País está em 156º lugar no ranking mundial da participação
feminina na política, numa lista de 188 países. Isso gera perplexidade e
envergonha todos os brasileiros.
Por Marco Aurélio Mello
Sabe-se que a população brasileira é constituída em maior
número pelas mulheres. Mas o que se verifica, em termos de participação
feminina, na política? A minimização dessa participação.
Levantamento revela que menos de 10% das prefeituras são
dirigidas por mulheres. Nas câmaras de vereadores, apesar de um pouco mais
alta, essa percentagem não ultrapassa 12%. Nas assembleias dos estados, o
percentual fica em cerca de 10%. Nos governos estaduais, apenas dois estados
encontram-se sob o comando de mulheres: Maranhão e Rio Grande do Norte. Ou
seja, em torno de 7%. Na Câmara dos Deputados, de um total de 513 integrantes,
há 46 deputadas federais, alcançando, em descompasso com o maior número,
considerada a população brasileira, a percentagem de 8%. No Senado da
República, o percentual é maior, de 12%, já que são dez senadoras entre os 81
membros. Vem, então, contraste estimulante: o cargo maior da República está
ocupado, pela vez primeira, por uma mulher, a presidente Dilma Rousseff.
Qual é a posição do Brasil no ranking mundial da
participação feminina na política? O 156º lugar, numa lista de 188 países. Isso
gera perplexidade e, digo mesmo, envergonha todos os brasileiros.
Relembro minha origem como juiz: a Justiça do Trabalho. O
que havia até o advento da Consolidação das Leis do Trabalho? A relação
jurídica tomador/prestador de serviços era regida pelo Código Civil,
prevalecendo as ideias napoleônicas sobre a liberdade de contratar. Essa
liberdade acabava por submeter o prestador dos serviços — já que, na vida,
precisamos optar e, geralmente, optamos pela fonte do próprio sustento — ao
tomador dos serviços.
A única forma de caminhar para um equilíbrio, presentes as
relações jurídicas, é ter o peso da lei, o peso de normas que não se mostrem
simplesmente dispositivas, incidindo ao sabor da manifestação da vontade, mas
imperativas.
A Lei das Eleições, a lei nº 9.504, de 1997, previu sistema
que posso rotular como o primeiro passo dado: o sistema de cota. Versou um piso
— refiro-me aos dois gêneros, masculino e feminino — de 30%. De forma tímida,
estabeleceu que a observância dessa percentagem mínima decorreria da vontade
dos partidos políticos, consubstanciando o preceito mera faculdade. O Congresso
avançou e substituiu, em 2009, essa faculdade pela obrigatoriedade.
Lastimavelmente, a visão machista prevalece. Surge filtro
que não é salutar, bem-vindo. É pernicioso. Reporto-me às convenções dirigidas
à escolha de candidatos. Apresenta-se, para não ser alcançado o quantitativo
mínimo, justificativa inaceitável: a falta de candidatas. Quase sempre,
afastada a sensibilidade dos partidos políticos, tem-se, salvo raras exceções,
a escolha de candidatas formais, que, em passo seguinte, recolhem-se, deixando
de participar do certame.
Há necessidade de conscientização maior. Há necessidade de
perceber-se, até mesmo, que o Ministério Público Eleitoral estará atento a
fraudes que venham a ser perpetradas quando da realização das convenções. Em
síntese, o país do faz de conta deve transformar-se em um país realmente
republicano, respeitando-se, acima de tudo, a ordem jurídica.
Em 2013, sob o ângulo simplesmente pedagógico, o Congresso
aprovou o projeto que resultou na lei nº 12.891. A chamada minirreforma
eleitoral inseriu, na lei nº 9.504/97, preceito a sinalizar que o Tribunal
Superior Eleitoral, no período compreendido entre 1º de março e 30 de junho dos
anos eleitorais, implementará propaganda institucional, em rádio e televisão,
destinada a incentivar a igualdade de gênero e a participação feminina na
política.
A lei foi editada no período crítico de um ano que antecede
as eleições. Mas, nessa parte, a aplicação é imediata, porque a publicidade
institucional decorre do próprio Texto Maior, da própria Constituição Federal,
presente o tratamento igualitário.
Conclamo todos: avancemos socialmente! Observemos a Lei das
Leis, a que todos, indistintamente, submetem-se! Avancemos culturalmente! E
clamo às mulheres: façam parte da política, façam parte da solução, esperança
de um Brasil mais sensível, mais equilibrado, mais igual!
Fonte: O Globo
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