segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Por uma cultura tecnológica e digital orientada a meninas e mulheres


"A divisão sexual do trabalho se reproduz também nos novos âmbitos trabalhistas, que se abrem com a economia digital”, assegurou a SEMlac a diretora da Divisão de Assuntos de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Sônia Montaño.

Por Mercedes Alonso

"A segunda brecha digital situa às mulheres na posição de clara desvantagem frente aos homens”, sustentou a especialista em declarações a essa agência durante um dos curtos recessos da XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, da Cepal, que se realizou em Santo Domingo, de 15 a 18 de outubro.
Representantes dos Estados membros e associados da Cepal comprometeram-se no "Congresso de Santo Domingo” a trabalhar para que a sociedade da informação e do conhecimento fomente a autonomia econômica das mulheres e sua plena participação, em condições de igualdade, em todas as esferas da sociedade e em todos os processos de tomada de decisões.
A titular do Ministério da Mulher da República Dominicana, Alejandrina Germán, recebeu a presidência pro temporetrianual da Conferência Regional Sobre a Mulher da América Latina e do Caribe, cuja XIII edição se realizará no Uruguai, em 2016.
Germán admitiu que "identificar e abordar as oportunidades e desafios oferecidos pelas TICs para alcançar a autonomia das mulheres passa por situar seu posicionamento no mercado de trabalho e no domínio da ciência e da tecnologia”.
O Consenso de Santo Domingo ratificou os compromissos assumidos pelos países em diversos acordos internacionais, como planejar ações para a construção de uma nova cultura tecnológica, científica e digital orientada às meninas e às mulheres e potenciar a inclusão da perspectiva de gênero como eixo transversal das políticas públicas de desenvolvimento produtivo.
Também se estabeleceu "fomentar medidas legislativas e educativas para erradicar e penalizar conteúdos sexistas, estereotipados, discriminatórios e racistas nos meios de comunicação, software e jogos eletrônicos”.

A isso, soma-se o apoio dado ao uso das TICs e das redes sociais como recursos para prevenir a violência contra as mulheres e melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços de saúde.

Segundo revela um novo estudo da Cepal, em países da América Latina e do Caribe, as mulheres equiparam aos homens em acesso à Internet; porém, estão em clara desvantagem com respeito a seu uso, que as limita tanto em seu desenvolvimento pessoal e trabalhista, como no crescimento com igualdade dos países da região no contexto do novo paradigma tecnológico.

Alicia Bárcena, secretária executiva da Cepal, insistiu em que "a igualdade das mulheres é o outro nome da dignidade e da democracia”.

"Não se trata de incluir as mulheres em um modelo que as subordina; temos que mudar os paradigmas de poder”, ressaltou Bárcena e agregou que "a autonomia econômica das mulheres somente será possível na medida em que seja assegurada a redistribuição do trabalho total, o remunerado e o não remunerado. Trata-se de garantir políticas para que elas realmente se apropriem dos benefícios das novas tecnologias, especialmente da informação”.

Para Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU-Mulheres), "é indispensável o acesso às TICs das mulheres, já que estas estimulam o ingresso, a independência a autoestima".

Apesar de que em todos os países da região aumentou a proporção de homens e mulheres que usam a Internet de qualquer ponto de acesso, somente no Brasil, no México e no Uruguai a brecha entre ambos sexos se reduziu; no resto, se ampliou, indica o estudo "Mulheres na economia digital: superar o umbral da desigualdade”, apresentado na citação pela Cepal.

A metade das mulheres (50,9%) não tem vínculo com o mercado de trabalho: a taxa de atividade econômica feminina ascende a 49,8% (a masculina chega a 78,7%) e uma de cada 10 mulheres está empregada no serviço doméstico, entre os trabalhos pior remunerados e com menor proteção social, alerta o documento.

Outras regiões apontam a desigualdade, somente revertida no caso das assalariadas, cujas habilidade para o uso das TICs constitui ferramenta poderosa para sua inserção no trabalho.

"Garantir a autonomia econômica das mulheres, aumentando sua participação no mercado de trabalho e reconhecendo o trabalho não remunerado que elas realizam, majoritariamente, é um dos principais desafios dos países da região”, propõe a Cepal.

Se bem no encontro reconheceu-se que a maioria dos países da América Latina e do Caribe possuem estratégias digitais que têm permitido avanços significativos no acesso de toda a população às TICs, a maior parte delas não inclui ações especificas para promover a igualdade de gênero.

Um passo chave no desenvolvimento de políticas é a captação de dados para medir avanços e retrocessos mediante instrumentos como Isoquito Recargado, apresentado

No evento paralelo dessa XII Conferência e que foi divulgado por primeira vez na XI Conferência Regional sobre a Mulher, realizada em 2010, no Brasil.

Esse instrumento, desenvolvido pela Articulación Femenista Marcosur, inclui indicadores sobre o bem estar social das mulheres, a paridade econômica e política e o cumprimento dos compromissos legislativos à igualdade de gênero na região.

A ferramenta avalia o cumprimento do Congresso de Quito, aprovado na X Conferência realizada em 2007 e se nutre da informação proporcionada pelos países ao Observatorio de Igualdad de Género de América Latina y el Caribe, coordenado pela División de Asuntos de Género de la CEPAL. "Sem dados, não se pode fazer políticas públicas”, comentou Montaño.

A realidade as mulheres rurais e indígenas no âmbito das TICs , bem como sua situação nas empresas, na ciência e na geração de estatísticas e indicadores específicos, marca um profundo abismo e uma maior vulnerabilidade.

Assim, reflete a revisão a 20 anos da Declaração e da Plataforma de Ação de Pequim da IV Conferência Mundial da Mulher e o debate mundial para a formulação de um novo marco internacional de desenvolvimento de desenvolvimento posterior à data de conclusão dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em 2015.

"Se se quer resolver o problema da mulher rural, definitivamente faz falta uma abordagem mais integral e trabalhar o tema da educação, que não pode ser de qualquer tipo, mas que responda a suas características culturais, a seu idioma”, declarou SEMLAC Mirna Cunning Hyam Kain, presidenta do Centro de Autonomia y Desarrollo dos Povos Indígenas e integrante do Fórum Permanente sobre questões indígenas da ONU.

Em sua opinião, primeiro deve-se relançar um programa de alfabetização para as mulheres rurais, para toda a vida; e, então, diminuiria a enorme brecha entre as mulheres indígenas e o restante da sociedade no tema das TICs.

"Sim, acreditamos que é importante aproveitar a oportunidade dadas pelas novas tecnologias para promover as estratégias de nosso desenvolvimento", concluiu a dirigente indígena.


Fonte: Adital

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