Uma das principais características da sociedade
contemporânea, o consumismo é motivo de preocupação de diversos setores da
sociedade.
Desde o Poder Público e entidades civis ligadas à proteção do meio
ambiente, que temem pelos reflexos do consumo desenfreado de bens e serviços
sobre o equilíbrio ambiental, até psicólogos, educadores e cientistas sociais
que se dedicam a estudar os efeitos do excesso de apego aos bens materiais
sobre o desenvolvimento individual e social das pessoas.
Para muitos estudiosos, estaríamos diante de uma geração que
está deixando de prezar por valores básicos da convivência social, como
solidariedade, fraternidade e ética, em detrimento de outros mais próximos da
lógica de produção capitalista, como a competitividade, o individualismo, o
sucesso e a valorização dos bens de consumo. Como muitos costumam dizer, o
“ter” parece estar se tornando mais importante que o “ser”.
O psicólogo, pesquisador e professor da PUC Minas, Bruno
Vasconcelos de Almeida, mestre e doutor em Psicologia Clínica pela PUC de São
Paulo, alerta para os efeitos que o estímulo excessivo pelo consumo de bens e
serviços pode gerar no indivíduo.
"Em primeiro lugar é preciso distinguir consumo e
consumismo. O consumo é prática humana ao longo da história, tanto pode ser bom
como ruim, os homens sempre consumiram água, alimentos e objetos. Já o
consumismo, há um certo consenso sobre isso, diz respeito ao excesso de consumo
na sociedade atual. De certa forma, ele é a regra, em especial nos últimos 30
anos", explica.
Desde que foi eleito como novo pontífice, o papa Francisco
vem reiteradamente chamando a atenção do mundo para os perigos que a falta de
valores que o modelo social atual vem provocando nas pessoas, principalmente os
mais jovens. Recentemente no Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da
Juventude, o Santo Padre conclamou os jovens a combater "o veneno do
vazio". Na ocasião, Francisco ressaltou "o absurdo de basear a
própria felicidade nas possessões materiais”.
O psicólogo Bruno Vasconcelos de Almeida também aponta alguns
problemas que o excesso de consumismo pode trazer tanto na esfera individual
quanto coletiva das pessoas. “A centralidade de valores nos bens materiais
acaba retirando importância de outras esferas da vida e os efeitos disso são
preocupantes. Toda a vida atual, individual e social, está afetada pelo
consumo, tal como está, acarretando desde a supressão do tempo individual, a
hipervalorização do objeto, a perda de sentido, entre outros aspectos”,
ressalta.
Efeitos negativos
Entre os efeitos negativos, o psicólogo lembra a questão do
sentimento de insatisfação que o excesso de consumo pode gerar nas pessoas,
gerando um ciclo vicioso entre a sensação de vazio e a necessidade de consumir
algo imediatamente. “O consumismo vale-se da dinâmica satisfação-insatisfação,
alimentando a relação infinita com o objeto, o serviço, ou a experiência de
consumo”.
Para alterar a atual lógica de produção e consumo, o
psicólogo aponta diversos caminhos, como a discussão de políticas públicas que
estimulem o indivíduo a explorar outros aspectos da vida. Ele alerta para insustentabilidade do atual modelo social.
“As consequências do aumento do consumismo dizem respeito à própria questão da
sustentabilidade planetária. Consumir, etimologicamente falando, significa
gastar até o fim, exaurir, extinguir. O consumo parece sinalizar a extinção
daquilo que é consumido, pelo menos quanto aos recursos básicos”, lembra.
Fonte: (Alexandre Vaz) Dom Total
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