A pregação do Batista sacudiu a
consciência de muitos. Aquele profeta do deserto dizia-lhes em voz alta o que
eles sentiam no seu coração: era necessário mudar, voltar a Deus, preparar-se
para acolher o Messias. Alguns se aproximavam d’Ele com esta pregunta: Que
podemos fazer?
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 3,10-18 que
corresponde ao III Domingo do Advento, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.Eis o texto
Batista tem as ideias muito
claras. Não lhes propõe acrescentar à sua vida novas práticas religiosas. Não
lhes pede que fiquem no deserto fazendo penitência. Não lhes fala de novos
preceitos. Ao Messias é possível acolhê-lo olhando os necessitados.
Não se perde em teorias sublimes
nem em motivações profundas. De forma direta, no mais puro estilo profético,
resume tudo numa fórmula genial: "O que tenha duas túnicas, que as reparta
com o que não tem; e o que tenha comida, que faça o mesmo". E nós que
podemos fazer, para acolher Cristo no meio desta sociedade em crise?
Antes de tudo, esforçar-nos muito
mais em conhecer o que está se passando: a falta de informação é a primeira
causa da nossa passividade. Por outro lado, não tolerar a mentira ou o
encobrimento da verdade. Temos de conhecer, em toda a sua crueza, o sofrimento
que se gera de forma injusta entre nós.
Não basta viver a golpes de
generosidade. Podemos dar passos para uma vida mais sóbria. Atrever-nos a fazer
a experiência de nos "empobrecermos" pouco a pouco, recortando o
nosso atual nível de bem-estar, para partilhar com os mais necessitados tantas
coisas que temos e não necessitamos para viver.
Podemos estar especialmente
atentos a quem caiu em situações graves de exclusão social: despedido, privado
da devida atenção sanitária, sem rendimentos nem recurso algum... Temos de sair
instintivamente em defesa dos que estão próximos a fundir-se na impotência e a
falta de motivação para enfrentar o seu futuro.
A partir das comunidades cristãs
podemos desenvolver iniciativas diversas para estar próximo dos casos mais
gritantes de desamparo social: conhecimento concreto de situações, mobilização
de pessoas para não deixar sozinho a ninguém, aporte de recursos materiais,
gestão de possíveis ajudas...
A crise vai ser longa. Nos
próximos anos vai nos ser oferecida a oportunidade de humanizar o nosso louco
consumismo, tornar-nos mais sensíveis ao sofrimento das vítimas, crescer em
solidariedade prática, contribuir para denunciar a falta de compaixão na gestão
da crise... Será a forma de acolher
Cristo com mais verdade nas
nossas vidas.
Fonte: Ihu
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