Quatro trabalhadores em condição
análoga à escravidão foram resgatados de uma fazenda em Corumbá, no Mato Grosso
do Sul. Um deles tem cerca de 70 anos (como ele não possui documentos, não
soube precisar a idade) e vivia nessa situação há pelo menos 20 anos.
A
operação durou cinco dias, devido à dificuldade de acesso e deslocamento dentro
da propriedade, que precisou ser percorrida de carro, helicóptero e barco. Além
do Ministério do Trabalho, participaram da ação Ministério Público do Trabalho,
Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar Ambiental e
Polícia Civil.
Segundo o auditor fiscal do
Ministério do Trabalho, Antônio Parron, que esteve no local, os quatro
trabalhadores resgatados tinham atividades diferentes. O idoso, que é o caso
mais grave, era o caseiro da propriedade e fazia pequenos serviços de
manutenção desde que começou a apresentar problemas de saúde. Em épocas de
cheia do rio, a casa em que morava ficava inacessível, e ele tinha que se
abrigar em locais improvisados no meio da mata. O trabalhador nunca recebeu
salário. “Ele nos relatou que há 20 anos trabalhava em troca apenas de comida,
que era mínima”, conta Parron.
O segundo trabalhador resgatado
estava na fazenda há quatro meses. Ele morava em uma pequena construção de
alvenaria à beira de um rio. O local tinha um espaço reservado para banheiro,
com paredes de tijolos, mas sem cobertura. Havia um vaso sanitário, mas a água
para a privada precisava ser retirada do rio, bem como a que era usada para
tomar banho, lavar roupas e consumir. Não havia energia elétrica no local, a
alimentação era precária e ele nunca havia recebido salário.
Os outros dois trabalhadores
foram encontrados em um acampamento feito com lonas e redes para dormir,
localizado no meio da mata. Eles estavam há oito dias no local retirando
madeira para a construção de um curral. “A água que eles bebiam vinha de um
curixo e parecia óleo diesel de tão escura. A comida era arroz com feijão. Para
cozinhar esse alimento, eles retiraram a parte de cima de um cupinzeiro,
fizeram um buraco e ali faziam o fogo. Eu nunca tinha visto nada igual na minha
vida”, relata o auditor fiscal.
Parron conta que essa foi a
segunda vez que esse fazendeiro foi flagrado com trabalhadores em condição
análoga à escravidão. A primeira foi em 2013, quando três pessoas foram
resgatadas daquela mesma área. Na época, o idoso, que já estava na fazenda, não
tinha sido localizado no momento da fiscalização. “A área é muito grande e é
extremamente difícil se deslocar dentro dela. Nós não sabíamos do idoso. Por
isso, dessa vez, quando recebemos a denúncia, montamos uma operação com
helicópteros, carros e barcos. Nós precisávamos ter certeza de que
conseguiríamos cobrir todo o local”, explica.
Sem acordo – A primeira audiência
com o fazendeiro ocorreu no dia 09 de fevereiro, quando ele se negou a pagar os
direitos trabalhistas das pessoas resgatadas. Em 2013, quando foi flagrado pela
primeira vez, esse mesmo fazendeiro havia se negado a pagar os trabalhadores.
Porém, após ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho,
acabou cedendo. O pagamento ocorreu três anos depois e um dos trabalhadores
morreu antes de receber.
Fonte: Ministério do Trabalho
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