As pessoas vivem fazendo comparações. Comparam-se com outras
e também comparam as pessoas entre si. Não se dão conta de que comparar é negar
a beleza que existe em cada um. Quando você entra nesse esquema de comparações,
alguém sempre sai perdendo. E quem perde geralmente é você mesmo. Imagine
quando você comenta ou pensa....
"O Marcos era mais carinhoso que você..." (perceba
como você se sente infeliz agora);
"A Sônia era mais batalhadora que você..." (e ela
não está mais com você); "Se eu fosse tão refinado quanto o Mário..."
(você se sente tão inferior assim?).
Cada um de nós é o que é, tem a sua própria essência. E quem
não se sente aceito não tem motivo para mudar. Querer mudanças radicais é não
aceitar a essência do outro. As mudanças precisam ser operadas, sim, mas
mediante um crescimento individual e também como conseqüência do
relacionamento. Você tem determinada altura e não pode diminuí-la nem
aumentá-la. A aceitação desse fato é fundamental para você viver bem, abaixando
a cabeça quando a entrada for baixa ou ficando na ponta dos pés quando precisar
alcançar algo que está num ponto muito alto para você.
Certamente, você poderá conquistar objetos materiais, mas
aspectos da personalidade são estruturas existentes há muito tempo e que só
vagarosamente podem se modificar, mesmo assim apenas quando a pessoa decide
mudar. Comparar é diferente de admirar, pois a admiração cria uma motivação
para evoluir, enquanto a comparação cria um sentimento de inferioridade. Se
você, por exemplo, admira o casamento de um amigo que é feliz, alguma
inspiração pode sair daí para que sua vida também seja mais harmoniosa. Admire
as virtudes do casamento dele, mas não deixe de valorizar os aspectos positivos
do seu relacionamento.
Um depoimento interessante reflete o que pode acontecer
entre duas pessoas. Estávamos os dois a sós, mas eu percebia nele outras
personalidades. O homem com quem eu estava se desdobrava em três: um era o
homem que eu acreditava que ele fosse; o outro, o que ele acreditava ser; e o
terceiro, o que ele era realmente.
Apesar de eu o ter como companheiro, de meu amor por ele vir
do fundo do meu ser e de eu revelar a ele meus segredos mais íntimos,
deixando-o entrar em mim, buscando uma sintonia maior do que a vivida até
então, essa escolha revelava muito de mim. Muito do que nós vivíamos só
acontecia na minha imaginação. Com alguma atenção eu podia perceber que, no
íntimo, eu vivia projetando imagens e que, com base nelas, eu o havia
escolhido.
Eu podia, também, ver refletida nos olhos dele a minha
própria imagem se desdobrando em três." As características básicas das
pessoas que procuramos coincidem ou se opõem, na maioria das vezes, às de
alguma pessoa especial e importante da nossa infância.
Quando as pessoas iniciam uma nova relação, geralmente vêem
o outro como uma pessoa diferente dos parceiros anteriores, como alguém
especial.
Porém, a medida que os problemas vão surgindo, começam as
comparações com o último relacionamento e, depois de algum tempo, reafirma-se a
crença negativa de que amar não dá certo. Freqüentemente ouvimos a afirmação:
"Eu não dou sorte mesmo; comigo as situações se repetem. Sempre me
apaixono pela pessoa errada".
Alguma vez você já experimentou essa sensação? Porém, em
lugar de se queixar, parou para pensar que pontos em comum têm essas pessoas
com as quais você se envolve e que, depois de um certo tempo, apresentam os
mesmos defeitos e comportamentos? Quando, num relacionamento, não amamos o
outro como realmente ele é, mas como uma imagem que construímos,
inevitavelmente criamos frustração para ambos.
Embora não se leve em consideração, é útil a análise do
"curriculum amoroso" de uma pessoa. Se ela começa uma relação nova a
cada curto espaço de tempo, então o prognóstico não é bom. Mas isso não quer
dizer que ela não possa alterar esse comportamento, se decidir investir no
amor.
O texto a seguir caracteriza bem a pessoa que sempre procura
alguém ideal:
"Enquanto o parceiro ideal não chega, eu vou bebendo
muito, fumando e deixando a vida correr. Mas, quando ele aparecer, vou ter uma
vida calma no campo. Bem... afinal, só tenho 20 anos...
Enquanto ele não chega, resolvo trabalhar muito, ler tudo o
que puder, aproveitar as gulodices da vida. Quando ele chegar, eu quero estar
em boa situação financeira, para curtir a vida com ele. Afinal, só tenho mesmo
30 anos...
Ele ainda não chegou. É verdade que agora já não tenho um
corpinho jovem nem aquela disposição toda, faço exercícios, mas eles são um
pouco mais lentos. Compreendo que o meu par ideal demora, mas sei que ele virá.
Afinal, ainda tenho 40 anos.
Quanta cultura e sabedoria acumulei durante todos esses
anos... Agora, já não me serve qualquer um. Não gosto de qualquer conversa e já
não tolero determinadas atitudes. Tenho 50 anos e ainda espero encontrá-lo, mas
agora que estou madura sei exatamente o que quero...
A realidade me acordou hoje, somente aos 60 anos...
Meu coração bate com uma certa tristeza!
Neste momento, penso em quantos amores interessantes
cruzaram o meu caminho... Por onde seguiram? Estão sozinhos como eu? Por que
descartei tantas chances não ideais? Por que tanta intolerância?
Quando José me pediu para vestir azul, percebi que era o
branco que me atraía. Quando Antônio me pediu para usar o branco, encontrei a
beleza no verde.
Hoje a maturidade me revela: não era nem o azul nem o
branco... A cor realmente não importava. Eu era apenas um botão, pronto para
desabrochar, e ninguém percebeu isso. Nem mesmo eu, que estava preocupada em
esconder-me com o azul ou com o branco.
Autores: Roberto Shinyashiki e Eliana Bittencourt Dumêt
Trecho do livro: "Amar Pode Dar Certo"Editora Gente
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