Na Alemanha, situação geral das profissionais melhorou nos últimos dez anos, com
nova legislação. Mas principais vítimas de exploração vêm do Leste Europeu. E
internet traz novos perigos.
No dia 02 de junho, de 1975, cerca de 150 mulheres, todas
profissionais do sexo, ocuparam uma Igreja em Saint-Nizier, na França por
garantia de direitos da profissão e por um tratamento mais digno. A causa era
o elevado número de detenções, em nome de uma “guerra contra os cafetões” e os
altos índices de assassinatos de prostitutas que não eram sequer investigados.
Esses foram os principais motivos para que essas mulheres, que já eram/são
marginalizadas pela sociedade, ocupassem uma igreja e protestassem.
No dia 10 de junho, as mulheres que ocupavam a igreja de
Saint-Nizier foram brutalmente expulsas pela policia. Essas profissionais, ao
protestarem, saírem do silêncio e denunciarem o preconceito, a discriminação e
a arbitrariedade com a qual a profissão é tratada, chamaram a atenção para a
situação de risco e de indignidade que viviam, por esta razão, o dia 02 de
junho é declarado o dia internacional das prostitutas.
Na Alemanha, situação
geral das profissionais melhorou nos últimos dez anos, com nova legislação. Mas
principais vítimas de exploração vêm do Leste Europeu. E internet traz novos
perigos.
Laura, de Wuppertal, é loura, de 30 e poucos anos. Num
portal online, ela atrai clientes com seu "alto nível e erotismo sem
fronteiras", e admite "interesses financeiros". É pouco provável
que a cor do cabelo seja verdadeira a idade, talvez. Mas ela oferece
"girlfriend sex" pseudoíntimo. Em média, seu perfil alcança 18 mil
cliques por ano, e paralelamente ela faz publicidade para seu serviço de
acompanhantes, em seu site particular.
O Dia Internacional da Prostituta, comemorado neste sábado
(02/06), também se dirige a call girls como Laura. Sua meta é tornar
publicamente visíveis as profissionais do sexo, mas em especial chamar a
atenção para a discriminação que sofrem e para suas más condições de vida e de
trabalho mesmo na Alemanha, onde há exatamente dez anos a Lei da Prostituição
garante direitos mínimos, como serviços sociais e cuidados de saúde básicos.
Desinformação
"Em especial as mulheres dos novos países-membros da
União Europeia [no leste do continente] trabalham aqui sob as piores
condições", relata a jornalista Chantal Louis. Ela escreve regularmente
sobre prostituição forçada para a revista de política feminina Emma. "Não
adianta nem falar de seguro-desemprego com elas, muitas são analfabetas. Os
benefícios jurídicos passam longe delas."
Também Sybille Schreiber, encarregada de assuntos ligados à
prostituição forçada e tráfico humano da ONG Terre des Femmes, constata:
"A maioria das prostitutas não tem nem ao menos plano de saúde", por
não conhecerem seus direitos.
Cerca de 80% das profissionais do sexo em atividade na
Alemanha são imigrantes na Áustria a cifra chega a 90% , a maioria do Leste
Europeu e de nações africanas. Com cerca de 20%, cada uma, a Bulgária e a
Romênia encabeçam uma estatística baseada em estimativas científicas.
Dados oficiais não existem. Como na Alemanha prostituir-se
não é contravenção, as mulheres não são cadastradas. As estatísticas policiais,
contudo, registraram em 2011 mais de 600 casos de tráfico humano para fins de
exploração sexual.
Comercialização pela internet
A ativista dos direitos da mulher Sybille Schreiber afirma
que nos últimos anos a internet "transformou todo o mercado da pornografia
e prostituição". Por um lado, está cada vez mais fácil para os homens
entrar em contato com mulheres jovens. Por outro lado, as ofertas de ajuda
alcançam com dificuldade as mulheres que se encontram no exterior. Elas são
difíceis de encontrar, costumam prostituir-se em diversos países, antes de
retornar às famílias com o dinheiro ganho.
A internet facilita tanto para as mulheres como para os
traficantes sondar o mercado nos países vizinhos e fazer publicidade própria.
Em sites especializados, as mulheres leiloam a si mesmas ou são leiloadas.
"Em si, a linguagem nesses portais já é tão desumana, que nós as
denunciamos frequentemente ao Departamento Federal de Investigações da
Alemanha", comenta a assistente social Astrid Gabb, do centro de
aconselhamento Madonna, na cidade de Bochum.
"As jovens curiosas se informam sobre as possibilidades
de renda através da prostituição no exterior", diz Mara Dijeva, da
associação Agisra, em Colônia. Ela presta aconselhamento a imigrantes que se
tornaram vítimas do comércio sexual forçado. "As menores de idade também
utilizam espaços de bate-papo impossíveis de controlar, e lá caem nas mãos de
homens que seria melhor não terem conhecido."
"Loverboys" na rede
Um fenômeno que não é novo, mas que assumiu novas formas e
dimensões, são os "loverboys": homens que constrangem as vítimas à
prostituição empregando chantagem emocional. Através da internet, eles têm
acesso fácil a grupos afins de jovens de ambos os sexos, e frequentemente
menores de idade.
Mas os criminosos também travam contato através de redes
sociais como o Facebook, supostamente partilham, em longos e-mails, todos os
desejos, sonhos e interesses, escrevem sobre um futuro comum, durante um
período relativamente longo. Até que a dependência psíquica fica forte o
suficiente e há trocas de segredos.
A partir do primeiro encontro, as meninas são pressionadas
com as informações que procuram ocultar de seus pais e amigos. "Num dos
casos, o homem violentou a moça no primeiro encontro e filmou o ato. Com esse
vídeo, ele mais tarde a chantageou e forçou à prostituição", relata
Schreiber, da Terre des Femmes.
A assistente social Gabb alerta: um dos perigos da rede é
que as vítimas não têm ideia de quem encontrarão mais tarde. "No bordel,
elas pelo menos veem o homem, pois ele tem que fazer contato diretamente."
Fonte : www.opovo.com.br (Johanna
Schmeller)
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