"Nós abraçamos o nosso tempo como um tempo santo":
esse é o programa da Leadership Conference of Women Religious, em destaque em
seu site. Entidade de direito canônico, a Conferência reúne mais de 1.500
superioras de institutos de vida consagrada, representando 80% das 57 mil
religiosas católicas norte-americanas. Depois de cinco anos de investigações,
na quinta-feira passada, a Santa Sé denunciou formalmente a Conferência e
encarregou o bispo de Seattle para orientar a sua limpeza.
A reportagem é de Marco Ventura, publicada no jornal
Corriere della Sera, 22-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em nome do papa, a Congregação para a Doutrina da Fé se
levantou contra a "cultura secularizada contemporânea", que está
corrompendo as religiosas norte-americanas. A acusação é duríssima: a lógica do
mundo, acusa a Congregação, impregnou "a própria identidade das religiosas
enquanto cristãs e membros da Igreja" e já infectou "a prática
religiosa, a vida comunitária, a autêntica espiritualidade cristã, a vida moral
e a prática litúrgica".
Na sua "confusão doutrinal", as madres superiores
traem a verdadeira doutrina católica: desobedecem aos bispos e ao papa, estão
embebidas de um "feminismo radical", criticam a Igreja de Roma por
ser "patriarcal", experimentam liturgias e instituições inspiradas na
paridade entre os sexos e preferem a justiça social à luta contra o aborto e a
eutanásia.
Os manuais da Conferência "carecem de um suficiente
fundamento doutrinal", as professoras não se submetem à censura prévia,
grupos de irmãs atacam a Congregação acerca do sacerdócio feminino e da
homossexualidade. Acima de tudo, acusa Roma, as religiosas se esquecem de que,
na Igreja, não existe profecia que não seja "regulada e verificada"
pelas autoridades.
O jornal New York Times defendeu a "preciosa obra"
e a "voz corajosa" das irmãs, remetendo o confronto às tensões entre
direita e esquerda cristãs nos EUA. Mas o conflito é mais profundo. O retorno
da Conferência à doutrina e à obediência serve, para Roma, para "derrotar
mais rapidamente" a cultura secularizada do nosso tempo. Para as irmãs
norte-americanas, no entanto, o nosso tempo não deve ser derrotado: deve ser
abraçado "como um tempo santo".
Fonte: Ihu
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