A parábola do fariseu e do publicano é uma penetrante crítica
que desmascara atitude religiosa enganadora. Recentemente, ante a pergunta de um jornalista, o papa Francisco fez esta afirmação: "Quem sou eu para julgar um gay?". As suas palavras surpreenderam quase todos. Ao que parece, ninguém esperava uma resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a atitude de quem vive em verdade ante Deus.
Por José Antonio Pagola*
A parábola do fariseu e do publicano habitualmente desperta,
em não poucos cristãos, uma repulsa grande para com o fariseu que se apresenta
ante Deus arrogante e seguro de si mesmo, e uma simpatia espontânea para com o
publicano que reconhece humildemente o seu pecado. Paradoxalmente, o relato
pode despertar em nós este sentimento: "Dou-Te graças, meu Deus, porque
não sou como este fariseu".
A oração do fariseu revela-nos a sua atitude interior:
"Oh, Deus! Dou-Te graças porque não sou como os outros". Que tipo de
oração é esta de acreditar-se melhor que os outros? Até um fariseu, fiel
cumpridor da Lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se justo
ante Deus e, precisamente por isso, se converte em juiz que despreza e condena
os que não são como ele.
O publicano, pelo contrário, só diz: "Oh, Deus! Tem
compaixão deste pecador". Esse homem reconhece humildemente o seu pecado.
Não se pode vangloriar da sua vida. Encomenda-se à compaixão de Deus. Não se
compara com ninguém. Não julga os outros. Vive na verdade ante si mesmo e ante
Deus.
Circunstâncias históricas e correntes triunfalistas alheias
ao evangelho fizeram-nos a nós, católicos, especialmente propensos a essa
tentação. Por isso, temos de ler a parábola, cada um numa atitude autocrítica:
Por que nos acreditamos melhores que os agnósticos? Por que nos sentimos mais
próximos de Deus que os não praticantes? Que há no fundo de certas orações para
a conversão dos pecadores? O que é reparar nos pecados dos outros sem viver
convertendo-nos a Deus?
Recentemente, ante a pergunta de um jornalista, o papa
Francisco fez esta afirmação: "Quem sou eu para julgar um gay?". As
suas palavras surpreenderam quase todos. Ao que parece, ninguém esperava uma
resposta tão simples e evangélica de um papa católico. No entanto, essa é a
atitude de quem vive em verdade ante Deus.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola é teólogo. A reflexão proposta é baseada
no Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 18,9-14, que corresponde ao 30º
Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico.
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