Mal se vêm os rostos das mulheres. Elas são anônimas,
pobres, por vezes distantes dos padrões de beleza. Cobram 25 reais por um
programinha de meia hora. O fotógrafo japonês Hirosuke Kitamura, 44 anos, o
Oske, capta suas sombras, silhuetas e alguns movimentos rápidos na intimidade
de quartos e em varandas que se abrem para a Baía de Todos os Santos. Os velhos
bordéis do Pelourinho, chamados de bregas, são seu cenário.
Retratar a rotina e os gestos das prostitutas nos velhos
bordéis do Pelourinho, em Salvador, tornou-se parte do estilo de vida do
fotógrafo japonês Hirosuke Kitamura.
Oske vive há 20 anos no Brasil e se dedica a fotografar o
antigo mercado do sexo, instalado em casarões centenários entre as ladeiras da
Montanha e da Conceição da Praia, desde 1999. Ele quer preservar as imagens e
os gestos de um ambiente decadente, condenado a desaparecer, do qual ele,
fascinado, passou a fazer parte.
Equipado com uma câmera Hasselblad, Oske circula pelos
bregas ouvindo música nas radiolas – quatro músicas custam 2 reais – e tomando
uma cervejinha. Ganhou o apelido de China e virou figura fácil, tanto que quase
passa despercebido. Sem comprar serviços de prostituição, conquistou a
confiança das moradoras, das donas da zona e assim encontrou as modelos para
suas fotos.
O resultado desse trabalho se transformou na exposição
Hidra, montada na 1500 Gallery, de Nova York, e na Fauna Galeria, em São Paulo.
“Meu objetivo principal não é documental, não é, exatamente, retratar os
bregas”, diz, cheio de sotaque, o discípulo de Mario Cravo Neto e Miguel Rio
Branco. “O que me interessa é a expressão do movimento do corpo, a textura e a
mistura de emoções. Há vários paradoxos nesses bordéis: prazer e sofrimento,
miséria e pureza, erotismo e sentimento de abandono”.
Fonte : Exame
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