O governo do Brasil vai intensificar a campanha de combate
ao tráfico de pessoas, ampliando o serviço de atendimento às denúncias sobre
esse mercado. Para obter resultados, a ministra da Secretaria de Políticas para
as Mulheres, Eleonora Menicucci, faz um apelo, em entrevista à Agência Brasil:
“A primeira coisa a fazer é denunciar e não ter medo. Ser traficada, ser
violentada, não é vergonha para ninguém. Podem ter certeza, o governo
brasileiro está do lado das mulheres e vítimas. O governo não aceita mais conviver
com o tráfico”.
A ministra lembrou que o tráfico envolve não só mulheres,
mas crianças e homossexuais. “Denunciar vale para todos. A pessoa não pode ser
discriminada nem excluída por causa de sua escolha sexual. Falo isso de alma e
coração. O governo não aceita conviver com a homofobia nem com a lesbofobia.
Somos todos brasileiros. É uma diretriz de governo, uma posição e uma
convicção”, ressaltou. A seguir, os principais trechos da entrevista da
ministra:
Agência Brasil – O aumento das discussões sobre o tráfico de
mulheres é provocado pela elevação de casos nos últimos meses?
Eleonora Menicucci – Não. Isso não significa que aumentou,
mas, sim, que o assunto saiu do esconderijo e só sai de baixo do tapete quando
há um governo determinado a resolver a questão. A presidenta Dilma Rousseff é
obcecada pelo tema do enfrentamento à violência e ao tráfico de pessoas e por
isso há uma política de governo neste sentido. No que se refere ao tráfico de
pessoas, historicamente as crianças e as mulheres são as principais vítimas.
Agência Brasil – Há uma razão para que mulheres e crianças
sejam as principais vítimas do tráfico de pessoas?
Eleonora Menicucci – As crianças, porque indefesas, e as
mulheres porque ainda predomina o sistema do patriarcado, no qual elas são
traficadas para fins de negócios e de mercado. As mulheres são objeto de
negócios, no caso, do [mercado de] sexo. O que não tem relação alguma com
prostituição, é preciso fazer essa distinção.
Agência Brasil – Qual a diferença entre tráfico de pessoas
para fins de exploração sexual e prostituição?
Eleonora Menicucci – A mulher quando é traficada, o objetivo
é que outros ganhem dinheiro [à custa dela]. Isso é crime. A prostituição, a
pessoa faz programas sexuais para viver – ou não, mas de alguma maneira é [uma
iniciativa] espontânea.
Agência Brasil – Há mais de um ano participando da campanha
de combate ao tráfico de pessoas, o que a senhora recomenda para as famílias
das vítimas e até mesmo para quem foi aliciado?
Eleonora Menicucci – Antes de tudo, a primeira coisa é
denunciar e não ter medo. Ser traficada, ser violentada não é vergonha para
ninguém. Podem ter certeza, o governo brasileiro está do lado das mulheres e
vítimas. O governo não aceita mais conviver com o tráfico. Quem fazia isso
[traficar pessoas] era a escravidão. Estamos empenhados em acabar com os
resquícios da escravidão.
Agência Brasil – Homossexuais e transexuais também são
vítimas das redes de tráfico de pessoas. O governo observa isso?
Eleonora Menicucci – Denunciar vale para todos. A pessoa não
pode ser discriminada nem excluída por causa de sua escolha sexual. Falo isso
de alma e coração. O governo não aceita conviver com a homofobia nem com a
lesbofobia. Somos todos brasileiros. É uma diretriz de governo, uma posição e
uma convicção.
Agência Brasil – O governo concentrou-se no combate às redes
de tráfico de pessoas em Portugal, na Espanha e na Itália. Há pretensões de
ampliar a campanha para outros países?
Eleonora Menicucci – Sim. Queremos ampliar ainda este
ano.Vários acertos estão sendo feitos. Mas é um processo. Esses países
[Portugal, Espanha e Itália] foram escolhidos devido à facilidade de tráfico
existente nessas regiões. Além disso, a crise econômica [internacional] acabou
aumentando a ação dos traficantes e o idioma [próximo ao português falado no
Brasil] também ajuda. Mas há também casos [em investigação] em El Salvador, na
França, em Luxemburgo e na Suíça.
Agência Brasil – Para a senhora, a atuação da CPI do Tráfico
de Pessoas vai colaborar com a campanha nacional?
Eleonora Menicucci – Acho extraordinário [o trabalho] da
CPI. É uma proposta que vem somar ao enfrentamento ao tráfico de pessoas. Sem
dúvida, agrega e sensibiliza a atuação do Congresso.
Agência Brasil – O tráfico existe de uma forma geral, então?
Eleonora Menicucci – O tráfico existe dentro do próprio
país. No Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste, no Nordeste e no Norte. Outro dia
desbarataram uma casa em São Paulo e foram encontradas meninas de 12 anos.
Agência Brasil – O traficante tem um perfil?
Eleonora Menicucci – Os envolvidos com o tráfico são pessoas
do círculo de conhecimento da vítima, que vigiam a rotina dela. Em geral, os
traficantes fiscalizam e acompanham a rotina da vítima, depois partem para o
assédio. Em Salamanca [Espanha], por exemplo, eles observavam a rotina das
mulheres na academia de ginástica. Mas também é bastante frequente fazer isso
em bares.
Agência Brasil – A estratégia de assédio é, em geral, a
mesma?
Eleonora Menicucci – As mulheres são seduzidas com a
promessa de uma vida melhor, de trabalho com carteira assinada e de forma mais
digna. [Em geral], são mulheres pobres, mas há também casos de classe média.
Todas têm sonhos de melhorar de vida. Não quer dizer que só as mulheres pobres
são vulneráveis. São mulheres bonitas, jovens e promissoras.
Agência Brasil – Quando desembarcam no país prometido, a
realidade é totalmente diferente da informada nos primeiros contatos...
Eleonora Menicucci – As mulheres ganham as passagens e as
promessas são as mais variadas. Quando chegam [ao país prometido], os
documentos são retirados e são informadas que têm dívidas. Houve uma jovem que
a dívida dela era de mais de 5 mil euros [mais de R$15 mil]. [Essas mulheres] são
confinadas em condições desumanas e sem alimentação. As quadrilhas as mantêm em
lugares do tipo boate e não saem para nada. [Também] são obrigadas a ter
relação [sexual] o tempo todo.
Fonte: Agência Brasil
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