por Alexandre Vidal Porto
Em certos círculos, nas maiores cidades do mundo, o
feminismo andava meio fora de moda. Acusavam-no de ter envelhecido e se tornado
irrelevante. Achava-se que a igualdade entre homens e mulheres já era dado da
realidade e não mereceria mais apoio político específico.
A menção ao conceito evocava o estereótipo da mulher raivosa
queimando sutiã na rua. As feministas militantes eram tratadas com desprezo e
condescendência ("ai meu Deus, lá vem aquela chata de novo...").
Não é de se estranhar que, na Inglaterra, no ano passado,
apenas 8% das mulheres entre 20 e 24 anos se considerassem feministas.
O feminismo a que me refiro consiste em uma ampla coleção de
ideologias, de variadas vertentes, cada uma com visões e estratégias próprias.
No entanto, por mais diversas que possam ser, todas essas ideologias feministas
se articulam a partir da noção comum de que a desigualdade entre homens e
mulheres é inaceitável e deve ser combatida.
Ainda que, em termos globais, a condição relativa das
mulheres tenha evoluído substancialmente nos últimos 50 anos, a desigualdade
entre os sexos continua a se manifestar tanto em termos de direitos abstratos
quanto em termos muito concretos de violência e ameaça física.
De acordo com a ONU, uma em cada três mulheres será vítima
de estupro ou espancamento ao longo da vida. Em alguns países, essa proporção
chega a sete em cada dez. Nos Estados Unidos, por exemplo, três mulheres são
assassinadas todos os dias por seus parceiros. E nunca é demais lembrar que,
enquanto você lê esta coluna, há meninas sendo trocadas por carneiros no
Afeganistão.
Para essas mulheres, o exercício do feminismo não é uma
questão de moda. É uma estratégia de sobrevivência. Não é um feminismo de
universidade.
É um feminismo de necessidade, que deixa nítidas a
importância e a atualidade da luta das mulheres contra o abuso físico, moral e
legal que sofrem cotidianamente.
Negar a relevância dessa luta reflete irresponsabilidade
social e falta de solidariedade humana. A violência contra as mulheres é
injustificável. Aceitá-la com naturalidade é criminoso. É agredir por omissão.
Desde que uma estudante indiana foi brutalizada e morta por
um grupo de homens em Nova Déli, em dezembro passado, manifestações feministas
começaram a pulular ao redor do planeta. Como em um mecanismo de contágio,
mulheres saíram às ruas no Egito, no Paquistão e na Ucrânia para exigir maior
proteção legal e a ampliação de seus direitos.
Na quinta-feira passada, 14 de fevereiro, eventos pelo fim da
violência contra a mulher tiveram lugar em 190 países. A igualdade de gênero
não é um dado da realidade humana, e sim um privilégio raro, que a maioria das
mulheres do mundo só conquistará por meio da mobilização política.
Essas mulheres e seus aliados defendem uma causa justa e
precisam de ajuda. Os governos que abraçam e promovem princípios democráticos
devem apoiá-los incondicionalmente.
Fonte: Folha de São Paulo
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