Ao aproximar-se, como todos os anos, o Dia das Mães, vem
novamente o desejo de refletir sobre a maternidade, seu mistério, sua
beleza. Depois do Natal, trata-se da
festa mais celebrada e por isso mais esperada pelo comércio. Mais que os pais, que as crianças, que
qualquer outro pretexto ou data ou efeméride, as mães são celebradas e
comemoradas e presenteadas, revelando bem claramente a importância que lhes é
dada não só pelos filhos, mas pela sociedade em geral.
Maria Clara Lucchetti
Bingemer
Porém, quando e como nasceu o Dia das mães? Como é a história do nascimento no calendário
humano desta festa que hoje se impôs como acontecimento obrigatório na maioria
dos países do mundo? Quando e por que as mães começaram a ter um “dia” especial
para ver sua maternidade celebrada e festejada?
As primeiras celebrações do Dia das Mães remontam à antiga
Grécia, onde era cultuada a deusa Rea, a
mãe dos deuses Zeus, Poseidón e Hades.
Essa comemoração também coincidia com a chegada da primavera. Sendo a religião dos gregos, como em geral as
religiões antigas, regulada de acordo com os ciclos da natureza, a Primavera
significava a chegada da vida após a “morte” trazida pelo frio e pelo gelo do
inverno. As árvores nuas e secas
recomeçavam a reverdecer e florescer, a natureza inteira despertava do sono
onde estava mergulhada e renascia. Rea
então era celebrada e louvada como aquela que, sendo mãe dos principais deuses
do Olimpo - Zeus, deus do céu e do
trovão; Poseidón, deus do mar e dos terremotos; Hades, deus da morte e do mundo
invisível – era mãe de toda a realidade criada.
Os povos antigos realizavam então uma adoração formal à mãe
com cerimônias a Rea ou a Cibeles, outro nome invocado para personificar a
terra fértil, assim como Gea. Cibeles
era uma deusa das cavernas e das montanhas, muralhas e fortalezas, da Natureza
e dos animais. Era, assim, uma divindade
de vida, morte e ressurreição. E
comandava, em toda a realidade onde vivia a humanidade, o processo da vida que
vencia a morte.
Os romanos retomaram esse costume grego e chamaram esta
celebração a Hilária, situando-a nos “idos de março”, época em que no
hemisfério norte, a primavera começava a despontar e recriar a natureza
adormecida pelo frio invernal.
O cristianismo, que já nasceu dentro das culturas onde
anunciou o evangelho, tomou estas festas existentes e transformou estas
celebrações colocando ao centro a figura de Maria de Nazaré, mãe de Jesus. Em alguns países católicos, como o Panamá, o
Dia das Mães é então celebrado não no primeiro quartel do ano, ou em maio, mês
de Maria, mas no dia 8 de Dezembro, que é também e simultaneamente, a festa da
Imaculada Conceição de Maria.
Com o processo de secularização, quando as festas religiosas
vão perdendo sua força configuradora do tempo e do espaço e já não comandam
mais o calendário e as estações, encontramos uma origem do Dia das mães mais
perto de nós, no século XX com um motivo muito afetivo e real.
Uma jovem norte-americana, Anna Jarvis, perdeu sua mãe e
entrou em profunda depressão. Preocupadas
com o profundo sofrimento da jovem, algumas de suas amigas decidiram
oferecer-lhe uma festa para perpetuar a memória da falecida. Annie, agradecida, quis que essa homenagem
fosse não apenas para sua mãe, mas pudesse ser estendida a todas as mães, vivas
ou mortas.
A comemoração foi ganhando adeptos e se alastrou pelos
Estados Unidos até que em 1914 sua data foi oficializada pelo presidente
Woodrow Wilson: dia 9 de maio.
No Brasil foi em 1932 que o então presidente Getúlio Vargas
oficializou a data no segundo domingo de maio.
E em 1947 o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, do Rio de Janeiro,
determinou que a data fizesse parte também do calendário oficial da Igreja
Católica.
Como vemos, seja na esfera do sagrado e do profano, no céu
ou na terra, na antiguidade ou na atualidade, a maternidade foi e é sempre algo
que a humanidade entendeu dever louvar, comemorar, celebrar.
Nem poderia ser de outra maneira. Poucas coisas há tão importantes para um ser
humano como o ventre que o gerou e o trouxe à vida e à luz. Todas as certezas podem ruir. Sempre restará uma: a de ter sido gestado e
parido do ventre de uma mulher. Por isso culturas como a judaica, por exemplo,
vêem na mãe a segurança da pertença ao povo.
É judeu quem é filho de mãe judia.
E no Brasil, a abolição da escravatura começa pelos ventres das
africanas que, ainda que escravas, têm um “ventre livre”, capaz de parir filhos
alforriados já ao nascer, sobre quem já não pesam as cadeias e o jugo terríveis
que dizimaram gerações.
Ventre que gera, abriga, dá à luz. Peitos que alimentam, aconchegam,
aninham. Mãos que acariciam, lavam, penteiam, fazem dormir.
Olhos que riem e choram ao ritmo da vida de outro; coração que gerou o bater de
outro coração e baterá toda a vida não mais ao próprio ritmo, mas no ritmo
outro que alterará o seu.
A maternidade é a condição de possibilidade de que a
humanidade continue existindo. É a prova cabal e indubitável de que, por mais
rigoroso e cruel que seja o inverno, a primavera está sempre à espreita em algum
ventre grávido, derramando-se morna e branca de dois seios túrgidos e repletos.
Bem sabiam os antigos ao celebrar a deusa Rea ou
Cibeles. É digno e justo louvar a
maternidade de todas as mães havidas e por haver pois nelas, por elas e graças
a elas, a história da humanidade continua a ser uma história onde a vida sai
sempre vitoriosa de todas as contendas.
FELIZ DIA DAS MÃES PARA TODAS E TODOS!!!
Fonte: Amaivos
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