Como mulher, Teresa testemunha um exemplo “para buscar relações mais recíprocas entre homens e mulheres, baseadas no reconhecimento mútuo e na valorização das diferenças; para buscar maior integração das potencialidades femininas, especialmente as de organização e governo; e para deslocar os limites do possível na construção de um ‘outro mundo’”.
No dia 4 de outubro, durante o XIII Simpósio Internacional
IHU: Igreja, cultura e sociedade. A semântica do Mistério da Igreja no contexto
das novas gramáticas da civilização tecnocientífica, a professora Dra. Lúcia
Pedrosa de Pádua, PUC-Rio, ministrará o minicurso O Mistério da Igreja, hoje.
Uma leitura a partir de Teresa de Ávila.
Lúcia Pedrosa doutorou-se em Teologia Sistemático-Pastoral,
pela Universidade Católica do Rio De Janeiro (PUC-Rio), e realizou
pós-doutorado em Teologia da Espiritualidade, pela Pontificia Università
Greogoriana de Roma (Itália). É docente na PUC-Rio, atuando nas áreas de
Antropologia Teológica, Cristologia, Mística e Espiritualidade. Em 2012,
assumiu a função de editora da Revista Atualidade Teológica, do departamento de
Teologia da PUC-Rio. Também coordena o Ataendi, Centro de Espiritualidade da
Instituição Teresiana no Brasil.
Para Lúcia Pedrosa, conforme entrevista publicada pela IHU
On-Line, a principal luz da espiritualidade de Santa Teresa de Ávila é mostrar
a dimensão humanizadora da espiritualidade cristã. Trata-se de uma “mulher
plenamente humana e toda de Deus”. Lúcia considera que Santa Teresa é um bom
testemunho que anima uma maior audácia evangelizadora, com criatividade,
justiça, amor e muita humildade.
Teresa de Ávila nasceu em 1515, em Ávila, Castela, e faleceu
em 1582. Foi uma freira carmelita espanhola famosa reformadora da ordem das
Carmelitas. Canonizada por Gregório XV (1622), é festejada na Espanha em 27 de
agosto, e no resto do mundo em 15 de outubro. Foi a primeira mulher a receber o
título de Doutora da Igreja, por decreto de Paulo VI (1970).
Sobre a vida e a obra de Teresa e que marcam sua
espiritualidade, Lúcia pedrosa destaca quatro fatos importantes: O primeiro, a
sua forte experiência de amizade com Jesus Cristo, descrito por ela como
Humanidade sagrada. O encontro decisivo com esta realidade do Cristo
interpelador e amigo se deu quando Teresa tinha 39 anos e significou para ela
uma verdadeira conversão. Mas a experiência se desenvolve, trazendo um
progressivo amadurecimento na sua imagem de Deus, que, através da proximidade
de Cristo, vai se revelando como amor comprometido com a humanidade. Nessa
relação, Teresa passa por uma progressiva transformação de sua vida, opções e
afetos. Transformação que faz dela uma mulher muito humana e capaz de amar com
coragem e audácia, em meio a conflitos. Outro fato, anterior, é a fuga de casa,
aos 19 anos. Teresa vai ao encontro da sua intuição profunda, do que considera
o seu chamado, mesmo contra a vontade do pai. O terceiro fato é o início de sua
vida como escritora, por volta de 50 anos de idade. Embora já tivesse realizado
outros registros escritos, nesta época ela escreve a nova e definitiva redação
do Livro da vida e assumirá sua condição de escritora com responsabilidade
profética, até o fim de sua vida, aos 67 anos. Por fim, o início das fundações,
aos 47 anos (até o fim da sua vida). Nelas, a sua experiência interior se
explicita e adquire maior alcance eclesial.
Em 1970, o Papa Paulo VI conferiu a Teresa de Ávila o título
de Doutora da Igreja. Mas ela não é reconhecida apenas pela Igreja. A pessoa e
o pensamento de Teresa têm reconhecimento também entre ateus e livres
pensadores. Segundo Lúcia, “seu êxito junto a ateus e livres-pensadores pode
ser buscado na empatia que Teresa estabelece com o leitor de todos os tempos,
na relevância e verdade de seus escritos, na sua inquestionável qualidade
literária, no interesse histórico de suas valiosas descrições, em sua estatura
humana e por apresentar um testemunho impressionante do mistério de Deus
atuante na vida humana”.
Como mulher, Teresa testemunha um exemplo “para buscar
relações mais recíprocas entre homens e mulheres, baseadas no reconhecimento
mútuo e na valorização das diferenças; para buscar maior integração das
potencialidades femininas, especialmente as de organização e governo; e para
deslocar os limites do possível na construção de um ‘outro mundo’”.
A partir de Teresa de Ávila, uma mulher que viveu no século
XVI, implica-se num itinerário espiritual que continua relevante e atual para a
espiritualidade contemporânea. Pois, na vida e na obra de Teresa, realça-se a
dimensão humanizadora que perpassa a espiritualidade cristã, em que “a busca de
Deus significa ao mesmo tempo um encontro com uma forma de ser humano e
conformar a vida de maneira cada vez mais livre, autêntica, amorosa, operativa
e ética”.
Fonte: Ihu
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