sexta-feira, 10 de maio de 2013

Filme saudita retrata opressão feminina-O Sonho de Wadjda :Imperdível -


O filme é uma crítica precisa ao machismo das próprias mulheres. O primeiro filme realizado por uma diretora saudita, é, já pela simples existência, um pequeno ato de insurreição.


A protagonista é a garota Wadjda (a estreante Waad Mohammed), de 12 anos, cujo comportamento chama a atenção na escola onde estuda, por coisas banais, como o fato de ela usar tênis, em vez de sapatos pretos, e eventualmente falar mais alto do que a diretora Hussa (Ahd) acha aceitável para uma mocinha.
Embora, a rigor, nada faça de mal, Wadjda é constantemente repreendida na escola por não se recolher com a devida rapidez para dentro quando aparecem, no alto muro, homens olhando para dentro da escola. Ler revistas no fundo do pátio também é considerado um pecado.
Ela não liga muito à pressão, até porque em casa seus pais mostram-se mais relaxados. Ainda assim, a mãe (Reem Abdullah, conhecida atriz de TV saudita), está enfrentando seus problemas com o marido (Sultan Al Assaf).
Como ela não lhe deu um filho homem e não se mostra disposta a abrir mão do trabalho como professora para tentar uma nova gravidez, sua sogra está tomando providências para que o filho assuma uma segunda esposa.
Apesar de a convivência entre os sexos ser severamente desestimulada, o melhor amigo de Wadjda é um garoto, Abdullah (Abdull-Rahman Algohani), de quem a menina inveja a bicicleta. As bicicletas, aliás, também não são permitidas às meninas sauditas, por supostamente colocarem em risco sua virgindade.
Wadjda, no entanto, ignora a proibição e só quer saber de juntar dinheiro para comprar sua própria bicicleta, para disputar corrida com Abdullah. Para isso, ela concorda em entrar para um grupo de estudo religioso na escola, visando preparar-se no estudo do Alcorão para um concurso que dará um alto prêmio.
Com simplicidade, mas sem perder o foco, o filme retrata os dilemas de Wadjda e sua mãe, na busca de uma nova identidade para as mulheres num contexto hostil. Se o filme parece simples aos olhos ocidentais, nunca se deve perder de vista o potencial incendiário que uma história assim poderia ter num ambiente tão conservador.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

Crítica precisa ao machismo das próprias mulheres
Filmes como Wadjda cercam-se de um interesse prévio, que vai além do campo cinematográfico. Primeiro filme realizado por uma diretora saudita, é, já pela simples existência, um pequeno ato de insurreição. A surpresa é que Wadjda se sustenta mesmo sem essas benéficas circunstâncias exteriores. É um trabalho simples, porém preciso, sobre a opressão das mulheres na sociedade islâmica. Não necessita de favor nenhum para ser julgado bom filme.

Wadjda é o nome da garota, vivida por Waad Mohammed, que, como qualquer adolescente, tem seus gostos e rebeldias. Mas o que pensa e o que deseja ser entram em confronto com as limitações de uma sociedade fechada. O interessante, aqui, é que não se trata da ótica preconceituosa ou etnocêntrica de alguma artista ocidental, mas da visão interna da diretora Haifaa Al Mansour. Ela sabe do que fala. E, dessa forma, transmite verdade à história da menina que deseja uma bicicleta e vê em sua mãe um protótipo da posição subalterna reservada às mulheres. Haifaa trabalha com duas gerações e seus problemas interligados. Não deixa de notar que a opressão ao gênero feminino é algo tão culturalmente enraizado que, numa sociedade machista, muitas vezes são as próprias mulheres as mantenedoras desse status quo desfavorável. Simples, o filme não passa por cima desta complexidade.

Wadjda, ou a opressão sobre as mulheres *
Filmes como Wadjda cercam-se de um interesse prévio, que vai além do campo cinematográfico. Primeiro filme realizado por uma diretora saudita, é, já pela simples existência, um pequeno ato de insurreição. A surpresa é que Wadjda se sustenta mesmo sem essas benéficas circunstâncias exteriores. É um trabalho simples, porém preciso, sobre a opressão das mulheres na sociedade islâmica. Não necessita de favor nenhum para ser julgado bom filme.
Wadjda é o nome da garota, vivida por Waad Mohammed), que, como qualquer adolescente, tem seus gostos e rebeldias. Mas o que pensa e o que deseja ser entram em confronto com as limitações de uma sociedade fechada. O interessante, aqui, é que não se trata da ótica preconceituosa ou etnocêntrica de alguma artista ocidental, mas da visão interna da diretora Haifaa Al Mansour. Ela sabe do que fala.
E, dessa forma, transmite verdade à história da menina que apenas deseja uma bicicleta e vê em sua mãe um protótipo da posição subalterna reservada às mulheres. Haifaa trabalha assim com duas gerações e seus problemas interligados. Não deixa de notar que a opressão ao gênero feminino é algo tão culturalmente enraizado que, numa sociedade machista, muitas vezes são as próprias mulheres as mantenedoras desse status quo desfavorável. Simples, o filme não passa por cima desta complexidade.

*Luiz Zanin
Fonte: o Estadão

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