Boa parte das garotas era menor de idade e eram atraídas
mediante promessas de vantagens econômicas, para realizar programas sexuais com
os denunciados do núcleo de usuários ou consumidores dos serviços sexuais que,
na sua maioria, era constituído por pessoas “pertencentes aos mais elevados
estratos sociais e detentores de elevado poder aquisitivo, como fazendeiros,
empresários, políticos e autoridades.”
O presidente da Federação de Agricultura do Acre, Assuero
Doca Veroznez, foi condenado nesta segunda-feira pelo juiz da 2ª Vara da
Infância e Juventude de Rio Branco, Romário Divino, a oito anos de prisão, em
regime semi-aberto, por integrar uma rede de prostituição e exploração sexual
envolvendo mulheres maiores e menores de idade no Acre. Ao todo foram
condenados 15 agenciadores e clientes da rede de prostituição.
O pecuarista Assuero Veronez era o braço direito da senadora
Kátia Abreu (DEM-TO) no cargo de vice-presidente da Confederação Nacional de
Agricultura (CNA). Ele foi afastado da direção da CNA após ser preso, em
dezembro do ano passado, durante a Operação Delivery, resultante da atuação do
Ministério Público e da Polícia Civil do Acre.
Veronez também foi condenado a pagar R$ 20 mil a título de
reparação mínima por danos morais causados às vítimas N. P. G. N., S. C. A. de
L., M. E. B. G., J. L. K., T. M. dos S.
O pecuarista Adálio Cordeiro Araújo também foi condenado a
oito anos de prisão em regime semi-aberto. Foi concedido ao sentenciado o
direito de recorrer em liberdade. Também foi fixado o valor de R$ 20 mil a
título de reparação mínima por danos morais causados às vítimas J. L. K., M. E.
B. A., S. C. A. de L. e N. P. G.
De acordo com a sentença de 258 páginas, a lista dos 15
condenados: Jardel de Lima Nogueira, Francinei de Oliveira Contreira, Greice
Maria Vasconcelos de Almeida, Adriano Macedo Nascimento Filho, Romara Costa da
Mota, Thiago Celso Andrade Reges, Maria José Souza da Silva, Adálio Cordeiro
Araújo, Assuero Doca Veronez, Marcello Moniz Mesquita, George Cruijff Sales da
Costa, Ramadan Kalil, Charlom Pereira da Silva, Manoel Machado da Rocha Filho e
Cassio Pereira Gonçalves.
O juiz Romário Divino absolveu dos crimes a que respondiam
até então Ari Palu, Cassius Afonso Regio Nogueira, Carlos Fernando Gomes
Martins, Jamil Kassem Mastub, Lazaro Santos Pessin, Narciso Mendes de Assis e
Paulo Henrique Delfino Nascimento.
O juiz ouviu 47 testemunhas de acusação e 46 de defesa. Ele
considerou contundentes as provas presentes nos autos, como áudio, fotos e
vídeos, que evidenciaram a prática criminosa. O processo, que corre em segredo
de justiça, incluiu 22 pessoas acusadas pela prática dos crimes previstos no
Título VI, da Parte Especial, do Código Penal – "crimes contra a dignidade
sexual".
Trechos de interceptações telefônicas demonstraram que os
agenciadores também se inter-relacionavam, fazendo o intercâmbio de
"garotas de programa", auxiliando-se mutuamente, empregando a mesma
estratégia de aliciamento, oferecendo garotas para a realização de programas
sexuais a clientes comuns e até praticando o tráfico internacional.
As fotos e vídeos mostram que os agenciadores atuavam como
“verdadeiros intermediários, exercendo a função de autênticos cafetões”,
sustentando-se da prostituição, mediante a obtenção de vantagem ou participação
direta nos lucros do preço do serviço sexual realizado pelas garotas
agenciadas.
Boa parte das garotas era menor de idade e eram atraídas
mediante promessas de vantagens econômicas, para realizar programas sexuais com
os denunciados do núcleo de usuários ou consumidores dos serviços sexuais que,
na sua maioria, era constituído por pessoas “pertencentes aos mais elevados
estratos sociais e detentores de elevado poder aquisitivo, como fazendeiros,
empresários, políticos e autoridades.”
Segundo o inquérito policial, foi constituída na cidade uma
extensa e bem organizada rede de prostituição e exploração sexual envolvendo
mulheres maiores e menores de idade que era comandada por sete pessoas,
denunciadas pelo favorecimento da exploração sexual de mulheres maiores de idade
e adolescentes, entre 14 e 18 anos de idade, bem ainda pela conduta de
rufianismo, vez que se sustentavam da prostituição alheia.
Ainda conforme a denúncia apresentada pelo Ministério
Público Estadual, os envolvidos no caso são separados em dois grupos distintos:
os que integravam o chamado "núcleo de agenciadores" da rede de
prostituição e exploração sexual, intermediando e oferecendo garotas por eles
negociadas para fazer programas sexuais com os do núcleo denominado de
"usuários" ou "clientes".
"Referência
extraordinária"
Em julho de 2010, Veronez e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO),
principal voz em defesa dos ruralistas no país, recepecionaram o então
governador Binho Marques (PT), em Rio Branco, durante a inauguração da sede da
Federação da Agricultura do Estado do Acre (Faeac). A solenidade foi
prestigiada pelo ex-governador Jorge Viana (PT), que era candidato ao Senado.
Durante a solenidade, a senadora assistiu a um vídeo sobre o
Acre, produzido Veronez, presidente da Faeac. Ele não conteve a emoção e foi
aplaudida por fazendeiros e antigos companheiros de Marina Silva e Chico
Mendes.
- Imaginem o que seria do verde se todo mundo gostasse do
amarelo. Eu vejo as imagens da boiada do Acre correndo pelos pastos e eu sinto
o meu coração estalar. Eu sinto o peito encher de orgulho e admiração pelo meu
país, pelo que nós conseguimos com essa pecuária maravilhosa, construída pelo
esforço único e exclusivamente dos pecuaristas do Brasil.
A senadora afirmou que Veronez é uma "referência
extraordinária" em meio ambiente, tema que ela considera “importante e
doloroso”.
- Pode existir alguém no país que conheça de meio ambiente
igual ao Assuero. Nunca ninguém mais do que ele. Há 13 anos este homem luta
incansavelmente para ver a legislação ambiental modificada. Quero declarar ao
Acre a gratidão de 5 milhões de produtores rurais a um acreano de coração, que
é o Assuero Doca Veronez.
Nota divulgada pela CNA em dezembro, após a prisão do
pecuarista
"A diretoria da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA) cumpre o dever de informar o afastamento imediato, deste
colegiado, do presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Acre,
Assuero Doca Veronez. Ele permanecerá afastado até que sejam concluídas as
investigações policiais sobre suposta rede de prostituição de menores.
A CNA repudia a exploração sexual de menores e considera
indefensável o envolvimento de qualquer cidadão com a prática de crimes desta
natureza.
Brasília, 2 de novembro de 2012
Assessoria de Comunicação da CNA"
Fonte: Terra Magazine
Nenhum comentário:
Postar um comentário