A prostituição tem vindo a aumentar a olhos vistos, na
cidade do Lobito. A falta de emprego, o elevado custo de vida, as dificuldades
para pagar as propinas nos colégios e universidades, a ânsia de adquirir um
carro ou uma residência, entre outros motivos, estão a levar algumas jovens a
apostarem no negócio mais sórdido de todos os tempos.
Consideradas mulheres de
vida fácil, a realidade desmente, no entanto, este epíteto. A vida da
prostituta é dura, pesem embora as aparências.
As compensações flutuam entre o excessivo e o escasso. Algumas
conseguem grandes lucros, mas tornam-se vazias do ponto de vista espiritual.
Umas praticam esta actividade para aparecerem quotidianamente bem apresentadas,
com roupas de marca, perfumes de qualidade, telemóveis último modelo, e
frequentarem hotéis e restaurantes de referência. Outras fazem-no simplesmente
para sobreviver, alimentar a família e custear os estudos dos filhos.
Há ainda, mais raramente, quem o faça por mera luxúria e
necessidade de variar com pessoas estranhas. “Quando se come constantemente o
mesmo prato, fica-se com náuseas”, disse à reportagem do Jornal de Angola uma
jovem prostituta que não quis revelar o seu nome.
A dona Domingas Filipe é de opinião que as novelas, os sites
da Internet que expõem pornografia, os clubes de vídeo que proliferam nas
nossas cidades, com maior incidência nas zonas suburbanas, as discotecas e
outros locais de diversão nocturna, têm facilitado a entrada de muitas jovens
para o mundo da prostituição.
“Hoje, muitas jovens, entre os 13 e 18 anos de idade, fazem
coisas perversas relacionadas com a intimidade sexual do casal, coisas que as
suas mães, tias e avós nunca fizeram durante toda a sua vida. E quando as
repreendemos ainda nos chamam de antiquadas. Saem à sexta-feira para irem a uma
festa com uma amiga e muitas vezes só regressam no domingo, a altas horas da
noite. Chamam a isso evolução”, lamentou.
Para evitar a censura da comunidade onde vivem, algumas
jovens de Benguela, principalmente aos fins-de-semana, vão exercer a
prostituição no Lobito, e vice-versa. Os locais preferenciais para as suas
investidas são as paragens de táxi e autocarros, os restaurantes, discotecas e
hotéis, onde algumas chegam mesmo a hospedar-se.
Jovens estrangeiras
na Zona Comercial
Na cidade do Lobito já se vêem muitas cidadãs da República
Democrática do Congo e do Congo Brazzaville no negócio da prostituição. Durante
o dia dedicam-se ao comércio nos mercados informais, fazendo aplicação de
cabelo postiço ou manicura, entre outras pequenas actividades, e na calada da
noite espalham-se pela Zona Comercial, preferencialmente próximo do portão 7 do
Porto Comercial do Lobito, numa casa nocturna, cujo nome preferimos ocultar,
frequentada por marinheiros.
Quem passa por esse local, entre as 21 horas e a uma da
manhã, fica sem saber se está num bairro de um dos Congos ou de Angola. Elas
interpelam homens que caminham isolados e viaturas que estacionam, e
oferecem-se às pessoas do sexo oposto, dispostas a saciarem os desejos
masculinos, utilizando toda a astúcia possível na ânsia de ganhar o dinheiro
que lhes garanta uma sobrevivência com o mínimo de sobressaltos.
Em conversa com algumas delas, o Jornal de Angola foi
informado que os preços podem variar entre os cinco mil kwanzas, para um
“serviço” simples, e 15 mil, se a noite for mais longa e diversificada. Se o
encontro acontecer num local mais luxuoso, o preço pode alcançar os 25 mil ou
30 mil kwanzas.
A forma como invadem a Zona Comercial (em blocos) dá a
entender que existe algum tipo de organização por detrás delas e que se trata
de um mercado rentável. A reabilitação da estrada nacional número 100
(Luanda/Benguela) tornou a ida até ao Lobito bastante fácil.
Algumas das prostitutas de rua já conheceram a cadeia, por
terem sido encontradas “em acção” em viaturas estacionadas em plena via
pública, motivo que as levou a serem mais cautelosas, andando aos pares:
enquanto uma “trabalha” a outra vigia e assim anda o negócio.
A Zona Comercial não é o único local de acção das
prostitutas. Na Canata, a profissão é muito comum desde o tempo colonial. Na
zona alta da cidade, também as encontramos em pequenos restaurantes, que
geralmente se dedicam à venda de bebidas e petiscos e possuem alguns quartos.
Zungueiras
disfarçadas
Mais recentemente também se tornou comum ver zungueiras tão
bem apresentadas, que até confundem os clientes. São moças esbeltas, bem
apresentadas e perfumadas, que se disfarçam de zungueiras para conseguirem os
seus objectivos. Muitos homens, que já descobriram o “truque”, interpelam-nas e
à primeira abordagem elas discutem logo o preço. Se o valor estiver dentro das
suas expectativas ou for superior, deixam a mercadoria com uma amiga e partem
com o cliente.
Entre as zungueiras, a prostituição está a enraizar-se por
muitas delas, depois de longa caminhada durante o dia, não conseguirem vender
nada. Para não regressarem a casa de mãos vazias, optam por comercializar o
próprio corpo.
“Estou a rodar desde manhã e até agora não consegui nada. Se
aparecesse um tipo que me desse qualquer coisa para comprar comida para as
crianças nem olhava para trás”, confessou uma delas.
Igreja Católica
admite aumento
Para compreender melhor o fenómeno, o Jornal de Angola falou
com Dília Lopez, coordenadora do Centro Social Renascer, que se dedica à
educação de prostitutas. As irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, adstritas à
Igreja Católica, encontram-se no Lobito desde 2000, a trabalhar na minimização
das causas e consequências da prostituição, dando às jovens amparo e formação.
“Antes era uma prostituição de meninas de rua, o que não
acontece agora. Vemos em todos os cantos do Lobito, sobretudo a partir das 22
horas, em lugares específicos, na ponta da Restinga, Zona Comercial, nas Bombas
de Combustível, entre outros, muitas raparigas, cada dia com menos idade. Já
não são as chamadas “Catorzinhas”, agora até estão expostas adolescentes com 12
anos”, reconheceu Dília Lopez, que se recusou a ser fotografada.
Adiantou que na cidade existem diferentes níveis de
prostituição. “Há a de sobrevivência, que aglomera aquelas jovens que em casa
não têm nada para comer e assim cobrem as necessidades básicas. Muitas vezes os
pais passam a vida na bebedeira, as mães e os filhos são vítimas de violência e
as jovens vêem como saída, perante a pobreza e a violência familiar, ir para a
rua conseguir o sustento mais fácil para a mesma família”, sublinhou.
Considerou que há outras que se prostituem para entrarem nas
escolas e universidades, para além daquelas que querem acompanhar a moda e
estar dentro de outros grupos sociais.
A irmã Dília Lopez, de nacionalidade colombiana, foi
peremptória ao afirmar que, quando uma mulher entra no mundo da prostituição,
ganha hábitos e costumes de que posteriormente tem dificuldade de se livrar,
porque o meio social faz muita pressão e com o grupo de amigos que se cria é
difícil sair dessa prática. “Tenho informações que na zona do Porto Comercial
do Lobito existem mulheres do Congo Brazaville e da RDC que também exercem a
actividade, inclusive algumas em situação migratória ilegal. A única diferença
que existe é que estas são adultas e creio que estão nessa actividade por
dificuldades financeiras”, afirmou.
Um jovem educador da área social, acrescentou Dília Lopez,
informou-me que nos últimos tempos também se vêem jovens asiáticas, sobretudo
da China e talvez Filipinas, que de dia se dedicam a trabalhos de fotografia e
fotocópias e de noite vão para os bares prostituírem-se.
Interpelada sobre a notória presença de muitas jovens
religiosas de várias congregações no mundo da prostituição, frisou que o tema
não tem diferença de raças ou religiões. Perante uma necessidade ou uma quebra
emocional pode-se entrar nesse circuito. “Conhecemos muitas meninas de
diferentes igrejas com um potencial espiritual imenso e que acreditam em Deus,
mas, devido às necessidades e outras circunstâncias, tornaram-se vítimas da
prostituição”, assegurou.
Dília Lopez referiu que muitas delas, não só pela pobreza
mas por terem sofrido violações de familiares ou outras pessoas, possuem uma
auto-estima muito baixa.
“E uma maneira negativa de tentar sobreviver a essa situação
é entrar no mundo da prostituição”. A coordenadora do Centro Social da Igreja
Católica afirmou que, “em geral, uma mulher que se prostitui tem uma
auto-estima baixa e o primeiro trabalho que deve ser feito com ela é
ensinar-lhe a valorizar-se a si própria como mulher e faze-la entender que,
apesar de estar nessa vida, pode superar-se, ter um valor grande dentro da
humanidade e da sociedade”.
Primeiro, disse a irmã, deve-se levantar a sua auto-estima,
conhecer os seus problemas e sofrimentos, porque uma mulher que se prostitui
sofre muito e é muito violentada.
Dília Lopez adiantou que a família e a sociedade não devem
virar as costas a essas jovens prostitutas, mas sim dar-lhes outras
alternativas, amparando-as e escutando-as.
“As estruturas do Governo devem criar mais postos de
trabalho, porque muitas dessas jovens têm maridos desempregados e estes mandam
as mulheres trabalhar para os sustentarem.
Este tema de sobrevivência é muito complicado, porque é
muito doloroso uma jovem ver a sua família a passar fome, com particular realce
para as crianças”, asseverou.
Na sua óptica, os jovens necessitam de formação e de
oportunidades de trabalho, porque a prostituição é uma via para a transmissão
de várias doenças, principalmente a sida que tem estado a dizimar e a fazer
desmoronar muitas famílias em África, e não só.
Fontewww.dartanha.blogspot.com.br
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