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes


De acordo com a pesquisa, a utilização de crianças e adolescentes em sexo comercial "constitui uma das práticas mais permissivas e normalizadas de violência no Brasil”. Segundo dados do governo federal, a exploração sexual de crianças para fins comerciais ocorre principalmente na região Nordeste com 34% dos casos, seguida pela região Sudeste com 30%, Sul (18%), Centro-Oeste (10%) e Norte (8%).


Percepções controversas dividem homens e mulheres adultos/as quando analisam questões relacionadas com a sexualidade, prostituição, pornografia e Exploração sexual comercial de crianças e adolescentes (ESCCA). Isso é o que demonstra a pesquisa Homens, mulheres e a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes em quatro cidades no Brasil – Resultados de um estudo qualitativo e quantitativo, realizada pelo Instituto Promundo, com o apoio da OAK Foundation.

O objetivo do estudo, feito nas cidades de Florianópolis (Santa Catarina), Itaperuna e Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) e Natal (Rio Grande do Norte) entre 2009 e 2010, foi mapear as percepções, as atitudes e as práticas de homens e mulheres frente a questões ligadas à sexualidade envolvendo crianças e adolescentes. A ideia foi entender como e em que medida a atitude dos adultos/as contribuem para a prática da exploração sexual de menores. Além disso, a pesquisa servirá de base de dados sobre o tema, já que no Brasil faltam informações a respeito da ESCCA e "vários estudos ignoram crianças e adolescentes enquanto sujeitos de direitos”.

De acordo com a pesquisa, a utilização de crianças e adolescentes em sexo comercial "constitui uma das práticas mais permissivas e normalizadas de violência no Brasil”. Segundo dados do governo federal, a exploração sexual de crianças para fins comerciais ocorre principalmente na região Nordeste com 34% dos casos, seguida pela região Sudeste com 30%, Sul (18%), Centro-Oeste (10%) e Norte (8%). Registros do Disque Denúncia Nacional (Disque 100) revelaram que as capitais Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE), São Paulo (SP) e Natal (RN) lideraram as denúncias de exploração sexual infanto-juvenil de 2005 a 2010.

O estudo afirma que entre os/as entrevistados/as "há um amplo reconhecimento de que as crianças e adolescentes devem ser protegidos de todas as formas de abuso e exploração sexual” e existe uma "cobrança” para que os adultos que praticam sexo com crianças e adolescentes sejam punidos. "Feio”, "errado” e "sujo” foram termos utilizados em relação a sexo comercial. No geral, a participação de crianças no sexo comercial foi "absolutamente rechaçada”. No entanto, a pesquisa revelou "altas porcentagens” de adultos (homens 41% e mulheres 46%) que culpam as próprias crianças e adolescentes pelo envolvimento no sexo comercial, como se elas tivessem escolhido entrar nesta atividade. Por outro lado, alguns entrevistados/as reconheceram o uso de força em casos de exploração sexual de crianças.

Sobre os motivos que levam a essa prática, muitos entrevistados/as relacionam o fato à pobreza. As famílias também foram indicadas como uma das principais "culpadas” por criar um ambiente que pode levar à exploração sexual e foram classificadas como "negligentes” por não proporcionarem um diálogo sobre sexo e sexualidade com as crianças. Outro fator relatado refere-se ao "apelo ao consumismo desenfreado”, que estaria supostamente seduzindo as adolescentes, as arrastando para a exploração sexual.

Em virtude deste cenário, o estudo destaca a necessidade de capacitar profissionais da saúde, da educação e do sistema de justiça sobre atitudes e práticas de adultos que exploram sexualmente crianças e adolescentes. Também ressalta a importância de incluir a questão de gênero, relações desiguais de poder e direitos sexuais e concepções de masculinidade hegemônica em debates sobre a compreensão das condições da ESCCA, tanto em termos de prevenção como de proteção e apoio para as crianças e adolescentes sexualmente explorados/as.

O reforço do papel do homem como cuidador, protetor e pai, e a veiculação de campanhas sobre ESCCA direcionadas aos homens foram apontados como importantes medidas de conscientização e prevenção. "Estas campanhas devem adotar uma abordagem crítica – e encorajar os homens a incorporá-la – sobre normas relacionadas com masculinidade que naturalizam o uso de meninas com menos de 18 anos para sexo”, explica o documento.

"É necessário um fortalecimento da sociedade civil organizada e do poder público, em suas articulações estaduais e nacionais, para a coleta de dados e realização de diagnósticos que forneçam diretrizes de ação para as mobilizações que visem ao enfrentamento desse problema. Além disso, é necessário monitorar a implementação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil”, conclui.

Fonte: Adital 

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