sexta-feira, 22 de junho de 2012

Por que tanto medo?


 O relato não é uma história tranquilizante para consolar os cristãos de hoje com a promessa de uma proteção divina que permita à Igreja passear tranquilamente através da história. É a chamada decisiva de Jesus para fazer com ele a travessia em tempos difíceis. Por que vocês são tão covardes? Ainda não tendeis fé?

A leitura que a Igreja propõe neste domingo segundo o Tempo Comum é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 4,35-41. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o Evangelho do XII Domingo do Tempo Comum.

A barca, onde estão Jesus e seus discípulos, fica atracada por uma daquelas tormentas imprevisíveis e furiosas que se levantam no lago da Galileia, no pôr-do-sol de alguns dias do verão.
 O relato não é uma história tranquilizante para consolar os cristãos de hoje com a promessa de uma proteção divina que permita à Igreja passear tranquilamente através da história. É a chamada decisiva de Jesus para fazer com ele a travessia em tempos difíceis. Por que vocês são tão covardes? Ainda não tendeis fé?
 Marcos prepara a cena desde o início. Ele nos diz que era “o pôr-do-sol”. Logo cairão as trevas da noite sobre o lago. É Jesus quem toma a iniciativa daquela estranha travessia. “Vamos para a outra margem”. A expressão não é nada inocente. Ele os convida a passar junto, na mesma barca, para outro mundo, para além do conhecido: a região pagã da Decápolis.
 Em certo momento se levanta um forte furacão e as ondas rompem contra a frágil embarcação enchendo-a de água. A cena é patética: na parte da frente, os discípulos lutando impotentes contra a tempestade; na popa, num lugar mais elevado, Jesus dormindo tranquilamente numa almofada.
 Aterrorizados, os discípulos acordam Jesus. Não captam a confiança de Jesus no Pai. O único que eles veem nele é uma incrível falta de interesse por eles. Eles estão cheios de medo e nervosismo: “Mestre, não te importa que nos afundemos?”
 Jesus não se explica. Ele fica de pé e pronuncia uma espécie de exorcismo: o vento para de fazer barulho e aparece uma grande calma. Jesus aproveita essa paz e silêncio grandes para lhes fazer duas perguntas que hoje chegam até nós: “Por que vocês são tão covardes? Vocês ainda não têm fé?
O que está acontecendo conosco, os cristãos? Por que são tantos os nossos medos para afrontar estes tempos cruciais, e tão pouca a nossa confiança em Jesus? Não é o medo de afundarmos o que nos está bloqueando?
 Não é a busca cega de segurança que impede que nós façamos uma leitura lúcida, responsável e confiada destes tempos? Por que nos resistimos a ver que Deus está conduzindo a Igreja a um futuro mais fiel a Jesus e a seu Evangelho?
 Por que procuramos segurança no que é conhecido e estabelecido no passado, e não escutamos a chamada de Jesus a “passar para o outro lado”, a fim de semear humildemente a sua Boa Nova num mundo indiferente a Deus, mas tão necessitado de esperança?

Jose Antonio Pagola

Fonte IHU

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