Sob sol escaldante ou chuva fina, de dia ou à noite,
mulheres e travestis oferecem o próprio corpo em vias públicas do Distrito
Federal. De roupas curtas, maquiagens estonteantes e salto alto, as garotas de
programa são facilmente reconhecidas.
O preço cobrado varia entre R$ 50 e R$
150, realidade muito diferente da vivida por mulheres como as mostradas em
reportagem de ontem no Jornal de Brasília sobre sites de prostituição, que
chegam a cobrar até R$ 10 mil por saída.
Ao contrário de garotas conhecidas por programas de luxo, as
que circulam por Asa Norte e Taguatinga usam os programas sexuais como
opção para garantir a sobrevivência da
família. Luana é um exemplo disso. Mãe de uma menina de 4 anos e moradora de
Águas Lindas (GO), na Região Metropolitana do DF, a jovem de 24 anos conta que entrou para o ramo
há cinco meses, depois de algum tempo desempregada. Ela conta que faz de três a
quatro programas por dia. “Tenho cinco clientes fixos. A maioria deles,
casados”, revela. Ela diz, ainda, que os clientes são de classe média alta.
A jovem conta que cobra, por programa, entre R$ 60 e R$ 150,
dependendo de onde for acontecer e de qual serviço será feito. “Mas só faço com
camisinha, independente do serviço”, completa.
Luana lembra da primeira vez que fez um programa, em julho,
numa boate de Águas Lindas. “Fiquei com um homem feio, nojento e que deu
vontade de vomitar. É estranho, mas a gente acostuma”, explica.
Local estratégico
No Eixão, na altura da 204/205 Norte, pelo menos quatro
garotas se oferecem em meio aos carros que por ali passam. Elas ficam no ponto
onde há um recuo para o retorno de acesso às entrequadras comerciais e
residenciais. Algumas aguardam os clientes sentadas no meio-fio. Outras se exibem,
fazem performances sensuais e dançam para os motoristas que por ali
passam.
A rotatividade de clientes é alta. Em menos de cinco
minutos, a reportagem flagrou quatro condutores que pararam em busca de
aventura sexual. A negociação é rápida. Logo a garota entra no carro e segue
para onde o programa acontecerá. Local este, nem sempre, às escondidas. A
equipe do JBr flagrou sexo explícito entre homens e garotas de programa às
margens do Eixão, dentro de uma caminhonete. Depois, a moça sai do carro tranquilamente
e se prepara para tomar novamente lugar no ponto à espera de novos clientes.
Ponto de Vista
A professora de teoria da história e estudos feministas da
Universidade de Brasília (UnB) Tania Navarro Swai aponta que a cultura da
prostituição está ligada à exploração das mulheres pelos homens. “As mulheres são prostituídas. Essas garotas
geralmente foram vítimas de violência
sexual desde meninas e sofreram abuso do
pai, irmão, primo e vizinho. A sexualidade se torna algo que faz mal, mas ao
mesmo tempo é usada pelas mulheres para sobreviver ou por pressão social”,
explica.
Tania destaca que não é tão comum ver homens se prostituindo
em razão de uma cultura ainda não tão enraizada da prostituição masculina. “A
liberdade de se prostituir é um falso debate penoso que confunde a liberdade
que as mulheres conseguiram do corpo com a liberdade de se prostituir. Essa é
uma polêmica sustentada e ancorada pelos
homens porque são eles que se aproveitam das mulheres na prostituição”,
considera. “Cria-se um falso debate dizendo que elas são livres em se
prostituir, mas 99,9% das mulheres vêm
do fruto de tráfico, de violência, de abuso e de serem forçadas a ser
prostituir”, avalia.
Situação parece pior
em Taguatinga
Em Taguatinga Sul, próximo ao setor de motéis, as garotas de
programa andam apenas com roupas íntimas
no meio da rua. O preço também varia entre R$ 70 e R$ 150. No local há desde
meninas aparentemente menores de idade até mulheres mais velhas. Os travestis
também marcam presença.
Já no centro de Taguatinga, mulheres se oferecem em meio a
escadas de estabelecimentos comerciais. Os preços cobrados, porém, são bem
menores: não passam de R$ 50. Ali ainda tem um agravante: a venda de
entorpecentes.
O comandante do 3ª Batalhão de Polícia Militar de Taguatinga,
tenente coronel Edgar César Rojas, destaca que a prostituição não é crime e,
por isso, a corporação não detém quem vende o corpo. “Quando abordadas, se for
encontrada arma ou droga, elas são encaminhas para a delegacia”, esclarece.
Identificação
O delegado da 21ª DP (Taguatinga Sul) Alexandre Nogueira
destaca que a polícia tem feito o cadastro de garotas de programa que ficam no
setor de motéis. Isso tem contribuído para identificação mais rápida das que se
envolvem em confusões. Segundo o delegado, há muitos registros de ocorrência de
garotas que fazem o serviço e não recebem.
Versão Oficial
O comandante do 3ª BPM da Asa Norte, tenente coronel Julio
César de Oliveira, explica que na área norte do DF as mulheres são abordadas
para identificação de envolvimento com
outro crime vinculado à prostituição. “A
prostituição não é crime, mas sabe-se que as garotas geralmente trazem e levam
drogas, vendem produtos
ilegais e recebem objetos roubados”, conclui.
Fonte: (Isa Stacciarini)Da redação do Jornal de Brasília
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