Há um mês, a Congregação para a Doutrina da Fé pediu, com a aprovação de Bento XVI, uma reforma completa desse órgão, que representa 80% das 57 mil religiosas norte-americanas, considerando que os seus posicionamentos doutrinais são "um assunto de preocupação séria e grave", e referindo-se a um feminismo radical.
Essa decisão provocou a cólera de milhares de católicos que não compreendem como é possível criticar essas religiosas, comprometidas em todos os níveis da saúde, da educação, da ajuda aos mais fracos... Circulam muitos abaixo-assinados, sendo que o do site Change.org já coletou mais de 40 mil assinaturas.
Nesse debate virulento e muito polarizado, muitos não hesitam em opor sem meios termos essas "pioneiras da justiça", essas "advogadas da paz" ao Vaticano e aos bispos norte-americanos, acusados de querer reduzi-las ao silêncio.
De Boston a Seattle, de Los Angeles a Washington, em frente
às catedrais de dezenas de cidades norte-americanas, começaram na noite da
última terça-feira vigílias de oração e manifestações que durarão até o fim do
mês. "Queremos mostrar o amplo apoio de que as religiosas gozam nos EUA e
convidar o Vaticano a revogar a declaração crítica contra elas", explica
Jim Fitsgerald, do Nun Justice Project, uma rede de associações católicas
criada para apoiar a Leadership Conference of Women Religious (LCWR).
Há um mês, a Congregação para a Doutrina da Fé pediu, com a
aprovação de Bento XVI, uma reforma completa desse órgão, que representa 80%
das 57 mil religiosas norte-americanas, considerando que os seus
posicionamentos doutrinais são "um assunto de preocupação séria e
grave", e referindo-se a um feminismo radical.
Essa decisão provocou a cólera de milhares de católicos que
não compreendem como é possível criticar essas religiosas, comprometidas em
todos os níveis da saúde, da educação, da ajuda aos mais fracos... Circulam
muitos abaixo-assinados, sendo que o do site Change.org já coletou mais de 40
mil assinaturas.
Nesse debate virulento e muito polarizado, muitos não
hesitam em opor sem meios termos essas "pioneiras da justiça", essas
"advogadas da paz" ao Vaticano e aos bispos norte-americanos,
acusados de querer reduzi-las ao silêncio.
O artigo de Nicholas Kristof, famoso jornalista
norte-americano, no jornal New York Times do dia 28 de abril, resume esse
clima: "Elas são as pessoas mais corajosas, mais sólidas, mais admiráveis
do mundo. Durante as minhas viagens, vi religiosas heroicas desafiando os
senhores da guerra, os cafetões e os bandidos. Até mesmo quando os bispos foram
a vergonha da Igreja cobrindo os abusos de crianças, as religiosas a resgataram
com o seu humilde trabalho em favor dos mais necessitados".
Esse braço de ferro tem raízes muito profundas. Se a LCWR
foi fundada em 1956 para "facilitar a comunicação entre o Vaticano e as
religiosas", a partir de 1971, quando a organização reescreveu os seus
estatutos, ela pssou por uma evolução, tornando-se "uma organização
independente, profissional, com uma agenda própria", declara a jornalista
Ann Carey, que publicou em 1997 um estudo documentado sobre As irmãs na crise.
Segundo ela, muitas foram mais longe do que o Concílio
preconizava. A sua "experiência vivida" em campo tornou-se para
muitas "uma referência teológica mais importantes do que as vozes oficiais
do magistério da Igreja".
Por exemplo, em 2006, as beneditinas de Madison (Wisconsin)
foram liberadas de seus votos para transformar seu mosteiro em um centro
ecumênico, onde vivem irmãs de diversas confissões. Ali, não se celebra mais a
missa, mas sim cultos, ao longo dos quais as pessoas são convidadas a
"partilhar o pão da vida ao redor da mesa comum"...
George Weigel, historiador da Igreja, escreve que, em muitos
casos, "a sua vida espiritual é mais influenciada pelo Eneagrama e por
Deepak Chopra [figura do desenvolvimento pessoal], do que por Teresa d'Ávila e
Edith Stein. As suas noções de ortodoxia são, em termos gentis, inovadoras, e a
sua relação com a autoridade da Igreja pode ser descrita como um desprezo pouco
disfarçado".
Em vários momentos, o Vaticano enviou advertências às
religiosas norte-americanas. Em 1992, uma parte das irmãs deixou a LCWR e criou
um grupo alternativo, o Conselho das Superioras Maiores das Religiosas (CMSW).
Uma nova advertência foi enviada pela Congregação para a
Doutrina da Fé em 2001. Em particular, o Vaticano questionava os encontros
anuais do LCWR, aos quais eram convidados conferencistas cujas posições éticas
divergiam das do magistério da Igreja. "A Congregação para a Doutrina da
Fé pode ter recebido cartas individuais de religiosas contestadoras, mas a
LCWR, enquanto organização, jamais tomou posição oficialmente contra o ensino
da Igreja", declara o padre Thomas Reese, ex-editor-chefe da revista
America. "Algumas irmãs talvez foram um pouco longe demais, mas, para a
grande maioria, trata-se de pessoas boas que nada mais fazem do que tentar
aplicar o Evangelho na vida cotidiana e que permaneceram profundamente ligadas
à Igreja Católica. Mesmo com relação à reforma da saúde de Obama, que inclui o
financiamento do aborto e da contracepção, é verdade que algumas religiosas se
opuseram aos bispos, mas não pelos conteúdos, e sim pela forma". Indo mais
fundo, trata-se de um "conflito de poder", segundo o jesuíta.
De fato, as religiosas norte-americanas hoje estão cheias de
diplomas e de graus acadêmicos, e dirigem universidades, hospitais, serviços
diocesanos, com o calibre de PDG (Presidentas Diretoras Gerais) de grandes
empresas. "São mulheres brilhantes, que há décadas se especializaram nas
questões sociais, educacionais etc. Os bispos não devem dizer o que elas devem
pensar", afirma o padre Reese.
Entrevistada recentemente pela National Public Radio, a Ir.
Simone Campbell confirmava: "Pio XII ordenou que as religiosas se
formassem em teologia. Levamos isso a sério e o fizemos. E agora, tentam nos
modelar de acordo com o que eles pensam que devemos ser, sem se darem conta de
que fomos fiéis àquele apelo o tempo todo".
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