Toda quinta-feira a partir das
13h30m, a psicóloga e monja Mariângela Maia de Oliveira (Ryosen), 56, transpõe
as grades do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Centro-Sul
para oferecer às detentas um trabalho de relaxamento conhecido como R.Y.E, em
português, ioga na educação.
Utilizando mantras, respiração, meditação,
mandala e visualização, a monja vai criando entre as mulheres um espaço em que
podem se redescobrir, ganhar confiança e autoestima. As detentas são, em sua
maioria, jovens envolvidas com o tráfico de drogas, furtos e homicídios e que
aguardam julgamento, alvará de soltura ou transferência para presídios.
O projeto é pioneiro em Minas
Gerais e é inspirado em experiências positivas realizadas em presídios
norte-americanos e no Carandiru e foi proposto pela Associação Mentes Libertas.
A meditação acontece no pátio da
unidade prisional, e a participação é espontânea.
Praticante da meditação desde os
21 anos, ordenada monja em 1998, tendo vivido no Mosteiro Zen Pico de Raios, em
Ouro Preto, de 1998 a 2008, e psicóloga há 31 anos, Mariângela vai, aos poucos,
ganhando a confiança das jovens mulheres que jamais se viram e hoje são
obrigadas a dividir celas e a conviver diariamente, até que a justiça decida a
sua sentença. Oito celas abrigam até 140 detentas.
Uma mandala colorida colocada no
chão, no centro de um círculo com sete mulheres, servia para mudar a energia do
local.
Inicialmente fechadas,
desconfiadas e sem entender direito o que acontecia, as detentas foram, aos
poucos, se rendendo à voz firme e ao mesmo tempo acolhedora da monja. “Respire,
preste atenção no ar que entra e sai. Coloque sua atenção na respiração sempre
que puder, isso é saúde, é transformação”, repetia Mariângela.
De repente, bolas de sabão
começaram a voar pelo pátio refletindo as cores do arco-íris. “A bolha de sabão
faz a conexão entre a respiração e o pensamento e, por consequência, a
impulsividade. Quando a pessoa tem consciência de sua respiração, ela fica dona
de si”, explica Mariângela.
Após dois anos de projeto, a
monja acredita que “essa experiência pode transmutar as dificuldades da triste
vida intramuros e suas pobres perspectivas em oportunidades de crescimento
pessoal. A ioga na educação é a preciosa ferramenta pedagógica utilizada para
criar uma atmosfera receptiva à prática da meditação. Nutrindo a humanidade através
do fortalecimento da consciência e da integridade, o projeto contribui para uma
cultura de paz e não violência”.
Mariângela recorre a uma frase de
Mahatma Gandhi, “precisamos ser a paz que queremos ver no mundo”, para definir
a proposta do trabalho.
“É primordial nutrir o que há de
humano nessas mulheres. Não nascemos humanos, nós nos tornamos humanos.
Enquanto adultos, somos responsáveis por nossos pensamentos, palavras e atos.
Seja qual for o momento ou o contexto, construímos nossa integridade a cada
instante. É imprescindível que pessoas privadas de liberdade posam ter um
espaço e um momento para alimentar sua humanidade”, diz.
Aos poucos as detentas, inclusive
uma grávida, vão se soltando, arriscam comentários, dançam em círculo, se
alongam, se soltam. O momento é de entrega. Percebem que ali podem ficar um
pouco consigo, sentir seu corpo e suas emoções. Acessam uma dimensão interna
até então desconhecida.
“Sabemos o quanto é benéfica a
prática da meditação para a saúde física e mental. O contentamento é o objetivo
da vida, e a meditação é o meio para atingi-lo. É o suporte para atravessarmos
toda sorte de dificuldades”, propõe a monja enquanto vai orientando uma a uma.
Simplicidade
Encontro. A prática da meditação
é a experiência mais íntima que uma pessoa pode estabelecer consigo própria.
Corpo e mente harmonizados por meio da postura e respiração.
Fonte: O Tempo
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