O desejo de conquistar fama e riqueza no exterior alimenta
uma indústria criminosa que faz do mineiro uma das principais vítimas. Minas
Gerais é a segunda rota no Brasil para o tráfico internacional de pessoas –
atrás apenas de Goiás. Entre 1999 e 2011, a Polícia Federal (PF) instaurou 51
inquéritos no Estado, que incluem aliciamento para prostituição, adoção ilegal
e trabalho escravo.
Nesse período, 108 pessoas foram indiciadas, mas apenas seis
permanecem presas, conforme o Ministério da Justiça. A PF evita comentar os
números e dar detalhes, mas garante que investigações estão em curso.
O medo e o constrangimento dificultam as apurações. Além
disso, os parentes das vítimas preferem o silêncio por acreditar que não se
trata de um crime, mas de uma decisão particular.
O tráfico internacional de pessoas só perde em lucratividade
para o contrabando de drogas e armas de fogo, conforme a Organização das Nações
Unidas (ONU). A estimativa é a de que pelo menos R$ 20 bilhões sejam
movimentados por ano.
Quem sonha com uma vida melhor em terras estrangeiras paga
caro. Os “agenciadores” chegam a cobrar até R$ 20 mil para despachar e garantir
hospedagem em outro país. Em Minas, a maioria dos aliciados são mulheres,
travestis e transexuais.
Contêineres
Também há casos de homens enganados, como Q.A., de 35 anos.
A viagem dos sonhos rumo à Europa virou pesadelo. A frustração ocorreu há dez
anos, mas, até hoje, ele se lembra com chateação dos nove dias em que ficou na
Irlanda.
O rapaz partiu rumo ao Velho Continente após acertar, por
telefone, a viagem e o trabalho em um restaurante com a conhecida de uma amiga.
Chegando ao local, foi informado de que a vaga estaria ocupada e que lhe
restava descarregar contêineres.
Dias depois, a mesma mulher que ofereceu o emprego queria
reter o passaporte dele. Desconfiado, na mesma noite Q.A. trocou a passagem de
volta para o Brasil. “Sabe-se lá o que ela faria comigo. Não quis arriscar”,
afirma.
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