quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mulheres, exaltadas mas marginalizadas.

O que significa repetir fórmulas vazias como "Maria é mais importante do que Pedro", sem acompanhá-las com um compromisso adequado com uma pesquisa bíblica e teológica sobre a presença das mulheres na Igreja?


A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado na revista Jesus, de abril de 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Há realidades que não estão na bolsa do mendicante, mas ele não pode abandoná-las em qualquer lugar: são os sofrimentos que habitam o seu coração. Uma delas, sempre viva e nunca adormecida, diz respeito ao meu cotidiano: eu vivo como monge, com irmãos e irmãs, homens e mulheres na mesma comunidade.

Ora, justamente as mulheres conhecem na Igreja uma condição paradoxal. Presentes em todas as partes, ao lado dos homens em todas as formas da vida cristã, tão comprometidas na transmissão do Evangelho e testemunhas de Cristo quanto os homens, na realidade, elas se encontram excluídas dos âmbitos decisionais e podem ser apenas simples fiéis, christifideles, pertencentes ao laicato ou à vida religiosa, embora sem autoridade deliberativa por serem mulheres.

Há décadas, a Igreja Católica se interroga sobre o papel das mulheres na Igreja, mas sem que nasçam respostas adequadas e convincentes. Exalta-se a feminilidade com expressões curiosas ("o gênio feminino"...), destaca-se a sua eminente dignidade de esposas, mães e irmãs, mas, depois, não lhes é reconhecida qualquer possibilidade de exercer responsabilidades e funções diretivas na Igreja.

Assim, todo o corpo eclesial fica deficitário: um corpo em que a metade dos membros deve ouvir apenas os homens intervirem na liturgia, em que as decisões que dizem respeito a todos são tomadas apenas pelos homens, em que o que as mulheres são e devem ser é estabelecido por homens, sem nem mesmo ouvi-las...

Lendo os Evangelhos e o Novo Testamento, encontramos as mulheres presentes tanto quanto os homens, e Jesus as inclui ao seu grupo de seguidores junto com os homens em uma comunidade itinerante; Maria de Magdala é destinatária, juntamente com outras mulheres, do primeiro anúncio pascal por parte de Cristo ressuscitado; na fundação das primeiras comunidades cristãs, as mulheres desempenham tarefas apostólicas.

Não por acaso, São Paulo ousa proclamar que, na comunidade cristã, já não existem mais pertenças discriminadas, "não há mais judeu nem grego, nem homem nem mulher", embora, depois, paradoxalmente, ele seja incapaz de tirar todas as consequências disso na vida da comunidade cristã.

Inicialmente, de fato, ele autoriza as mulheres a tomar a palavra na Igreja de Corinto (1Cor 11, 5), pensa e prega que os dons do Espírito Santo são dados a todos os batizados, sem preferência entre homens e mulheres. E não nos esqueçamos de que, na sociedade da época, a mulher era privada do direito de tomar a palavra na ágora.

Em seguida, porém, perto do fim da era apostólica, quando se imporia o bispo presbítero como sucessor dos apóstolos, será tirado das mulheres o direito de falar na assembleia cristã (1Cor 14, 34). Assim, uma práxis patriarcal irá prevalecer novamente na Igreja, e aquele sopro de liberdade trazido pelo Evangelho será institucionalmente contradito até hoje.

Desde então, à mulher é confiada a diaconia, o serviço à Igreja, enquanto aos homens é reservada a autoridade e, consequentemente, o poder. Só no monaquismo, fenômeno originalmente não clerical, a mulher tem os mesmos direitos e deveres do homem: pode se tornar abadessa, guia espiritual e autoridade para uma comunidade, com o poder de ensinar, de tomar a palavra na assembleia, de deliberar sobre a vida da comunidade. Nisso, o monaquismo tem um autêntico valor profético, embora geralmente não seja consciente disso e não saiba viver todas as potencialidades dessa forma de seguimento cristão.

Eis, então, as perguntas que atormentam o mendicante, sem que, na sua bolsa, haja respostas: o que significa repetir fórmulas vazias como "Maria é mais importante do que Pedro", sem acompanhá-las com um compromisso adequado com uma pesquisa bíblica e teológica sobre a presença das mulheres na Igreja? Por que não se ouvem mulheres que elaboram teologia ou são comprometidas na vida pastoral, na missão, na evangelização, na catequese?

Encontrar respostas significa abrir novos caminhos para a corrida do Evangelho.

Fonte: Ihu

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