Sexta-feira. Faltam poucos minutos para a meia-noite. Uma
Doblò estaciona na Rua Aldo Casillo, no Bairro Mangabeiras, Centro-Sul de BH. O
carro para sob a copa de uma árvore, em ponto pouco iluminado pelos postes. Não
é possível discernir a cor do veículo, mas dá para ver o motorista sair sem
camisa e ficar em pé de frente para a porta aberta do passageiro e fazer sexo
com uma mulher.
No bairro predominam residências luxuosas e as ruas são
pouco movimentadas na maior parte da noite, muita gente não teme “praticar ato
obsceno em lugar público”, crime que pode ser punido com multa ou detenção de
três meses a um ano, segundo o artigo 233 do Código Penal. O problema é antigo,
mas moradores relatam que a situação piorou. “As queixas se tornaram mais
frequentes há dois anos”, informou o presidente da Associação dos Moradores do
Bairro Mangabeiras, Marcelo Marinho Franco.
A maioria dos motoristas indiscretos, segundo ele, é cliente
de garotas de programa e travestis que trabalham nas calçadas da Avenida Afonso
Pena, tradicional ponto de prostituição. “Esses indivíduos passam de carro,
pegam aquelas pessoas em exposição ali e levam para o Mangabeiras. Fazem ruas
de motel”, constata. Uma das ruas mais problemáticas é a Aldo Casillo. “É a que
tem mais reclamações. De tempos em tempos, solicitamos à Polícia Militar que dê
prioridade a esse local. Pedimos que uma viatura passe toda noite, com giroflex
ligado e tocando a sirene. E a PM tem nos atendido, na medida das suas
limitações”, disse Franco.
Em uma residência da Aldo Casillo, uma administradora de
empresas de 38 anos mora com o pai, de 73, e a mãe, de 72. “Sempre houve
movimentação grande aqui, mas piorou muito de dois, três anos pra cá. Qualquer
dia tem, mas sexta e sábado é pior. Eles costumam chegar depois das 22h e ficam
na madrugada. Sai um carro, chega outro. No domingo, a gente encontra essa
sujeira”, diz. São preservativos e papel higiênico na calçada. A mãe critica a PM. “Tinha um
casal fazendo sexo aqui em frente. Chamei a polícia, que só conversou com o
pessoal, que se mandou e ficou por isso mesmo”, disse.
Na Comendador Viana, por volta das 23h30 de um sábado, um
Siena estava estacionado atrás de uma caçamba. O “esconderijo” não era
suficiente para omitir o casal que namorava no banco de trás. As ruas
Engenheiro Bady Salum e Paschoal Riccio, no limite com o Parque das
Mangabeiras, estão entre as mais procuradas, segundo o presidente da associação
de moradores. “Sexta, sábado e domingo são os piores dias. Várias ruas sofrem
com esse problema”, diz uma psicóloga de 50 anos. Pouco depois das 23h de uma
sexta, havia um Palio estacionado na Paschoal Riccio, ao lado da Praça Luiz
Otávio Fraga. Apesar de o veículo estar em um ponto escuro, sob uma árvore, a
janela entreaberta deixava perceber o banco reclinado para trás, onde um casal
fazia sexo.
Ao longo da Avenida Afonso Pena, principalmente entre as
avenidas Brasil e Bandeirantes, prostitutas se exibem nas calçadas durante a
noite. Elas ficam em pé, encostadas em postes e placas, sentadas em pontos de
ônibus. Usam roupas diminutas, mas poucas chegam à ousadia de travestis que
mostram os seios, ficam apenas de calcinha. Por volta das 21h30, uma garota trabalhava
no quarteirão entre a Rua Maranhão e a Avenida do Contorno. Segurava uma bolsa,
vestia uma blusa rosa decotada, saia preta justa e curta. Como a maioria das
colegas, encarava com insistência, e às vezes com sorriso insinuante, os homens
que passavam de carro. Sem revelar nome nem idade, contou que trabalha no local
há cinco anos e que é comum fazer sexo no carro do freguês. “A gente vai mais a
motel, mas às vezes é na rua mesmo, depende da vontade do cliente”, explicou.
Ela confirma que o Mangabeiras é um dos endereços preferidos e que já foi
abordada duas vezes pela polícia dentro de carros de clientes. “O policial só
disse que rua não é lugar de fazer isso e a gente foi embora”, relatou.
A presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais,
Cida Vieira, admite que algumas se relacionam com cliente dentro dos veículos:
“O carro é propriedade do condutor, cabe a ele dizer o que pode fazer no carro.
Se é uma coisa rápida, pode ser feita no carro. Quando é mais demorada, elas
pedem para ser em motel”, acrescenta.
Fonte: Estado de Minas
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