Face a este problema, de imediato se coloca uma questão: o
que leva as adolescentes a sentirem-se atraídas por uma atividade como esta?
Será por gostarem de sexo? Ou será com o objetivo de obter dinheiro de uma
forma 'fácil'?
'Quando solicitadas a explicar o que o amor significava para
elas, as jovens prostitutas utilizavam expressões do gênero 'sentir segurança;
sentir proteção; receber atenção'. O que subentendemos destas respostas é que
para algumas raparigas a 'prostituição' não é uma realidade. Para elas, o que é
real é que são a 'senhora' ou a 'mulher' do proxeneta; é este o significado do
amor.'
Por Adriana Campos
A prostituição na adolescência é um problema ao qual ninguém
fica indiferente. Algumas vezes, no contexto escolar é expresso o receio,
sobretudo por professores e auxiliares de ação educativa, de que esta ou aquela
jovem enveredem por esta atividade, uma vez que facilmente se envolvem fisicamente
com um número significativo de colegas do sexo oposto.
Face a este problema, de imediato se coloca uma questão: o
que leva as adolescentes a sentirem-se atraídas por uma atividade como esta?
Será por gostarem de sexo? Ou será com o objetivo de obter dinheiro de uma
forma 'fácil'? Os estudos realizados por vários investigadores, envolvendo um
elevado número de jovens prostitutas, demonstraram que a prostituição nesta
faixa etária não tem como font_tage de motivação os aspetos mencionados, nem se
trata de uma decisão cuidadosamente tomada. Na maior parte dos casos, as jovens
são arrastadas para a prostituição por um adulto, o proxeneta, que conhece bem
as suas necessidades psicológicas. Estas geralmente são provenientes de
famílias marcadas pela brutalidade e instabilidade, que apresentam relações
débeis e um padrão de desmembramento muito elevado. A integração destas jovens
em contextos familiares muito fragilizados contribui fortemente para que as
suas necessidades de carinho e afeto não sejam devidamente satisfeitas,
sentindo estas uma necessidade muito forte de dependerem de alguém. Estas
jovens têm geralmente uma autoestima pobre, falta de autoconfiança e
frequentemente estão num processo de fuga de casa.
A forma como o proxeneta atua é muito curiosa e permite
compreender o seu poder junto das adolescentes. Ele funciona como um
'psicólogo' astuto, que com uma habilidade extrema manipula a necessidade
básica de amor e de ligação afetiva destas adolescentes. Na maior parte das
vezes, mediante uma abordagem romântica e a oferta de presentes vistosos, o
proxeneta convence a adolescente de que lhe pode dar a proteção, a segurança e
o amor de que ela necessita. Na sequência da relação estabelecida, este
ensina-lhe a executar atos de sexo e esta rapidamente se disponibiliza a
trabalhar para ele. Para estas adolescentes, socialmente imaturas e de certa
forma ingénuas, a atenção, os presentes e o amor ilusório oferecidos por estes
homens tornam-se verdadeiramente irresistíveis. Pelo menos, a presença do proxeneta
leva-as a sentirem-se amadas, sentimento que não vivenciaram no seu contexto
familiar de origem.
Face ao que foi exposto, não é difícil de compreender o
quanto pode ser difícil a intervenção junto de adolescentes envolvidas neste
tipo de atividade, uma vez que, para todos os efeitos, a maioria delas sentem
que finalmente apareceu alguém empenhado em pôr fim à aridez de uma vida sem
amor.
Bibliografia:
Psicologia do adolescente. Uma abordagem desenvolvimentista.
Norman A. Sprinthall e W. Andrew Collins. Fundação Calouste Gulbenkian.
ADRIANA CAMPOS Licenciada em Psicologia, pela Universidade
do Porto, na área de Consulta Psicológica de Jovens e Adultos, e mestre em
Psicologia Escolar. Concluiu vários cursos de especialização na área da
Psicologia, entre os quais um curso de pós-graduação em Psicopatologia do
Desenvolvimento, na UCAE. Atualmente, é psicóloga no agrupamento de Escolas
Eng. Fernando Pinto de Oliveira, para além de dinamizar ações de formação em
diversas áreas.
Fonte: http://www.educare.pt/
Nenhum comentário:
Postar um comentário