Três mulheres da mesma família, ligadas pelo sangue e pela
fé levam adiante rituais religiosos que nasceram no século 19 e são chamadas de
'incelenças', na comunidade de Cabeceiras, em Barbalha, a 580 km de Fortaleza.-
Para conhecer a
história delas é preciso voltar ao passado. Tudo começou com o padre Ibiapina,
no século 19, que trouxe penitentes da Europa para catequizar os índios do
Cariri, Sul do Ceará. Os penitentes eram religiosos que há até pouco tempo se
autoflagelavam para livrar a alma dos pecados. Com o passar do tempo, as
mulheres, que antes eram limitadas a cantar em velórios, passaram a levar
adiante a tradição dos penitentes na região.
Família segue a traição
Na comunidade de Cabeceiras, avó, mãe e filha mantêm a
tradição das "incelença" - ou ''excelência'', na língua culta - na
ala feminina dos penitentes. Dona Francisca é a mais velha do grupo e segue à
risca a tradição. Ela é incelença desde os oito anos. “Nós todas somos
incelença. Assim antigamente não tinha essa história de grupo. Nos
encontravamos, rezavamos juntas, mas depois é que veio esse nome”, disse.
Sua filha, Sueli
Matos, de 31 anos tem a responsabilidade de liderar o grupo e entrou ainda
criança, aos nove anos de idade. “Nós tínhamos mais emoção. Nós estávamos ali
juntas todo o tempo. Cantando com a nossa alma, coração mesmo, com humildade e
hoje é mais para mostrar a nossa cultura. Para não deixar morrer”, afirmou.
O jovem Henrili, de
12 anos, conhece bem a tradição e já é penitente. Quando crescer, ele espera
passar a história da família para os filhos e netos. “Eu também quero seguir
essa tradição. Quando eu tiver um filho, quero passar a tradição para ele. E
quem sabe para os meus netos”, disse.
Admiração
A historiadora Celene
Queiroz acompanha o trabalho delas pelo menos três décadas. “Me aprofundei nos
estudos e cheguei à conclusão que elas tinham a missão delas. Do mesmo jeito
que os penitentes andam com a cruz, elas andam com o anjo, que simboliza a
pureza, a vingidade", explica.
Fonte: Globo
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