sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pornografia da vingança reedita forma de violência

Imagens íntimas nas redes sociais reforçam a visão machista de que isso é positivo para o homem e negativo para a mulher.

Casos recentes de exposição da intimidade de mulheres na internet, como o da adolescente de 17 anos que se suicidou após ter um vídeo íntimo divulgado na rede por um ex-namorado, têm suscitado no Brasil um debate sobre machismo. Para Monalisa Barros, psicóloga e membro do Conselho Federal de Psicologia, o fenômeno, conhecido como pornografia de vingança, é uma reedição da violência de gênero, nova modalidade de violência contra mulher.

“O Brasil tem números absurdos de violência de gênero. A sociedade trata a sexualidade da mulher como algo passível de diminuí-la. Você não vê pessoas culpando um homem por ser exposto em vídeo. A sociedade ainda valoriza o exercício sexual do homem, mas deseja ver o exercício sexual da mulher ocultado. Quando isso vaza na internet, as pessoas veem a culpa na mulher. Ela passa de vítima a ré”, diz Monalisa.
Os casos de pornografia de vingança revelam a desigualdade entre homens e mulheres, pois nossa sociedade não aceita que mulheres exponham sua sexualidade, concorda Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da USP.

“Desde que o mundo é mundo, a rejeição leva a atos de vingança. Mas, hoje, com a tecnologia digital, a internet e as redes sociais, a vingança toma proporções gigantescas. Muita coisa mudou e evoluiu. A nova geração vive uma sexualidade mais livre. Mas casos extremos como a morte dessa adolescente nos revelam que ainda há limites.”

Tornar público algo íntimo, como a sexualidade, ganha uma dimensão muito ampla para um adolescente, segundo Alexandre Saadeh, professor de Psicologia da PUC-SP. “Na nossa cultura machista, filmar um homem transando é ponto positivo, a não ser que ele tenha pênis pequeno A menina fica com a pecha de vagabunda. Para uma adolescente, a situação é mais dramática. Ela se sente humilhada, como se comprometesse sua vida inteira. O adolescente acredita no afeto, no amor, e se envolve em situações que podem ser brincadeira, mas que na internet podem passar como preferência sexual.”


Punição: Projeto de Romário prevê prisão para quem divulga imagem sem autorização

No Congresso, está em tramitação um projeto de lei criado pelo deputado federal Romário que prevê penas de um a três anos de reclusão ao responsável pela divulgação de vídeos ou fotos íntimas na internet. Segundo o deputado, a criminalização desses atos servirá para evitar que mulheres sejam “subjugadas por uma sociedade hipócrita que reprime a sexualidade feminina”.

“O projeto tramita em conjunto com outros que falam sobre a proteção contra condutas ofensivas contra a mulher na internet ou em outros meios de propagação da informação. Estou confiante de que a tramitação será rápida, tendo em vista a rápida propagação desses crimes”, afirma o deputado.

“As adolescentes estão aprendendo a se relacionar e não sabem lidar com sentimentos gerados por esse crime: tristeza, vergonha e desespero. Recomendo às jovens que procurem apoio da família e denunciem os agressores à polícia, porque são vítimas e não têm culpa por terem sua intimidade divulgada em redes sociais por pessoas em que até então confiavam.”




Polícia Civil investiga caso de pornografia de vingança envolvendo ex-candidata a Musa do Brasileirão

A Delegacia Especializada de Atendimentos à Mulher de Belo Horizonte vai investigar uma denúncia de pornografia de vingança feita por uma modelo mineira. Isabella Oliveira, de 21 anos, representante do Atlético Mineiro no concurso Musa do Brasileirão, registrou um boletim de ocorrência nesta semana alegando que um empresário teria divulgado vídeos nos quais ela aparece nua.

De acordo com a modelo, o homem teria registrado cenas íntimas dos dois e divulgado as imagens, via WhatsApp, após a jovem ter sido eliminada do concurso que participava, promovido pelo programa “Globo Esporte”. Isabella afirma que estava dopada quando o empresário fez as gravações. Em um dos vídeos, ela diz que o companheiro pode publicar a filmagem no Facebook dele.

A jovem afirma que as imagens foram divulgadas após o fim do relacionamento com o suspeito. O empresário, que não teve o nome divulgado, ainda será intimado para depor. Segundo a assessoria de imprensa do concurso Musa do Brasileirão, Isabella foi eliminada da disputa após serem “constatadas irregularidades na votação da candidata”.

Casos de caso de “revenge porn” – pornografia de vingança – estão chamando a atenção das autoridades brasileiras nos últimos meses. No início de outubro, a goiana Fran tomou um susto ao descobrir que aparecia em imagens disponibilizadas na rede e precisou sair do trabalho diante das diversas situações constrangedoras causadas pela divulgação. Neste mês, a piauiense Júlia Rebeca, de 17 anos, se matou após ter fotos e vídeos íntimos compartilhados pelo ex-namorado.

Os homens acusados de distribuir gravações privadas estão sendo autuados com base na Lei Maria da Penha, por não existir, no Brasil, legislação específica para esse tipo de crime praticado no meio digital.

Fonte: Gazeta do Povo

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