"A genealogia do papai noel que temos entre nós mostra
que ele nada mais é do que um logotipo comercial, utilizado em grande escala
como símbolo dos novos tempos de um capitalismo consumista em expansão e
impiedoso com os valores e a mensagem do Natal de Jesus. Ele representa a o
espírito do capitalismo consumista", escreve Castor Bartolomé Ruiz,
professor nos cursos de graduação e pós-graduação em Filosofia da Unisinos.
Eis o artigo.
Assistimos a uma verdadeira invasão da falácia mitológica de
“papai noel”. Ela não é casual. Este mito atua como ponta do Iceberg da
subjetivação consumista dominante por todos os lados do planeta. Nesse frenesi
do consumo, o nascimento de Jesus, Natal, aparece como um obstáculo para a
lógica capitalista do lucro comercial. O espírito do menino Jesus nascendo
pobre, numa opção pelos pobres, mostrando a liberdade através do
desprendimento, representa tudo o contrário da ideologia consumista do
capitalismo. Por este motivo, a estratégia que, ano após ano, se monta em
escala global, é silenciar ao “menino Jesus” para mostrar um outro símbolo mais
próximo do consumo: papai noel.
Há uma rivalidade silenciosa, mas fortemente travada, entre
o sentido do natal de Jesus e o simbolismo do papai noel. A realidade é que a
onipresença comercial de papai noel nas lojas, centros comerciais, propagandas
e comerciais de TVE, radio, imprensa, etc., anula a presença do Jesus menino.
Cada vez resulta mais difícil entender que o natal que celebramos não é o de
papai noel, senão o de Jesus.
A genealogia do nascimento de cada um destes personagens
revela o verdadeiro objetivo de sua presença histórica. O nascimento do menino
Jesus, pobre numa estrebaria, silencioso numa aldeia longínqua, revela que o
essencial da vida humana não está no possuir nem no consumir, mas no ser e na
acolhida do Outro.
E o nascimento de papai noel? Conhecer a seu verdadeiro
nascimento, ajuda a tirar as máscaras religiosas ou moralistas que tentam
justificar e ocultar seu papel de “boneco propaganda”.
O papai noel que nós temos aí, espalhado pelo mundo tudo
como símbolo e exemplo do consumismo capitalista em grande escala, ao contrário
do que nos querem fazer acreditar, não tem nada a ver com os diversos
personagens históricos que, de uma ou de outra forma, e em várias culturas,
davam presentes como símbolo de agradecimento ou generosidade. O papai noel das
vitrines e comerciais não tem nenhuma relação original com, por exemplo, São
Nicolau, bispo cristão do século II, nem com a tradição francesa do “pere
noel’, nem com Santa Claus, entre outras. Nenhum destes personagens históricos
está relacionado com a origem do “papai noel” comercial atual. Todos esses
personagens eram lembrados ou celebrados em outras datas diferentes do Natal de
Jesus, nenhum deles tinha relação direta com o Natal nem com dar presentes em
Natal.
A verdade é que o “papai noel” das vitrines, o velinho de
cores vermelhas e brancas foi produzido, tal qual o conhecemos, por um
desenhista da coca-cola, Thomas Nast, o ano de 1931. Segundo o desenho 1
abaixo.
A coca-cola sentia necessidade de impulsionar o consumo de
sua bebida numa época de inverso de baixo consumo. Com este objetivo, a empresa
lançou uma campanha para criar ideias a respeito. O cartunista Thomas Nast
retomou uma vaga ideia tradicional de um velhinho que entregava presentes, e
criou o boneco propaganda que conhecemos, com os símbolos do consumo dessa
bebida. O personagem é totalmente inventado pela cartunista, inclusive,
inicialmente era fumante, algo que posteriormente foi suprimido, pois é
politicamente incorreto na atual conjuntura crítica ao fumo.
Foi um outro cartunista da coca-cola, Haddon Sundblom, que
na segunda metade do século XX, e a serviço de essa empresa, foi retocando a
imagem do boneco propaganda, papai noel, até transformá-lo muito próximo das
imagens que hoje circulam dele. As cores da coca-cola, vermelha e branca,
continuam a ser os símbolos distintivos deste personagem, comercial por
natureza e mercantilista por essência.
A explicação do surgimento de papai noel seguiu o percurso
inverso aquele que nos querem fazer acreditar. O boneco propaganda de papai
noel foi inventado, especificamente, para circular como logotipo das campanhas
comerciais de natal dessa companhia comercial. O vínculo do boneco propaganda
“papai noel” com o natal de Jesus só está na intencionalidade estratégica da
comercialização capitalista da festa do natal. No lugar de utilizar
comercialmente o menino Jesus para incentivar a compra e consumo de
mercadorias, que provocaria uma reação contrária pela manipulação descarada da
fé cristã, inventaram este personagem que se dobra docilmente aos interesses
comerciais da incitação ao consumo.
Fonte: Ihu
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