No mundo, 129 milhões de mulheres não sentem prazer durante
a relação sexual, sofrem com intensas dores e têm dificuldades para manterem os
órgãos genitais limpos. Um número que impressiona e que, caso as tendências
atuais persistam, pode aumentar em 86 milhões até 2030, segundo alerta da ONU
(Organização das Nações Unidas) .
A circuncisão feminina, que consiste na amputação do
clitóris – em alguns casos, dos lábios vaginais também – é uma prática secular
que continua acontecendo em muitas comunidades, principalmente no Norte da
África e no Oriente Médio, e tem como objetivo condicionar a liberdade sexual
das mulheres até ao casamento.
“Não há nenhuma razão religiosa, de saúde ou de
desenvolvimento para mutilar ou cortar qualquer menina ou mulher”, afirmou o
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em comunicado. “Embora alguns argumentem
que é uma ‘tradição’, devemos lembrar que a escravidão, as mortes por honra e
outras práticas desumanas foram defendidas com o mesmo argumento”, lembrou.
Na maioria dos lugares onde é praticada, a mutilação genital
feminina é considerada fundamental na preparação da mulher para a vida adulta e
o casamento. Em países como a Somália, Guiné-Bissau, Djibuti e Egito, mais de
90% das meninas são circuncisadas. Nessas culturas, altamente machistas e
patriarcais e onde a virgindade e a fidelidade matrimonial são valorizadas, a
pressão é intensa para controlar o comportamento sexual feminino. Muitas
meninas escutam que a retirada do clitóris e dos lábios vaginais é para deixá-las
mais “limpas” e “bonitas”.
Os traumas começam na preparação do procedimento em algumas
localidades, quando muitas meninas e até bebês com menos de 12 meses, como
sublinha a ONU, têm as pernas e os braços amarrados. Depois, o uso de giletes e
outros objetos cortantes sem a correta higienização ou anestesia, quando não
levam à morte, provocam infecções que podem perdurar por toda a vida.
Os casos de infibulação também trazem riscos durante o
parto: segundo um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde), a mortalidade
de bebês é 55% maior em mulheres que sofreram procedimentos para redução do
orifício vaginal. Em alguns casos, o que resta dos lábios vaginais é costurado,
provocando dores e infeccções urinárias. Somente o marido pode “desamarrar” a costura,
quando deseje ter relações sexuais.
Felizmente, de acordo com as Nações Unidas, há sinais
positivos de progresso para acabar com a prática. “As meninas entendem
instintivamente os perigos de serem mutiladas, e muitas mães, que viram ou
experimentaram o trauma, querem proteger suas filhas de passar pelo mesmo”,
disse o secretário-geral da ONU, que citou o caso de um pai no Sudão que se
recusou a deixar as filhas serem mutiladas e, com isso, acabou criando uma
campanha de conscientização mundial -- "Saleema".
Além disso, recentemente, Uganda, Quênia e Guiné-Bissau
adotaram leis para terminar com a prática. Na Etiópia os responsáveis foram
presos, julgados e penalizados com ampla cobertura da imprensa. “Nosso desafio
atual é dar verdadeiro significado a este Dia, usando-o para ganhar apoio
público, criar mecanismos práticos e legais e ajudar todas as mulheres e
meninas afetadas ou em risco de mutilação genital”, disse Ban ki-Moon.
Filme
Flor do deserto, uma produção norte-americana, narra a
história verídica de Waris Dirie, garota somali que, aos 13 anos, foge de sua
tribo rumo à Londres para escapar de um casamento arranjado com um homem de 60
anos.
Na Inglaterra, ela descobre que é diferente quando revela à
amiga Marylin que foi circuncisada aos três anos de idade, seguindo costume de
seu povo. Embora sofra dores e tenha dificuldades até mesmo para urinar, ela
acha tudo muito normal. Porém, a amiga lhe diz que as mulheres inglesas e em muitas
outras partes do mundo não sofrem o que ela sofreu.
Enquanto trabalhava em uma lanchonete, ela é descoberta por
um fotógrafo e vira uma modelo de sucesso. Dirie depois se transformou em uma
defensora da luta pela erradicação da prática da mutilação genital feminina e
atualmente é embaixadora da ONU, além de dirigir uma ONG com seu nome. "O
mundo sabe que essas mutilações são erradas, mas até agora não se fez muita
coisa. Não entendo por que o mundo fica só olhando", disse Dirie quando filme
foi lançado no Festival de Veneza. E advertiu: "Em algum lugar do mundo
uma menina está sendo mutilada agora. Amanhã, o mesmo destino espera outra
menina".
Fonte: ( Marina Terra) Opera Mundi
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